A Reag Investimentos foi alvo da megaoperação da polícia federal Carbono Oculto, em um movimento que não surpreendeu o mercado financeiro, mas chocou pela possibilidade de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

Hoje, a empresa, através de várias subsidiárias, é uma das maiores administradoras fiduciárias do País com mais de R$ 340 bilhões sob administração. Além disso, é a 8ª maior gestora de fundos, com mais de R$ 340 bilhões sob gestão, segundo a Anbima. A partir de agora, a pergunta é sobre quais serão os desdobramentos do caso e o futuro do negócio da Reag.

Nas esquinas da Faria Lima e entre grupos de WhatsApp, a conversa é sobre a maneira que a empresa ascendeu tão rapidamente. O que mais surpreende é que foi de uma forma meio que “paralela” ao restante do mercado financeiro.

“Pouquíssimas pessoas do mercado faziam negócios com ela por diligência. Muita gente sentia que tinha algo estranho nas operações, havia pouca transparência das estruturas. Mas fato é que essa já era uma empresa grande e que uma operação dessas gera quebra de confiança das instituições do mercado”, afirma um grande alocador, que pediu para não ser identificado.

Segundo investidores ouvidos pelo NeoFeed, é impressionante como a empresa fundada em 2012 com sua gestora e a sua fiduciária cresceu ao longo do tempo. No mercado, sempre que a empresa era estudada achavam-se muitos fundos sobre fundos em estruturas difíceis de serem rastreadas. Na operação da Carbono Oculto estão sendo investigados alguns, como o Reag High Yield Fundo de Investimento em Direitos Creditórios.

Entre gestores de asset e wealth management, a Reag era tida como um player que fazia operações mais “criativas” no mercado, seja para tentar diminuir impostos ou outras questões. Então, quando surgia alguma demanda do tipo, muitos clientes eram encaminhados para lá.

Para algumas pessoas do mercado, pode não haver um envolvimento consciente da empresa com o PCC, mas uma flexibilidade a mais para tentar atender a demandas de clientes que queriam dar um jeitinho em alguma coisa - algo não incomum no mercado brasileiro - que pode comprometer a casa.

"Conversei com dois grandes advogados que atuam no setor financeiro e que conhecem as empresas. Eles não acreditam que existe envolvimento consciente. Agora, se a Reag estiver envolvida conscientemente, fecha o Brasil. É muita gente grande que usa a Reag como gestora. E gente grande mesmo...", relatou o sócio de uma empresa grande do mercado.

Os fundos da Reag sob investigação na operação são fechados, assim como a maioria de sua custódia, não circulando em plataformas de investimento e nem mesmo na carteira de respeitados family offices. Dessa forma, uma contaminação do mercado não é aventada. O que acontece é um baque na reputação da própria Reag enquanto as acusações não forem esclarecidas.

Em nota encaminhada ao NeoFeed, a Reag informa que "diversos Fundos de Investimentos mencionados na Operação nunca estiveram sob sua administração ou gestão. Quanto aos Fundos de Investimento apurados em que a empresa atuou como prestadora de serviço, informa que agiu de forma regular e diligente. Cumpre registrar que tais fundos foram, há meses, objeto de renúncia ou liquidação" (Leia a íntegra da nota abaixo).

O que se espera é que fundos de investimento que têm a casa como administradora possam querer mudar de mãos para outras administradoras. “Ninguém vai querer ter envolvimento com o nome até maiores esclarecimentos. E a mudança de custódia é algo fácil de ser feito quando aprovado em assembleia, em 40 dias”, diz um gestor.

Apesar do início um tanto obscuro, longe dos holofotes na visão do mercado financeiro, com o crescimento do business de administração fiduciária e gestão de fundos praticamente só de exclusivos, usados por famílias e indivíduos de alto patrimônio para fazer gestão de seus recursos, o crescimento começou a chamar a atenção. Em 2019, a gestora já era a 29º maior do mercado, com R$22,2 bilhões sob gestão. Em dezembro de 2022, a gestora já tinha pulado para a 13ª posição com R$ 74,4 bilhões sob gestão.

Nos últimos quatro anos, a empresa ganhou protagonismo sendo uma grande consolidadora de mercado de nomes importantes e de grande reputação no mercado de asset e wealth management.

Ela passou a ser a salvação para operações problemáticas, com diversos M&As, que não conseguiam crescer no ambiente mais hostil de mercado. Para muitos profissionais, pode-se esperar que algumas dessas operações sejam “desfeitas” criando spin-offs para desagregar da placa sob investigação nos próximos meses.

A formação do império

A Reag Capital Holding foi fundada em 2012 por João Carlos Mansur, executivo com mais de três décadas de experiência em auditoria, controladoria e planejamento, com passagens por PwC, Monsanto, Tishman Speyer, Trump Realty Brazil e Allianz Parque. A empresa foi crescendo tanto na administração fiduciária como na gestão de fundos exclusivos, usados por famílias e indivíduos de alto patrimônio para fazer gestão de seus recursos.

Mansur é um torcedor apaixonado pelo Palmeiras. Conselheiro do alviverde, esteve em todos os jogos da equipe no Mundial de Clubes realizado nos Estados Unidos. E mantém um camarote no estádio, com a marca da sua empresa.

Além do futebol, ele é praticante de paraquedismo esportivo. Mansur faz parte da equipe de Paraquedismo Netunos da Marinha do Brasil. Em 26 de julho, a equipe foi tricampeã brasileira nas modalidades com formação de quatro e de oito atletas - o fundador da Reag estava no time.

Nos negócios, Mansur é visto como um empreendedor que busca aproveitar as oportunidades de mercado. Ele fala pouco com a imprensa. E sempre que faz procura ser pontual e direto ao assunto. Recentemente, no programa Show Business, da Jovem Pan News, ele falou sobre a sua estratégia agressiva de crescimento.

"Há três anos atrás, um pouquinho antes da pandemia, a gente já tinha enxergado que o mercado ia passar por uma consolidação muito forte. A gente começou a fazer aquisições, começou a crescer, começou a se preparar para esse momento", disse ele.

“A gente começou a se preparar para isso. Criamos um projeto interno chamado B323, que é o nosso projeto de consolidação”, complementa.

A história da Reag dá um salto a partir da aquisição progressiva e estratégica das ações do GetNinjas, ao realizar o primeiro “poison pill” do mercado brasileiro em outubro de 2023. Com o mecanismo acionado, ela assumiu o controle da empresa, que valia cerca de R$ 250 milhões na bolsa - o mesmo montante que ela tinha em caixa. Hoje, essa compra de controle está sob investigação na Comissão de Valores Mobiliários, que investiga se a empresa, de fato, deixou clara a sua intenção de assumir o controle.

No controle dessa operação, a empresa passou a se chamar Reag Investimentos, e fez um aumento de capital de R$ 793 milhões, reunindo as operações de asset e wealth management, com R$ 220 bilhões e R$ 20 bilhões, respectivamente, segundo a empresa à época. E depois dessa listarem na B3, viriam mais três.

Em março deste ano a Reag Investimentos fez um spin-off e estreou na bolsa a Companhia Brasileira de Serviços Financeiros (Ciabrasf, novo nome da Reag Trust), com um aumento de capital de R$ 421,3 milhões. Nasceu já com mais de 700 fundos administrados, totalizando um patrimônio líquido próximo a R$ 240 bilhões, colocando-a em 11º lugar no ranking geral da Anbima e a maior administradora independente. A Ciabrasf também foi alvo da operação da PF.

Em abril deste ano foi a vez da listagem da Revee, empresa de real estate cujo modelo de negócios é baseado na revitalização de ativos imobiliários. A empresa é fruto de uma reorganização societária da Reag, com uma cisão parcial dos seus ativos e transferência à Revee, dentre eles a reforma e modernização do estádio do Canindé, pertencente à Portuguesa e localizado na Marginal Tietê, próximo ao Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo, e pela administração do estádio por 50 anos.

Em junho, veio o “IPO reverso” da Belora RDVC City, fruto da cisão e reestruturação da Viver Incorporadora e Construtora, a Belora, que também adquirida no mercado pela Reag. A empresa surgiu como prestadora de serviços imobiliários, como projetos build to suit, operação de ativos e gerenciamento de obras e atuará na incorporação do segmento baixa renda e alto luxo.

Ao longo desse crescimento a Reag Holding foi se juntando a pessoas importantes do mercado e fazendo aquisições de peso no mercado de asset e wealth management.

Em 2022 e 2023, a empresa financeira adquiriu as gestoras de patrimônio Rapier Investimentos e Quadrante Investimentos. Em 2024, comprou a Quasar Asset Management, com cerca de R$ 1 bilhão, e a Empírica, com cerca de R$ 9 bilhões sob gestão.

E ainda comprou as gestoras de patrimônio Berkana e Hieron, de Robert van Dijk, ex- presidente da Anbima que ocupou a liderança nas assets dos bancos Votorantim e do Bradesco, além de ter sido executivo-chefe (CEO) do Principal Financial Group no Brasil, dono da Claritas. Ele passou a assumir como o CEO da área de wealth, e depois como CEO da Reag Investimentos.

Em abril, ele passou a ocupar a presidência do conselho consultivo de governança da empresa e Dario Tanure, que estava como diretor de relações com investidores, passou ao comando da companhia.

Tanure estava há quatro anos e meio no Grupo Reag como sócio da área de gestão de recursos. Anteriormente, ele foi sócio da Rapier Gestão de Patrimônio e da Triscorp Investimentos.

Confira, a seguir, a íntegra da nota da Reag encaminhada ao NeoFeed:

A REAG Investimentos S.A. informa que colabora integralmente com as autoridades responsáveis pela Operação Carbono Oculto, e permanece confiante no regular funcionamento das instituições e da justiça, com a certeza de que todos os fatos serão devidamente esclarecidos.

Sobre os fatos objeto de apuração, esclarece que diversos Fundos de Investimentos mencionados na Operação nunca estiveram sob sua administração ou gestão.

Quanto aos Fundos de Investimento apurados em que a empresa atuou como prestadora de serviço, informa que agiu de forma regular e diligente. Cumpre registrar que tais fundos foram, há meses, objeto de renúncia ou liquidação.

Reforça, ainda, que não possui nem nunca possuiu qualquer envolvimento com as atividades econômicas ou empresariais conduzidas por esses clientes.

A REAG permanece em atuação com seu rigor técnico, ética e transparência, em estrita conformidade com as normas e exigências da lei e dos reguladores do sistema financeiro.