O Patria está criando uma área batizada de High Growth que une as gestores Kamaroopin e Igah e será comandada por Pedro Melzer e Pedro Faria, que serão co-CEOs da nova vertical.

A nova área, que nasce com aproximadamente US$ 500 milhões sob gestão, permitirá que o Patria possa fazer cheques maiores, oferecendo capital para growth em um momento que ele está escasso no mercado brasileiro.

Além das teses que Igah e Kamaroopin tocavam na área de venture capital, o Patria High Growth terá dois novos mandatos. O primeiro permitirá organizar single deals estruturados, acessando não só o capital dos dois fundos, como também a base de investidores do Patria.

“Isso vai permitir olhar uma única transação com cheques de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões”, afirma Pedro Melzer, em entrevista ao Café com Investidor, programa que tem o apoio do Santander Select. “Eventualmente, um dos fundos pode participar, mas não precisa.”

O Patria High Growth terá também um fundo de fundos, com mandato para se tornar LPs (limited partners) de gestoras de venture capital, comprar fatias secundárias de investidores de startups e fazer co-investimentos. “Não pretendemos fazer special situatios, legal claims e search funds”, diz Melzer.

Para essa estratégia, a nova área do Patria está iniciando conversas para captar um novo fundo, cujo meta não é revelada. Melzer apenas diz que serão “centenas de milhões de reais”.

A meta da nova área do Patria é chegar a US$ 1 bilhão sob gestão em pouco tempo. “Isso é ao menos o que prometemos ao nosso CEO Alexandre (Saigh)”, afirma Pedro Faria.

As marcas Kamaroopin e Igah vão deixar de existir. As duas gestoras foram compradas em 2021 e 2022, respectivamente, marcando a entrada do Patria em venture capital, uma das teses que a gestora, que tem US$ 41,9 bilhões sob gestão, não atuava.

“Agora, fica tudo High Growth. Passamos a régua e brota uma nova marca que fortalece o guarda-chuva do Patria. A história de Kamaroopin e Igah ficam nos fundos”, diz Faria.

Nada muda, no entanto, em relação às teses que as duas gestoras tocavam. A Igah está captando o seu quarto fundo, cuja meta é chegar a US$ 130 milhões. A Kamaroopin, que tem dois fundos, deve ir ao mercado para o seu terceiro fundo em 2026.

A tese de venture capital, que era tocada pela Igah, é investir em seed e séries A e B, com cheques que podem variar de US$ 1 milhão a US$ 20 milhões. A área de growth, cujos esforços estavam na Kamaroopin, investe em empresas de saúde, e-commerce, techfin e educação, com cheques que começavam a partir de US$ 20 milhões.

Nessa nova fase, a vertical do Patria montou times dedicados por produtos. Um deles será responsável por venture capital. Outro, por growth. E o terceiro, pelas novas inciativas, que inclui o fundo dos fundos e os single deals. O comitê de investimentos já foi unificado. “Os Pedros participam de tudo”, brinca Faria.

O portfólio da nova vertical conta com Unico, idtech avaliada em US$ 2,6 bilhões; CRMBonus, cujo valuation atingiu R$ 2,2 bilhões; além de Conexa Saúde, Hashdex, Logcomex, Klubi – essas faziam parte do portfólio da Igah.

Do lado da Kamaroopin, as empresas que passam a fazer parte do Patria High Growth são dr.consulta (saúde), Zenklub (de saúde mental que se uniu a Conexa Saúde), a Consorciei (techfin) e StartSe (educação) e Petlove (e-commerce para pets).

Com a união das duas gestoras e a entrada em novas áreas, o Patria High Growth ganha musculatura para competir por deals maiores e com gestoras que têm feitos cheques mais altos, como os casos de General Atlantic e Riverwood Capital.

O capital para growth – rodadas a partir da série B – se tornou escasso no mercado brasileiro depois da euforia de 2020 e 2021, quando a liquidez excessiva e a chegada de fundos estrangeiros ao Brasil inundou as startups locais com “dinheiro fácil” e a valuation estratosféricos.

Com o fim da euforia, a partir de 2022, a fonte secou e ficou mais difícil captar – em especial às empresas que precisavam de capital para crescer. Uma pesquisa realizada pela Kamaroopin, divulgada em 2023, chegou à conclusão que iria faltar US$ 2,4 bilhões para as startups brasileiras.

“Essa situação só se acentuou. Eu achava que íamos passar por um inverno moderado, de 12 a 18 meses. Estamos em 2025, indo para 2026 e, de fato, a engrenagem parou de rodar”, afirma Faria.

Por outro lado, muitos fundos de venture capital estão na fase de desinvestimentos e precisam vender suas participações em startups para começar a retornar capital aos investidores. Mas o cenário para saídas está também difícil, o que abre oportunidades para compras de fatias secundárias de investidores que buscam liquidez.

A gestora Spectra, com mais de R$ 7 bilhões sob gestão, atuava quase que sem competidores nessa área. Agora, o Patria vai entrar nesse espaço. “A liquidez é uma pedra no sapato do mercado”, afirma Melzer. “Estamos preparados para ser um dos principais players desse mercado.”

A unificação da área de venture capital e growth segue uma estratégia que o Patria vem adotando desde o seu IPO, quando captou US$ 625 milhões, em janeiro de 2021, na Nasdaq.

Desde então, a gestora, que tinha força em private equity e infraestrutura, foi entrando em diversas áreas como parte de seu plano de chegar a US$ 50 bilhões sob gestão.

Ao longo desses quatro anos, foi comprando gestoras e entrou em áreas como crédito, public equities e real estate. Esta última ilustra o que o Patria tem feito para ganhar musculatura.

O Patria comprou a gestora de real estate VBI e os fundos imobiliários do Credit Suisse. E, assim como Kamaroopin e Igah, unificou as marcas sob o guarda-chuva de Patria Real Estate. Com isso, as equipes se juntam em uma vertical que tem R$ 24 bilhões sob gestão no Brasil e mais de R$ 12 bilhões na América Latina.