Enquanto o Brasil se prepara para sediar a COP 30 em Belém, no Pará, em novembro deste ano, autoridades e representantes do setor financeiro aceleram a criação de regras, incentivos e produtos para transformar o Brasil em referência global em soluções climáticas. O objetivo é atrair investimentos privados para viabilizar essa transição.

As autoridades estão classificando esta edição como a “COP da implementação”. Depois de quase uma década de compromissos formais desde o Acordo de Paris, as autoridades brasileiras acreditam que a contribuição agora é traduzir promessas em ações concretas.

“Já sabemos o que precisa ser feito. Agora, precisamos agir e mostrar isso com escala”, disse Marina Cançado, fundadora da Converge Capital e cofundadora da ATO, em um painel no Fin4She Summit 2025, evento em que executivas do mercado financeiro falam com uma plateia feminina sobre finanças, carreira e inovação.

Na visão da executiva, o Brasil precisa se vender como liderança global no tema. O País tem matriz energética limpa, agronegócio eficiente e vasto estoque natural, mas é um país emergente e precisa de capital estrangeiro para alcançar escala em seus desenvolvimentos.

O Brasil tem vantagens comparativas em todos os setores da economia, e estudos mostram que é um dos poucos países que podem fazer a transição energética com grande geração de PIB, emprego e renda. Mas, para que isso se materialize, o País precisa superar desafios internos, como a baixa taxa de poupança e os custos de financiamento.

“Vamos precisar de estruturas híbridas, mecanismos de mitigação de risco cambial e de crédito. Só com inovação conseguiremos mobilizar os trilhões que essa agenda exige”, afirma Cançado.

Do lado institucional, o Brasil chega à COP 30 com o seu regulador do mercado de capitais como o primeiro no mundo a adotar oficialmente o padrão internacional de reporte de sustentabilidade.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) adotou o padrão de divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade do ISSB (International Sustainability Standards Board, em inglês, ou Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade).

“Nosso objetivo é destravar o capital privado com mais transparência e comparabilidade entre empresas”, afirma Nathalie Vidual, superintendente na CVM.

A regulamentação tem foco no investidor e exigirá que as companhias brasileiras reportem, a partir de 2026, riscos e oportunidades climáticas que possam afetar os fluxos financeiros do negócio. Até lá, o processo é voluntário e duas empresas já aderiram: a Vale e a Lojas Renner.

A CVM também participa do desenvolvimento da taxonomia sustentável brasileira, que classificará atividades econômicas de acordo com critérios ambientais, sociais e de governança corporativa. Espera-se a publicação da primeira versão da taxonomia em agosto desde ano para início da implementação antes da COP 30.

Ela permitirá a criação de um selo verde nacional, com potencial para facilitar a alocação de recursos em projetos sustentáveis.

“Queremos dar ao investidor o selo de que aquilo é, de fato, verde. A ideia é garantir confiança, mostrando que os indicadores estão sendo atendidos e que o financiamento está migrando para projetos sustentáveis. Isso é parte do legado institucional que estamos construindo”, diz Vidual.

Agentes dessa transição

Os bancos desempenham um papel central na descarbonização da economia, ao direcionarem capital para financiar a transição de empresas rumo a modelos de menor emissão de carbono.

O Banco ABC Brasil estruturou uma mesa dedicada a soluções de carbono e passou a medir em tempo real as emissões indiretas de seus financiamentos. Um exemplo concreto foi a emissão do primeiro CDC carbono neutro, voltado ao setor de transporte e logística, com compensação das emissões via projetos sustentáveis.

“Temos o poder e a responsabilidade de financiar essa transição, criando mecanismos e apoiando os clientes na adaptação ao novo mercado”, afirma Fabiana Ferreira da Silva, head ESG e negócios sustentáveis no Banco ABC Brasil.

A meta, segundo ela, não é abandonar clientes de setores intensivos em emissões, mas sim estar ao lado deles, oferecendo dados, soluções personalizadas e incentivos para a mudança.

Para as executivas, as empresas brasileiras precisam se preparar para trazer soluções para a COP 30 para mostrar para o mundo que o País tem exemplos concretos, soluções exportáveis e um mercado financeiro capaz de liderar essa nova etapa, e assim conseguir atrair investimentos.

“Na COP, queremos ver discurso alinhado à prática. Mostrem como resolver problemas reais, inclusive compartilhando o que deu errado. Os casos de sucesso criam um efeito contágio positivo e ajudam a moldar políticas públicas e privadas”, diz a superintendente da CVM.