Há alguns anos, uma leva de startups, até pouco tempo desconhecidas, tem desafiado os modelos de empresas estabelecidas e colocado em xeque as premissas de muitos segmentos da economia. Dos transportes ao varejo e do entretenimento à hotelaria.

O mercado de análises de investimentos é uma das fronteiras mais recentes dessa escalada. Novatas como a SmartKarma, de Cingapura, e as britânicas RSRCHXchange e Research Pool, são algumas das expoentes dessa onda que propõe uma nova abordagem para o setor.

Sob os preceitos da nova economia e a inspiração dessas companhias, essa vertente está chegando ao mercado brasileiro de investimentos. Veterano do setor, com mais de 25 anos de experiência e passagens por Credit Suisse e Barclays, Roberto Attuch Jr. prepara o lançamento da Omninvest.

Ele revelou com exclusividade ao NeoFeed que a plataforma entrará no ar na próxima segunda-feira, 1 de junho, primeiro para convidados conhecerem o produto. “Somos um marketplace, uma espécie de Netflix de analistas seniores”, diz Attuch Jr, sobre o seu modelo de negócios. “Queremos reunir gente com cabelo branco, que já passou pelo mercado em outros ciclos e que pode se dar o luxo de escrever o que quiser, quando quiser e com independência.”

No Brasil, onde a maioria das casas de análise estão ligadas a bancos, corretoras ou plataformas de investimentos, isso pode se tornar um poderoso diferencial. Afinal, a ligação umbilical de casas de análises com instituições financeiras, em muitos casos, gera conflito de interesses.

No modelo da Omninvest, o time de analistas contribuirá com a cobertura de segmentos como renda variável, renda fixa, macroeconomia, ações, empresas, fundos e commodities. A plataforma também terá conteúdo “próprio”, gerado por Attuch Jr., seu CEO e fundador.

A Omninvest, afirma Attuch Jr., vai fornecer a infraestrutura e o acesso a dados financeiros para que essa equipe faça o seu trabalho, inclusive, remotamente. Cada analista será remunerado de acordo com métricas como a avaliação dos clientes, número de acessos aos relatórios gerados e a colaboração com outros colegas.

A receita virá de duas frentes. Na primeira, os clientes escolherão entre dois planos de assinatura, com preços ainda não definidos, que darão acessos diferenciados ao conteúdo produzido. O segundo é um serviço premium, com relatórios sob medida e que pode incluir conference calls e reuniões presenciais.

“Queremos reunir gente com cabelo branco, que já passou pelo mercado em outros ciclos e que pode se dar ao luxo de escrever o que quiser, quando quiser e com independência”

As empresas que apostam nesse formato de marketplace de analistas independentes começam a atrair a atenção. Com foco no mercado asiático, a SmartKarma, por exemplo, tem entre seus investidores o fundo Sequoia Capital e, de acordo com o Crunchbase, já levantou US$ 21 milhões em investimentos.

A RSRCHXchange, por sua vez, foi comprada pela rede americana de investidores Liquidnet, em 2019, por um valor não revelado. Na época, a startup fundada em 2014 tinha uma base de cerca de 400 analistas e 1,2 mil gestoras clientes.

Além da Faria Lima

Pioneira com esse formato na América Latina, a Omninvest quer preencher duas lacunas do mercado. Para os analistas, a ideia é oferecer uma opção para quem tem bagagem e gosta do que faz, mas não está mais disposto a enfrentar as pressões de um grande banco. “É uma chance de rentabilizar esse conhecimento”, diz.

Já na ponta dos clientes, Attuch Jr. cita questões como a redução das áreas de research nos bancos, formadas hoje, por profissionais com menos "estrada". “Há uma demanda por análises mais profundas, independentes e que fujam do óbvio”, diz ele, que também destaca a falta de diversidade. “Hoje, mais de 90% do conhecimento gerado no mercado brasileiro está num raio de 500 metros da Faria Lima.”

Para contrapor essa abordagem, além do eixo São Paulo, Rio e Brasília, a Omninvest está investindo em uma base de analistas em outras capitais do País e também no exterior, em cidades como Cidade do México, Bogotá, Santiago, Paris, Londres e Nova York. O escopo também passa por um campo mais amplo de análises, com especialistas, por exemplo, de geopolítica.

"Nos últimos anos, surgiram muitas casas de análise. Todo mundo acha que vai chegar e dominar o mercado", diz o CEO de uma casa de análise que pediu para não ser identificado. "Não é tão simples assim."

A plataforma da Omninvest começou a ser formatada em setembro de 2019 e chega ao mercado, oficialmente, com mais de 40 analistas. A projeção é fechar o ano com uma base de até 150 profissionais.

Com mais de 40 analistas, a plataforma estreia em junho

Entre os analistas já cadastrados no marketplace, figuram nomes como Carlos Macedo, ex-Goldman Sachs, e Daniel Abut, também ex-Goldman Sachs e J.P. Morgan, com mais de 25 anos de experiência na cobertura de mercados como México, Argentina, Peru e Colômbia.

O leque inclui ainda profissionais como Robert Dumas, ex-Citi, Lloyds Bank e UBS; Martin Lara, especialista no setor de telecomunicações, com 24 anos de atuação e passagens por Itaú BBA, Santander e Moody’s; e Boris Molina, ex-Santander, especializado na cobertura dos mercados de bancos na Espanha e na América Latina.

O foco inicial para ganhar tração são as gestoras de pequeno e médio porte. “Vamos começar por esse perfil, que é mal atendido pelos bancos”, diz Attuch Jr. “Mas acredito que os grandes investidores institucionais também vão querer falar com esse time.” A plataforma programa ainda o lançamento de um produto voltado aos investidores pessoa física no segundo semestre.

Além da própria plataforma e das vendas diretas, a Omninvest já negocia acordos com bancos e corretoras para a distribuição do conteúdo produzido. As negociações incluem possíveis parcerias no exterior. “Vamos buscar qualquer mercado com clientes que invistam na América Latina.”

“Vamos buscar qualquer mercado com clientes que invistam na América Latina”

Há outros dois projetos em curso. O primeiro é a criação de um banco de dados com analistas de perfil júnior, que receberão mentorias dos profissionais mais experientes e poderão colaborar em seus relatórios. Essa interação também contará pontos na remuneração dos analistas seniores.

Prevista para o último trimestre de 2020, a segunda iniciativa é uma plataforma virtual de educação financeira. Por meio desses recursos, a ideia é que os analistas do marketplace ofereçam cursos especializados, em linha com os seus conhecimentos e bagagem no setor.

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