A transformação digital deixou de ser um tema restrito a pequenos grupos para entrar definitivamente no radar de companhias de diferentes portes, segmentos e regiões do País. Em contrapartida, boa parte dessas empresas ainda não está preparada para transformar esse mantra em realidade.
Essas são as principais conclusões de um estudo realizado pelo Instituto FSB Pesquisa a pedido da consultoria F5 Business Growth. Antecipada com exclusividade ao NeoFeed, a pesquisa foi realizada entre os meses de agosto e setembro deste ano.
O levantamento contou com a participação de 401 empresários e CEOs de companhias de médio e grande porte distribuídas em todo o País. Esse universo incluiu representantes da indústria, do agronegócio, do varejo e de serviços.
Para 70% dessa base, a transformação digital é um tema relevante e muito relevante, e estará na lista de prioridades das suas respectivas companhias em 2022. Na outra ponta, apenas 37% das pessoas à frente dessas empresas se consideram aptos para colocar essas estratégias em prática.
“A provocação era entender se esse debate estava restrito à nossa bolha e a poucas empresas do eixo Rio-São Paulo”, diz Renato Mendes, sócio da F5 Business Growth, ao NeoFeed. “E os dados mostram que a maior parte dos empresários, o ‘Brasil real’ está discutindo a transformação digital.”
No recorte por localização, as regiões Norte e Sul lideram esse interesse pelo tema com um índice de 80% cada. No Nordeste e no Sudeste, o percentual é de 66% e 65%, respectivamente. Já entre as grandes empresas o volume é de 75%, contra os 65% das companhias de médio porte.
Dentro dessa agenda, os participantes indicaram como prioridades para 2022 a computação em nuvem (59%); a internet das coisas (39%); a cibersegurança (31%), a inteligência artificial (27%); e os veículos autônomos (9%).
Para Mendes, em uma análise mais ampla dos indicadores, um aspecto ajuda a explicar tanto a questão de a transformação digital ter chegado ao “mainstream” como o fato de poucos se sentirem capacitados para tirar esses planos do papel: a pandemia da Covid-19.
“Os empresários foram empurrados para o digital. Ou eles vendiam pelo WhatsApp ou fechavam seus negócios”, ressalta o sócio da F5. “Como não havia outra opção, é natural esse despreparo. Falta conhecimento específico, mão de obra e massa crítica no País para contar como seguir esse caminho.”
Ele chama atenção para outros resultados da pesquisa que reforçam esse descompasso, da teoria à prática, no mercado brasileiro: as notas altas dadas pelos entrevistados para classificar o nível de maturidade de alguns aspectos-chave da transformação digital dentro de suas empresas.
Essas questões abrangem pontos como capacidade de tomar decisões baseadas em dados; conhecimento profundo dos hábitos de consumo dos clientes; velocidade como diferencial competitivo; cultura de experimentação e de aprendizagem; e adoção de metodologias ágeis.
Para o especialista, outro ponto que mostra o tamanho do desafio a ser percorrido é a pouca abertura para iniciativas de inovação aberta, em particular, a ausência de estratégias de aproximação e diálogo com startups.
O estudo mostra que 62% das empresas não se relacionam com esse ecossistema e, ao mesmo tempo, não têm nada planejado nesse sentido para 2022. Apenas 18% disseram que essa é uma das prioridades para o ano que vem e somente 3% têm ou pretende montar um fundo de corporate venture capital.
“A pandemia colocou a pauta do digital no colo do empresário do Brasil de verdade, mas ele está fazendo o que é possível, não o ideal”, acrescenta Mendes. “A Covid-19 trouxe quase um último alerta e é uma lógica darwiniana. Quem demorar para se adaptar a essa dinâmica, corre o risco de ficar pelo caminho.”