A RBS Ventures, gestora do grupo RBS, está investindo na Warren, corretora com mais de R$ 22 bilhões sob gestão, em um negócio na modalidade de “media for equity”. O aporte conta também com a participação da Nexpon, braço de investimento da NSC Comunicação, de Santa Catarina.

A Warren, que tem em sua base de acionistas fundos de porte como Kaszek, Ribbit Capital e GIC (Fundo Soberano de Cingapura), abriu espaço para a RBS Ventures e para a Nexpon porque quer crescer na região Sul, onde estão as propriedades de mídia dos dois investidores, que são donos de redes de TV (são afiliadas da Rede Globo), jornais, rádios e sites de internet na região.

“Foi uma conversa longa, de mais de um ano”, diz Mauricio Sirotsky Neto, cofundador da RBS Ventures e membro do conselho de gestão do Grupo RBS, em entrevista ao NeoFeed. “Eles contam com um negócio escalável, têm a ambição de mudar a forma que a indústria atua, um time bom e sócios que conhecemos na pessoa física.”

O aporte, cujo valor não foi revelado, será usado em mídia nos dois grupos no período de 18 meses. A expectativa é gerar mais de 260 milhões de impactos, ampliando o alcance da Warren no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

O investimento acontece em um momento em que uma nova regulação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai exigir mais transparência à remuneração das assessorias de investimento, que é baseada na comissão ou no fee based.

A Warren, que foi fundada por Tito Gusmão, Marcelo Maisonnave, André Gusmão, Rodrigo Grundig, Kelly Gusmão, Pedro Englert e Eduardo Glitz, sempre atuou no modelo fee based, em que a remuneração vem de uma taxa anual a ser cobrada em cima do montante sob gestão ou consultado.

Esse é o sétimo investimento da RBS Ventures, fundada em 2022 e que tem apostado na modalidade de “media for equity”. Nessa estratégia, a gestora, que está ligada a uma empresa de comunicação, faz um investimento em uma startup, que, em troca, usa os recursos para investir nas propriedades de mídia do grupo.

A RBS Ventures, que usa capital do balanço do grupo RBS, já investiu na Salute, uma rede de clínicas para atender a população que não tem plano de saúde; na Kravi, de portaria remota; e na Doji, que conta com um marketplace para compra e venda de smartphone usado.

“Nesse caso, a lógica é a da diversificação e de participação em negócios que não têm relação com mídia”, afirma Sirotsky Neto. “A nossa moeda principal é a mídia, mas, às vezes, fazemos cheques mistos que envolvem mídia e dinheiro.”

Outros três investimentos fazem parte, de acordo com Sirotsky Neto, do que ele chama de “mundo RBS”, negócios que têm alguma ligação com o grupo de comunicação. Nesse caso, os investimentos não são feitos via mídia.

Fazem parte do portfólio do “mundo RBS” a Player1, focada na comunidade de games e e-sports; a Ventures Estádios, que atua com publicidade, marketing de experiência e patrocínio das arenas dos times de futebol do Grêmio e do Internacional; e a Pulso.Creators, de marketing de influência.

O alvo da RBS Ventures são companhias B2C, mas que estejam no breakeven ou enxergando o equilíbrio financeiro. “Não gosto de escrever em pedra, mas o nosso sweet spot são empresas entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões de receita”, afirma Sirotsky Neto. “São negócios que já passaram a rebentação e já fizeram muita mídia digital. E o próximo passo é a mídia massiva.”

De acordo com Sirotsky Neto, apesar de o alvo ser, em geral, empresas B2C, que precisam se comunicar com uma base grande de consumidores, a gestora negocia dois novos aportes até o fim do ano em startups B2B, da área de SaaS (software as a service), mas que atuam no grande varejo.

Ao investir, a RBS Ventures acaba se tornando uma espécie de braço de marketing e de publicidade da startup, pois ajuda a empresa a desenvolver seu plano de mídia. A companhia conta uma mesa de performance, que atende as investidas da gestora, para conseguir o melhor desempenho das campanhas.

“Temos reuniões quinzenas com as empresas investidas para fazer os ajustes das campanhas”, afirma Sirotsky Neto. “É quase como um comitê de comunicação.”

Brasil emerge em “media for equity”

A “media for equity” é uma modalidade recente de investimento. Começou na década de 2010 e está mais avançada em países europeus, como Reino Unido, Suécia e a Alemanha.

Em 2023, aconteceram 72 deals de "media for equity" ao redor do mundo, uma queda de 12% em comparação ao ano anterior, segundo a MFG Deal Hub, uma base de dados que monitora acordos.

Neste relatório, a MFG Deal Hub colocou o Brasil como uma potência emergente nessa área. No ano passado, o Brasil se tornou o terceiro país com mais negócios nessa modalidade, com nove aportes. Está atrás apenas do Reino Unido (17 deals) e Suécia (11 ). A Alemanha, uma das pioneiras em "media for equity", teve apenas cinco negócios no ano passado.

No Brasil, a Globo Ventures foi uma das primeiras a apostar na estratégia de "media for equity". A gestora da família Marinho, dona da Rede Globo, já faz esse tipo de investimento há algum tempo. O portfólio inclui Petlove, Rappi, Stone e QuintoAndar.  Mais recentemente, veio a público a posição de menos de 1% que a Globo Ventures tem no Nubank, como revelou com exclusividade o NeoFeed.

Outro player desse universo é a 4Equity, fundada por David Halaban, Eduardo Loureiro, Felipe Hatab e Renato Mendes. Ao contrário de RBS Ventures e Globo Ventures, a 4Equity não é dona de um grupo e comunicação e tem acordos com empresas de mídia.

A gestora dispõe de um inventário avaliado em R$ 500 milhões para investir. A 4Equity já fez aportes em nove startups, como Shopper, Daki, QuintoAndar e Cannect.