Desde que virou corretora há dois anos, a EQI, com R$ 44 bilhões sob custódia, estava atrás de comprar um "wealth caipira", nas palavras de seu CEO Juliano Custódio. Mas sem encontrar o que queria, a empresa resolveu desenvolver um projeto dentro de casa.
Agora, a empresa está lançado, oficialmente, a EQI WM, que nasce com R$ 9 bilhões sob custódia e gestão para esquentar a disputa pelas grandes fortunas no Brasil. “Conversamos com muita gente, mas esbarrávamos na questão cultural. Esses wealths mais tradicionais querem um negócio mais artesanal. Não acredito nisso, acredito em processos para garantir a qualidade”, afirma Juliano Custódio, CEO da EQI, em entrevista ao NeoFeed.
A EQI WM será liderada por Ricardo Cará, que estava como CIO da EQI Asset, e passa a ser também o CIO do wealth. A empresa está trazendo assessores para serem bankers da área, que foi reestruturada no início deste ano, oferecendo tanto o modelo comissionado como o fee fixo de atendimento.
Com tíquete mínimo de R$ 5 milhões para atendimento no private, no modelo de assessoria, e de R$ 10 milhões para gestão de patrimônio, no modelo discricionário, a área repensou sua proposta de valor.
Neste primeiro semestre de 2025, conseguiu captar R$ 1 bilhão, 74% a mais que no segundo semestre do ano passado. "Agora, saindo do piloto, acreditamos que vamos conseguir muito mais”, diz Custódio.
Para atender a esses clientes, a EQI montou um time de gestão de seis pessoas para desenvolver estratégias de asset allocations para os clientes de acordo com os objetivos e perfis de cada um, direcionado pelos bankers relacionamento.
Esse time de relacionamento é composto pelo assessor de longa data para quaisquer questões, um assessor só para investimentos do wealth e um planejador financeiro.
Além disso, a EQI conta com sua capilaridade para que os assessores indiquem os clientes mais abastados para esse serviço. Incluindo a sua operação B2B, a corretora já está em 50 cidades, e acredita que pode trazer o seu modelo de private banking onde os bancos não chegam.
Outro característica, segundo Custódio, é a sua estratégia offshore com o seu RIA (Register Independent Advisor) nos EUA desde o início do ano passado. Ele possibilita o investimento multicustódia por lá e já alcançou US$ 350 milhões, com expectativa de crescer bem mais com a área de wealth.
Destaca-se também a operação de investment banking da EQI, que, diferentemente dos grandes bancos, está mais focada em pequenas e médias emissões, podendo atender a demandas das famílias empresárias da área de wealth com soluções corporativas para suas empresas. E, ao mesmo tempo, gerar liquidez para as famílias. A expectativa é que o volume de emissões este ano chegue a R$ 2,5 bilhões.
A corrida pelas grandes fortunas
Reunindo de forma mais sinérgicas essas peças, a EQI acredita que essa área de wealth pode ser responsável pelo grande crescimento da empresa nos próximos anos.
“Começamos a jogar esse jogo das grandes fortunas e gostamos. Antes, estávamos meio envergonhados nesse segmento, agora isso vai mudar. Acredito que o wealh pode ser 50% da custódia da empresa nos próximos cinco anos”, afirma Custódio.
A meta da EQI é ter R$ 180 bilhões sob custódia em cinco anos. E o projeto de crescimento do wealth será fundamental para isso, podendo trazer cerca de R$ 90 bilhões, segundo as estimativas do CEO da EQI.
A entrada forte no segmento de grandes fortunas pela EQI, casa que alavancou o seu crescimento pelo varejo via internet, é simbólica pela corrida a esse segmento nos últimos anos.
Segundo dados da Anbima de maio deste ano, o setor de private banking soma quase R$ 2,5 trilhões, um crescimento de 150% desde dezembro de 2020. Não à toa todo mundo quer um pedaço desta área. Muitas assessorias de investimento montaram seus wealth managers nos últimos anos. Outras têm apostado forte no segmento.
Um exemplo é a Monte Bravo Corretora, empresa que fez um caminho similar ao da EQI de saltar de assessoria de investimentos para corretora. E, como contou ao NeoFeed, realizou, neste ano, uma reestruturação da sua área private para chegar a R$ 30 bilhões até 2027.
Mesmo a XP, que também é mais conhecida pela sua força no varejo, está reformulando o seu private banking com Cesar Chicayban, ex-Citi, como head da operação, para crescer neste segmento.
O alvo são os clientes dos privates tradicionais: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BTG, players que estão defendendo seus territórios ao seu modo.
O BTG, por exemplo, tem investido na área de gestão de patrimônio e comprou, recentemente, as operações do Julius Baer e da JGP Wealth Management. Já o Santander está unindo globalmente a sua operação de family office. O Itaú, por sua vez, está apostando na consolidação de portfólios.
Uma nova fase na EQI
Depois de atingir o breakeven no ano passado após a mudança para corretora, a EQI manteve o desempenho nos seis primeiros meses de 2025.
Neste primeiro semestre, a empresa registrou um crescimento de 214% no lucro líquido, 35,4% na receita bruta e 36% no volume de ativos sob custódia em relação ao primeiro semestre de 2024. A corretora também reportou um avanço de 74,5% na captação líquida, totalizando R$ 44 bilhões sob gestão.
Grande parte do resultado veio da asset e do investment banking. Mas o wealth deve desempenhar um papel importante no segundo semestre. A expectativa é fechar o ano com um lucro de R$ 70 milhões.
“O wealth é uma parte importante desse quebra cabeça que estamos montando na corretora, que é um monte de negócio ruim, que, quando agregado, fica bom”, afirma Custódio. “Vamos começar finalmente a colher os frutos de criar uma corretora.”