Quando o ChatGPT, da OpenAI, ainda nem tinha sido lançado, Thiago Kapulskis, na época no Itaú BBA, fez o “call” da Nvidia. A ação não tinha decolado e estava em US$ 15 – hoje está na casa dos US$ 180 e vale US$ 4,4 trilhões. Ele não só ficou “famoso” no meio de tecnologia, como chegou a conhecer Jensen Huang, o fundador da empresa, além de fazer conversas trimestrais com os executivos da fabricante de chips.

Agora, como sócio da São Pedro Capital, a gestora fundada pelo ex-CEO do Google Brasil, Alex Dias, e à frente de um fundo de tech que só investe em empresas globais com alguma base de tecnologia, ele está otimista com TSMC e Amazon. E, apesar de não fazer shorts, pessimista com Oracle e Apple.

"A TSMC basicamente é um monopólio na manufatura dos chips”, diz Kapulskis, em entrevista ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil. “A Amazon é uma companhia mal compreendida. O principal valor vai ser no aumento de margens, principalmente pela parte de advertising."

Kapulskis é um entusiasta da inteligência artificial, mas avalia que há excessos. Apesar disso, ele não acredita que essa onda é uma bolha. Porém, ressalta que é preciso separar o joio do trigo.

A taiwanesa TSMC é um exemplo de empresa que, na visão de Kapulskis, será bem-sucedida. Só ela consegue fazer chips de 2 nanômetros, o que se transforma em uma barreira para outros competidores.

Além disso, empresas como Nvidia e AMD, que só projetam os chips, precisam da TSMC para construí-los. Não bastasse isso, ela tem eficiência e margem, por ter escala.

"A TSMC sozinha vale basicamente o market cap do Ibovespa inteiro", diz Kapulskis. Atualmente, a empresa taiwanesa está avaliada em US$ 1,3 trilhão. Seus papéis sobem mais de 50% em 12 meses.

A Amazon, por sua vez, é um caso à parte, pois – ao contrário da TSMC – é bastante conhecida. Mas Kapulskis vê uma oportunidade de reprecificação da companhia.

Os motivos são que a área de “advertising” deve ser o motor da margem, a AWS está em processo de retomada e a companhia tem uma execução eficiente. Hoje, a empresa fundada por Jeff Bezos é a maior posição do fundo da São Pedro Capital.

Por outro lado, Kapulskis tem uma visão diferente sobre a Oracle, uma das empresas mais antigas do Vale do Silício, que viu suas ações subirem mais de 40% em um dia por conta da inteligência artificial.

"A Oracle é exatamente o típico investimento que a gente evitaria ter", diz o sócio da São Pedro Capital. "A gente vê uma subida dessa acontecendo por conta de contratos de muito longo prazo, num número muito grande."

De acordo com ele, o backlog da Oracle é maior do que o da AWS e o da Microsoft, o que vai exigir um capex alto para uma demanda que pode ser incerta. "A combinação de valuation alto, endividamento e receita que só vem lá na frente é perigosa", afirma Kapulskis.

Sobre a Apple, Kapulskis diz que a empresa passou pelo ciclo da inovação com Steve Jobs (1955–2011) e de supply chain com Tim Cook. Este último deu escala à companhia e fez os iPhone serem vendidos no mundo inteiro.

"Mas em um mundo com tanta novidade, não consigo ver a Apple competir. Ela faz super bem a execução, mas tem dificuldade de fazer coisas novas”, diz Kapulskis. "O valuation da Apple não é barato. É como se fosse a vencedora para sempre. E isso é difícil de justificar.”

Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Kapulskis fala de outros investimentos em que está apostando, explica em detalhes a sua tese e conta sobre o investimento que mais se arrepende (o que ele se orgulha, você ficou sabendo no começo desta reportagem).