De 2001 a 2004, Elisson Osorio trabalhou no Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, no Hospital do Câncer, em São Paulo. Na época, ele pesquisava expressão gênica em tecidos tumorais usando big data e teve artigos publicados em revistas científicas, como a PNAS, publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

Mas, de forma informal, Osorio desenvolveu um sistema para casas noturnas com reconhecimento facial dos consumidores, o que seria a origem da Oz Technology, dona de uma plataforma de gestão para bares e restaurantes.

Pode-se dizer que a Oz existe desde 2004 e foi evoluindo pouco a pouco. E que Osorio trocou a promissora carreira de "cientista" para se tornar um desenvolvedor de software e empreendedor.

O primeiro grande lance como empreendedor aconteceu onze anos depois, quando ele se uniu a ViApp, um aplicativo que servia de guia noturno e vendia ingressos para baladas fundado pelo mexicano Daniel Silva.

Mas o momento mais dramático foi vivido em fevereiro de 2020, quando a pandemia do coronavírus começava a assustar o mundo. E os dotes "científicos" ajudaram a Osorio prever que o novo vírus iria entrar no Brasil e paralisar tudo.

Foi então que ele se reuniu com Silva, seu sócio na Oz, e resolveu agir de forma preventiva, oferecendo descontos aos seus mais de 600 clientes na época. As ofertas iam de descontos que variavam de 50% até 90%.

“Os clientes não acreditam no que eu estava dizendo, mas ficavam felizes com os descontos”, diz Osório, ao NeoFeed. “Foi bom para eles e para nós, que não perdemos todos os clientes.”

Mesmo assim, a pandemia fez um estrago enorme na Oz. A base de clientes encolheu 70% e o faturamento 90%. O número de funcionários da empresa também saiu de 35 para oito – incluindo Osório e Silva, os dois sócios do negócio.

Agora, com a retomada da economia, a Oz está levantando uma rodada seed de R$ 7,5 milhões com a ABSeed para voltar a escalar novamente. “Eles chegaram até aqui bootstrap e são lucrativos. É o tipo de empreendedores que gostamos de investir”, afirma Geraldo Melzer, sócio da ABSeed.

A Oz é dona de uma plataforma que vai do PDV, passa por um sistema de gestão, conta com diversas ferramentas de autoatendimento, como totens e cardápio digital, e tem até um programa de fidelidade para bares e restaurantes.

Daniel Silva, cofundador da Oz

Pela plataforma da empresa já foram atendidos 15,9 milhões de clientes, 59,4 milhões de produtos foram vendidos e R$ 1,5 bilhão de faturamento, transacionado. Atualmente, a empresa conta com mais de 400 clientes ativos em 16 Estados e mais de 60 cidades. “Devemos chegar ao fim deste ano no mesmo tamanho de antes da pandemia”, afirma Daniel Silva, que cuida das operações do negócio.

Com os recursos da ABSeed, a Oz vai investir em um programa de franquias, algo estratégico para a expansão da companhia nos próximos anos. Explica-se: apesar de ter um modelo de receita baseado em SaaS (software as a service), a Oz desenvolveu uma estratégia de parceiros comerciais que acompanham os clientes ao longo do uso da plataforma.

Não se trata de uma estratégia inédita. Algumas empresas que atuam com SaaS usam canais para vender sua solução. Dois exemplos são a Omie, dona de um software de gestão na nuvem, e a RD Station, que atua em marketing digital e foi comprada pela Totvs, no ano passado.

Atualmente, a empresa conta com 15 revendedores, que atuam como se fossem franquias. A meta é chegar a 60 até o fim deste ano. São três os perfis de canais. O primeiro só instala os PDVs. O segundo, além da instalação, cuida da infraestrutura tecnológica. E, por fim, há uma consultoria mais especializada, que cuida da cozinha até a parte financeira.

Nos três casos, os canais ganham comissões pela venda e seguem recebendo um fee por conta da mensalidade paga pelos bares e restaurantes. Os valores começam em R$ 199,00 e vão aumentando conforme os serviços contratos e os itens transacionados.

O setor de bares e restaurantes deve faturar R$ 300 bilhões em 2022, de acordo com estimativas da Abrasel, a associação que representa o segmento, superando a receita de 2019. Apesar da receita bilionária, esse é um setor altamente fragmentado e pouco informatizado.

Os principais concorrentes da Oz são grandes empresas de tecnologia, como NCR (dona da plataforma Colibri), Totvs e Linx. Startups também estão tentando ganhar espaço em bares e restaurantes.

Uma delas é Zak, dona de uma plataforma que combina sistema de gestão e de pagamentos para restaurantes, que captou R$ 80 milhões, em novembro do ano passado, em rodada liderada pela Tiger Global.

Neste ano, mesmo com a reabertura da economia, as coisas não deram muito certo para a startup, que teve de demitir 40% de seus funcionários. Além disso, ela foi resgatada pela Tiger Global, que fez um novo aporte de valor não divulgado, mas com um valuation inferior ao da rodada anterior.