Fundada, sem alarde, por ex-executivos do Nubank e da Mapfre, em outubro de 2020, a 180⁰ Seguros nasceu com o plano de desenvolver uma plataforma para conectar seguradoras, empresas de diversos segmentos e seus consumidores.

Em fase final de gestação, a insurtech está prestes a chegar ao mercado. Mas antes mesmo de fazer sua estreia oficial, já atraiu o interesse de investidores. A startup anuncia nesta quarta-feira um aporte seed de R$ 44 milhões, liderado pelos fundos Canary, Dragoneer e Rainfall, esses dois últimos, americanos.

A rodada tem ainda a participação dos fundos Quartz (de José Galló, ex-CEO da Renner), 8VC e Norte, além de executivos do Nubank e do mercado de seguros, cujos nomes não foram revelados.

“Quando saí do Nubank, comecei a conversar com os fundos que conhecia”, conta Mauro Levi D’Ancona, cofundador e CEO da 180⁰ Seguros, ao NeoFeed. “Disse que ia empreender na área de seguros e perguntei se alguém gostaria de marcar um call. Todos quiseram.”

Os quatro anos no Nubank ajudaram a encurtar o caminho até os investidores. Na fintech fundada por David Vélez, avaliada hoje em US$ 25 bilhões, D’Ancona trabalhou justamente na área de investimentos e captação de recursos.

Na jornada para concretizar a ideia da 180⁰ Seguros, o agora empreendedor teve a companhia de Franco Lamping, que também integrava o time da Nubank, como engenheiro de software, e de Alex Körner, que tem no currículo passagens pela Mapfre e pela área de seguros do Santander.

O modelo desenhado pelo trio parte de uma abordagem B2B2C (business-to-business-to-consumer). A ideia é fazer a ponte entre as seguradoras e empresas que vendem bens ou serviços, por exemplo, uma montadora.

Nesse formato, a insurtech participa de todos os momentos da negociação: faz a prospecção de novos clientes, estabelece a conexão com as seguradoras, participa ativamente do desenvolvimento dos seguros, oferece a plataforma tecnológica e ainda faz a gestão da operação quando ela é lançada.

No desenvolvimento dos produtos, a startup busca um seguro que possa ser contratado no momento da compra. "É o que chamamos de embedded insurance, ou seja, o seguro está integrado na jornada de compra do cliente", diz D’Ancona.

O plano da 180⁰ Seguros é oferecer tanto soluções white label quanto produtos com a sua própria marca. A startup trabalha com um modelo de negócios que chama de "fee do sucesso", no qual recebe uma comissão por cada seguro vendido.

Os fundadores da 180º Seguros: Franco Lamping (à esq.), Mauro Levi D'Ancona e Alex Körner

No cronograma traçado, os primeiros produtos da startup devem começar a chegar ao mercado nas próximas semanas. Embora ainda não revele os nomes dessa carteira de clientes, D’Ancona afirma que a empresa já tem projetos com 20 companhias dos setores imobiliário, financeiro e varejista.

Ele também enxerga boas oportunidades no varejo e entre adquirentes. "O microempreendedor que usa uma maquininha pode contratar um seguro de acidentes pessoais, por exemplo”, explica. “Se ficar sem trabalhar, a indenização paga uma média de quanto ele faturou nos últimos dias", diz.

Enquanto prepara sua estreia, a insurtech já tem o destino definido do aporte. Os recursos serão usados principalmente na expansão do time. Com uma equipe de 25 pessoas, a startup tem contratado cerca de seis funcionários por mês, especialmente em áreas como engenharia da informação.

Mercado regulado

O potencial do mercado de seguros é enorme. Um levantamento feito pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) aponta que o setor movimentou R$ 274,11 bilhões, 0,6% acima do registrado em 2019. O ecossistema de inovação nessa área, no entanto, começou a avançar mais recentemente.

Um levantamento específico sobre insurtechs feito pelo hub de inovação Distrito, em 2020, identificou 113 startups desenvolvendo soluções para o mercado de seguros. Para efeito de comparação, outro mapeamento do Distrito, também de 2020, mapeou 742 fintechs no País.

“O mercado de seguros ainda é muito regulado”, afirma Renato Valente, sócio da Iporanga Ventures. Ele destaca, porém, que a Susep tem se mostrado mais flexível. "Com o avanço da tecnologia, não dá mais para segurar. E a transformação é boa para as empresas e para o cliente final.”

Entre outros exemplos, a leva de insurtechs que já estão ganhando tração inclui marketplaces como a Ô Insurance e nomes como a Youse, da Caixa Seguradora, que trabalha com apólices digitais e personalizadas.

"O mercado de seguros estava bastante acomodado, mas está sendo sacudido pelas startups", diz Leonardo Trevisan, professor da ESPM. Em sua visão, a própria Susep precisará passar por uma atualização para acomodar os novos modelos de negócios. "Vamos ver uma destruição criativa, sem dúvida nenhuma, mas será uma renovação interessante.”