Em 2020, a B2W, dona das marcas Submarino, Americanas.com e Shoptime, cresceu de forma acelerada. A receita líquida avançou 52%, para R$ 10,1 bilhões e o GMV (sigla gross merchandise volume, o total que foi movimentado no site, incluído o marketplace) saltou 47,6%, para R$ 27,7 bilhões. A geração de caixa foi positiva pelo segundo ano consecutivo e fechou o ano em R$ 306 milhões, alta de 61%.

São números que fariam qualquer investidor ficar feliz, certo? Não é o caso daqueles que investem na B2W. Apesar desse crescimento, impulsionado pela migração do consumidor para compras online, a companhia está avançando menos que seus competidores. Em especial, o Mercado Livre e o Magazine Luiza.

No terceiro trimestre de 2020, a B2W perdeu o segundo lugar no comércio eletrônico para o Magazine Luiza. Os dados dos três últimos meses do ano passado mostram que a companhia segue crescendo menos do que o mercado livre, que avançou 84%. O Magazine Luiza ainda não divulgou seus dados.

Por conta disso, a B2W, que está perto de realizar uma fusão com a Lojas Americanas, deu uma mensagem ao mercado que vai acelerar o seu crescimento em 2021. “Enxergamos a oportunidade de crescer mais, quando olhamos para outros players”, disse Marcio Cruz, CEO da B2W, durante teleconferência com analistas de mercado, nesta sexta-feira, 5 de março. “Queremos crescer acima da média dos top players e começamos a endereçar esse ponto.”

Durante a apresentação, a B2W mostrou dados que mostram que esse crescimento de 2021 já está acelerado. O GMV do mês de janeiro foi 83% acima do mesmo período do ano passado. Em fevereiro, a alta foi de 90%. Sem dar detalhes, a empresa informou que esse avanço acontece principalmente no marketplace.

Mas, ao mesmo tempo que sinalizou que quer crescer de forma mais acelerada, a B2W preocupou os analistas que questionaram a empresa se esse avanço não significava comprometer as margens. “O crescimento é mais acelerado, mas é sustentável. Os dois primeiros meses de 2021 mostram que estamos no caminho certo”, afirmou Cruz.

O diretor de relações com investidores, Raoni Lapagesse, complementou: “Queremos calibrar o crescimento com rentabilidade”, disse ele. “Sempre mantendo o compromisso de geração de caixa. Quando se olha para 2021, vamos gerar caixa.”

No começo deste ano, a B2W começou a oferecer frete grátis para compras acima de R$ 100. A companhia reduziu ainda a taxa para o lojista do seu marketplace. O programa de fidelidade Americanas Mais passou também a ser gratuito a toda a base de clientes e se expandiu para todo território brasileiro – antes era focado nas regiões Sul e Sudeste.

Além do frete grátis, o Americanas Mais irá oferecer mais benefícios, como streaming e conteúdo, ficando mais parecido com o Amazon Prime, da Amazon, que, por R$ 9,90, oferece frete grátis e acesso aos serviços de streaming de vídeo e música da companhia, entre outros benefícios.

Outro item da estratégia de crescimento é aumentar a recorrência das compras. A categoria de supermercados é essencial. Inaugurada no ano passado, a partir da compra do Supermercados Now, ela já é a maior categoria da B2W em número de itens vendidos.

Nos planos da companhia estão também aumentar a participação em delivery de comida, como também de farmácias e de lojas de conveniência. “Observamos uma série de oportunidades em tudo o que é relacionado a alta frequência”, afirmou Lapagesse.

Essas movimentações da B2W acontecem na sequência de uma possível fusão entre B2W e Lojas Americanas. As duas empresas têm os mesmos controladores – Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.

Apesar de trabalharem de forma integrada em algumas áreas, como a de logística, as duas empresas ficaram para trás quando comparadas aos seus dos principais rivais. O Magazine Luiza, por exemplo, já trabalha o online e o offline de forma integrada desde os anos 2000.

Durante a teleconferência de resultados, a questão da fusão não foi abordada. As duas companhias comunicaram ao mercado, em 19 de fevereiro, que um comitê independente foi criado para avaliar a fusão.

Um desenho possível é a B2W incorporar a Lojas Americanas e se aproveitar de créditos fiscais por conta de seus prejuízos bilionários – a companhia está no vermelho desde 2010 e já acumulou, neste período, mais de R$ 3 bilhões de prejuízo. Não foi diferente em 2020: perdas de R$ 204 milhões.

As ações da B2W caíam 3,2% por volta das 15 horas na B3. No ano, elas se desvalorizam 3,8%. O valor de mercado da companhia é de R$ 40 bilhões. O Magazine Luiza vale R$ 157,1 bilhões e o mercado livre, negociado na Nasdaq, é avaliado em US$ 71 bilhões.