Quando surgiu em 2021, a Daki apostou em um modelo de entregas rápidas em 15 minutos. Criada por Rafael Vasto, Rodrigo Maroja e Alex Bretzner, a startup conseguiu levantar rapidamente US$ 430 milhões com investidores privados e em 10 meses havia se tornado um unicórnio.
O que atraía os investidores era o plano de usar a agilidade das dark stores para expandir geograficamente e abocanhar parte do mercado de gigantes como Rappi e iFood. Mas a dura realidade do segmento no País se impôs. E, em menos de um ano, a Daki precisou ajustar seu roteiro.
Agora, a Daki está trocando a necessidade de estar em mais praças no Brasil pela capacidade de atender mais gente ao redor das suas lojas. Isso é o que a companhia poderá ganhar com a estratégia de oferecer novas modalidades de entrega para as compras realizadas em sua plataforma.
Em vez de permitir apenas a entrega em 15 minutos, a companhia deve lançar nos próximos meses opções com prazos maiores. “Quem entrega em 15 minutos também pode entregar em 30 minutos ou 1 hora”, diz Rafael Vasto, CEO e cofundador da Daki ao NeoFeed. “Existem clientes que não têm a necessidade da entrega naquele tempo.”
Quando fizer isso, a Daki terá a possibilidade de atender consumidores que estão mais distantes de suas lojas. A Daki não informa em seu site oficial a distância máxima percorrida pelos entregadores atualmente, mas estima-se que o trajeto não seja maior do que 5 quilômetros.
Em serviços concorrentes, como o Rappi e o iFood, os entregadores geralmente percorrem distâncias máximas de 3 a 5 quilômetros – tanto para entregas de compras como para refeições. Rotas mais curtas podem ser feitas por bicicletas, enquanto os outros trajetos necessitam de motos.
Ainda não há uma previsão de quando as novas modalidades de entrega serão incorporadas à plataforma. O que se sabe por ora é que as entregas continuarão sendo feitas por bicicletas e motocicletas e não há previsão para incorporar novos veículos, com capacidade maior de carga, à operação.
Oficialmente, a Daki diz apenas que “está constantemente avaliando o mercado e estudando novas maneiras de melhorar a experiência do consumidor em sua plataforma por meio de diversas métricas próprias” e que não há nada “100% definido”.
A Daki sentiu as dificuldades de uma novata ao entrar em um mercado dominado pelo iFood, que nos últimos anos expandiu sua plataforma para ir além dos bares e restaurantes e fazer entregas de supermercados, farmácias e outros estabelecimentos comerciais.
De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, (Abrasel), o serviço detém 80% de market share. O Rappi e outras empresas de delivery entraram com representações no Cade reclamando sobre as barreiras para a livre concorrência. Sem resultados consistentes, a UberEats deixou o Brasil.
Para sobreviver nesse competitivo – e restrito – mercado de entregas, a Daki teve que mexer no seu projeto original. “Quando a gente fechou o último round, uma das pautas era a expansão”, afirma Vasto. “Mas foi preciso fazer um replanejamento para buscar lucratividade.”
Na época em que se transformou em unicórnio, ainda no fim de 2021, quando investidores como Tiger Global, Kaszek, Monashees, entre outros, aportaram US$ 260 milhões após a companhia já ter recebido US$ 170 milhões meses antes, o plano de expansão era agressivo.
Em pauta, a companhia planejava aumentar o número de dark stores de 60 para 150 e explorar outras regiões além do Sudeste. No último ano, o número de lojas até chegou a aumentar para próximo de 80, mas a companhia agora afirma ter apenas pouco mais de 60 unidades localizadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Mesmo sem o crescimento geográfico, a Daki afirma ter aumentado sua receita em cinco vezes – embora não apresente números para comprovar. A previsão para que a companhia atinja o breakeven, de acordo com Vasto, é para o começo de 2024.
A busca por lucratividade é um plano conjunto da Daki com a Jokr, marca americana que se fundiu com a brasileira e está presente em mercados como México, Colômbia e Peru. Nos últimos meses, a companhia encerrou seus negócios no Chile e nos Estados Unidos.
Em setembro, o The Information revelou que a Jokr estava tendo perdas de US$ 10 milhões por mês com sua operação. Para ajudar a sanar as dívidas, um dos planos era buscar um novo aporte de US$ 50 milhões, o que avaliaria a companhia em US$ 1,3 bilhão.
Além de Rappi e iFood, que nos últimos anos incorporaram seções de supermercado dentro de suas aplicações, a Daki compete também contra serviços como a Shopper, a plataforma de supermercado online fundada em 2015 e que chegou a levantar R$ 290 milhões com investidores durante 2021; a Cornershop, da Uber, e marketplaces como o Magazine Luiza. Para a Daki marcar território, será preciso frear o avanço desses concorrentes de peso.