Os investimentos sustentáveis (ESG, sigla de Eviromental, Social and Governance, em inglês, ou ASG, em português) já são uma realidade na Europa e estão avançando em outras economias do mundo, inclusive no Brasil. As gestoras de recursos estão integrando processos de análise ESG em seus investimentos, mas a falta de dados padronizados dificulta a comparação e a cobrança por resultados.

Se engana quem acha que investimento sustentável é elaborar uma lista de exclusão, selecionando empresas que não estão aderentes as melhores práticas. Uma abordagem mais adequada para um país em desenvolvimento, como o Brasil, é identificar como as empresas podem avançar dentro de um modelo de negócio mais sustentável e cobrar um plano de transição.

“A gente no início usava um filtro negativo nas empresas, eliminando as que não se alinhavam aos nossos princípios. Mas percebemos que não premiávamos quem era mais aderente e progredia. E vimos que precisávamos de ajuda para realmente construir uma estratégia de integração ESG”, afirma Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Investimentos, ao programa Wealth Point, do NeoFeed.

Em 2009, a SulAmérica Investimentos, com cerca de R$ 65 bilhões sob gestão, se tornou signatária ao Princípios para o Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês) da ONU para buscar conhecimento de como engajar o seu time e trabalhar sobre essa ótica de investimento.

“Hoje, a gente trabalha no conceito de ‘best in class’. Eu dou um score ESG para um determinado setor e vou dar um score para as empresas nele. Então, se eu tenho uma empresa no setor de combustível fóssil que tem um score melhor do que o setor, significa que essa empresa está fazendo uma evolução nessa transição energética”, explica Mello.

A BB Asset, maior gestora do país com R$ 1,5 trilhão sob gestão, também se alinhou ao PRI em 2010 para colocar as melhores práticas de sustentabilidade em prática. Mas há desafios em ‘tropicalizar’ para o Brasil o que é feito em economias mais avançadas. No entanto, a regulação brasileira também está avançando para aproximar essa diferença.

“As gestoras lá fora são obrigadas a reportar a pegada de carbono no portfólio anualmente e sempre numa trajetória declinante. Nós aqui ainda precisamos caminhar, principalmente em base de dados, disclosure, transparência ...”, diz Denísio Liberato, CEO da BB Asset Management.

A principal diferença entre o Brasil e os países mais desenvolvidos, que possuem uma regulação mais clara, é a falta de padronização. Dessa forma, as empresas emitem seus relatórios de sustentabilidade, mas é difícil compará-los. Mas a CVM está avançando nisso.

“A gente pede uma padronização. Todas as métricas ESG no Brasil são muito proprietárias, com base em premissas e estimativas próprias. É importante o regulador dar um norte e dizer como que as coisas precisam ser divulgadas. E a CVM fez um belo trabalho com a 193, que entrará em vigor em 2026”, analisa Liberato.

Paralelo a isso, o investidor também vem ganhando maturidade para entender que ESG é um processo para analisar riscos e potencializar ganhos futuros, e não obter menos retorno em prol de uma filosofia.

Os fundos de pensão, como investidores de mais logo prazo, são os mais avançados nessa visão e tem criado processos de diligência para investir apenas em gestoras que usam o ESG como análise. Assim como os Multi Family Offices, que têm sido cada vez mais pressionados sobre o tema pelos seus clientes. No varejo, no entanto, o entendimento ainda é muito pouco.

“Houve um momento que ESG virou moda e agora parece que isso perdeu força. Mas não é verdade. Ele deixou de ser modismo para ser realidade em quem realmente está sério no tema, não há mais espaço para o green washing”, diz Mello.

O Brasil não tem só a aprender sobre ESG, mas também tem o que ensinar. "Temos uma capacidade de energia limpa incrível, iremos sediar a COP em 2023, e temos o potencial de gerar os ativos verdes que o mundo demanda para descarbonizar o portfólio. É só organizar um pouco a casa e colocar isso para andar", afirma Liberato.