Startup brasileira dona de uma plataforma que combina sistemas de gestão e de pagamentos para restaurantes, a ZAK é um entre tantos exemplos da liquidez que alimentava, até pouco tempo, o vasto menu de investimentos da indústria de venture capital no Brasil.

Fundada em 2018 e em operação, de fato, desde abril de 2021, a empresa captou mais de R$ 90 milhões em três rodadas junto a investidores. A última delas, de R$ 80 milhões, em novembro de 2021, foi liderada pelo Tiger Global e embalou os planos de escalada da operação, inclusive, na América Latina, no médio prazo.

Agora, a ZAK está fazendo uma novo aporte liderado pelo Tiger Global, que vem com um preço muito alto.  “Acabamos de levantar uma rodada, mas com um valuation menor”, afirma Andres Andrade, cofundador e co-CEO da ZAK, ao NeoFeed, sem revelar, porém, o valor do aporte. “Os múltiplos estão refletindo o que o investidor deseja pagar agora.”

Questionado sobre mais detalhes, ele diz apenas que o aporte estava previsto e que boa parte dos investidores da ZAK acompanhou a rodada. A lista de quem já apostava na startup inclui fundos como Base 10, Valor Capital, Monashees e Canary, além de nomes como David Vélez (Nubank) e José Galló (Renner).

Conforme um profissional do mercado a par das negociações, ouvido pelo NeoFeed, a ZAK buscava recursos em um momento crítico da operação. Na última hora, um investidor retirou o term sheet e a saída foi o resgate da Tiger Global, que topou fazer um novo aporte, mas com um valuation menor.

No mercado, isso se chama down round e tem uma série de implicações à startup e, principalmente, ao empreendedor. Os contratos de venture capital têm clausulas que garantem que os fundos não serão diluídos quando o valor da startup cai. Quem perde participação, no caso, são os donos do negócio.

Por esse motivo, em meio ao inverno do venture capital, em que os aportes ficaram mais escassos, muitas startups estão postergando buscar mais capital e preferindo demitir, em vez de sofrer uma diluição.

Essa foi uma das estratégias usadas pela ZAK para ganhar fôlego e tentar passar por essa fase sem a necessidade de capital. Em maio, a empresa chegou a demitir cerca de 100 profissionais, ou 40% do seu quadro na época, mas a medida, como demonstra o novo aporte, não foi suficiente.

Andrade não confirma todos esses pormenores, mas ressalta que, sim, a rodada era essencial para a ZAK seguir operando e que houve dificuldade para trazer novos nomes ao cap table da empresa.

“Nós falamos com diversos fundos, mas, com a piora do cenário macroeconômico, as conversas acabaram não evoluindo com ninguém”, observa. “O fato é que o negócio tem potencial e existe realmente uma necessidade no mercado, mas tivemos um reajuste nos múltiplos para contemplar essa nova realidade.”

Fazer mais com menos

Além do cheque menos polpudo, esse novo contexto se reflete em algumas mudanças no foco da empresa, que tem como uma de suas referências a Toast, startup americana que tem a Tiger Global entre seus acionistas e que abriu capital em setembro de 2021. Na época, a companhia foi avaliada em US$ 20 bilhões. Hoje, seu valor de mercado está em US$ 10 bilhões.

Na prática, o modelo “tropicalizado” da ZAK envolve um portfólio que automatiza a gestão dos restaurantes, tanto em canais como delivery como nas lojas físicas. O leque de sistemas compreende frentes como catálogos, pedidos e estoques, além de integrar sistemas relacionados à logística e pagamentos.

A startup também tem licença para atuar como subadquirente e conta com um braço de fintech, por meio do qual é remunerada pelas taxas de transações que processa e pelas antecipações de recebíveis ofertadas aos restaurantes incluídos na sua carteira.

Uma das principais mudanças de rumo da ZAK está ligada justamente a essa base de clientes. Antes voltada a atender tanto restaurantes de pequeno porte como grandes redes, a empresa está descontinuando a oferta para esse último perfil e concentrando seus esforços em estabelecimentos menores.

“Nós percebemos que não estávamos fazendo a diferença nos grandes clientes, pois eles não usam toda a nossa plataforma”, explica Andrade. “E decidimos focar exclusivamente no restaurante pequeno que é quem se beneficia, de fato de tudo o que oferecemos, especialmente com a questão da adquirência.”

Atualmente, a ZAK atende cerca de 400 clientes, sendo que boa parte está na faixa que agora é a prioridade para a empresa. No recorte estabelecido pela startup, esses estabelecimentos faturam mensalmente entre R$ 100 mil e R$ 200 mil.

Da mesma forma, a companhia está restringindo, ao menos no curto prazo, sua operação a São Paulo capital, que concentra cerca de 80% da sua carteira. Quando o anunciou o aporte em novembro de 2021, a ZAK tinha planos de chegar a praças como Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Belo Horizonte.

“Antes de crescer geograficamente, precisamos ter a operação bem redonda e deixar todos os nossos processos muito bem alinhados”, diz Andrade. Assim como o perfil de cliente atendido e o foco da expansão, o destino da nova captação também será mais restrito.

Para aprimorar e escalar sua oferta junto aos restaurantes de menor porte, a maior parte dos recursos deve ser aplicada em tecnologia e, em particular, na automatização de processos que hoje são feitos manualmente. Nessa direção, um dos planos é municiar a equipe de vendas com novas ferramentas.

O plano vai ao encontro das demissões anunciadas em maio, dado que os cortes alcançaram, em sua maioria, as áreas de vendas, marketing e operações. Em contrapartida, boa parte da equipe de tecnologia foi preservada. Hoje, no total, o quadro da ZAK conta com 90 funcionários.

“O grande objetivo do aporte é nos levar ao break even e, para isso, um dos caminhos é melhorar a eficiência e a produtividade”, diz. “Hoje, como para a maioria das empresas, não existe mais crescimento a qualquer custo. Os investidores estão pedindo mais disciplina e precisamos fazer mais com menos.”