Na noite da quinta-feira, 27 de julho, a Vale anunciou a venda de uma fatia de 13% da sua divisão de metais de transição energética, após um período de dezoito meses de preparação e busca de um sócio para destravar o valor da operação, considerada chave para o posicionamento futuro da mineradora.

Com o martelo batido por US$ 3,4 bilhões, a Manara Minerals, joint venture entre o Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, e a companhia de mineração Ma’aden, ficará com 10% da unidade, agora rebatizada de Vale Base Metals (VBM).

Nos termos da transação, que avaliou a VBM US$ 26 bilhões, a participação restante de 3% incluída no acordo estará nas mãos do Engine No1, fundo americano especializado em ativos de transição energética. Agora, sob essa composição, a Vale já desenha os próximos passos do negócio.

“Trabalhamos os últimos 18 meses redesenhando e isolando o negócio, atraindo experts da indústria para o conselho e com uma estrutura mais enxuta e uma governança dedicada”, disse Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale, em conferência com analistas na manhã desta sexta-feira, 28 de julho.

“Trouxemos investidores de longo prazo e com credenciais de ESG, que combinam elementos que vão ajudar a destravar o valor do negóio”, prosseguiu. “Agora, à medida que arrumamos cada parte desse quebra-cabeça, o nosso foco é a execução.”

Como ponto de partida para essa nova fase, a empresa definiu que do montante total envolvido na transação, US$ 1 bilhão será reservado ao financiamento da operação da Vale Base Metals no prazo de dois a quatro anos. O restante será destinado ao caixa da Vale.

“Quanto ao volume de investimentos que esse negócio vai demandar no futuro, as opções estão em nossas mãos”, observou Bartolomeo. “Um IPO ou uma fusão são opções, mas não pensamos nisso nesse momento. O plano agora é preencher lacunas na execução e acelerar o crescimento.”

Essas alternativas podem ganhar força já que a VBM tem metas ambiciosas à frente. O anúncio da chegada dos novos sócios foi acompanhado pela projeção de ampliar a produção em cobre de cerca de 350 mil para 900 mil toneladas ano. E, em níquel, de 175 mil para mais de 300 mil toneladas ano.

Para alcançar esses patamares, a empresa projeta um investimento entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões na próxima década. Nessa direção, além do fortalecimento da governança e da bagagem dos investidores que embarcaram na VBM, o executivo citou que os novos sócios abrem as portas do mercado do Oriente Médio para a empresa.

Em outro ponto, ele também ressaltou a participação nesse processo de reforços de peso que chegaram à VBM no decorrer desses 18 meses. Entre eles, Mark Cutifani, ex-CEO da Anglo American, que assumiu a presidência do board da nova estrutura.

“O Mark está trabalhando na revisão de ativos com especialistas de ponta para ver o que podemos acelerar. Há muita coisa em curso”, afirmou. “Ele é a pessoa certa, no momento, no lugar e com os parceiros corretos.”

Já no que diz respeito aos US$ 2,4 bilhões da transação que serão injetados no caixa da Vale, a empresa não deu detalhes de qual será o destino dos recursos. Mas frisou que seguirá com disciplina na alocação de capital, além de destacar abordagens que ganharam força nos últimos trimestres, como a distribuição de dividendos em patamares mínimos e a política agressiva na recompra de ações.

Nesse contexto, a Vale também divulgou que seu conselho de administração aprovou a distribuição de juros sobre capital próprio no valor de US$ 1,7 bilhão, a ser pago em setembro. Em outra frente, no segundo trimestre, a empresa desembolsou US$ 1,4 bilhão como parte do seu terceiro programa de recompra de ações. Desde 2021, a Vale já recomprou 16% da sua base acionária.

Em relatório, no qual manteve a classificação de outperform para a ação, o Santander destacou o montante acima das expectativas na venda da participação da Vale Base Metals, bem como a entrada dos novos sócios e o valuation da operação. Mas fez algumas ressalvas.

“Embora gostemos da iniciativa da gestão de liberar valor em sua divisão de metais básicos, acreditamos que os investidores seguirão esperando por melhorias operacionais antes de precificar essa operação”, escreveram os analistas Rafael Barcelos e Arthur Biscuola.

Lucro líquido despenca

Entre abril e junho, a Vale apurou um lucro líquido de US$ 892 milhões, o que representou uma queda de 78,2% na comparação com a cifra reportada na última linha do balanço em igual período, um ano antes.

A companhia atribuiu o recuo no indicador a fatores como os menores preços de minério de ferro e níquel. Outro aspecto ressaltado foi uma baixa de tributo diferidos relacionados às provisões da Fundação Renova, após o plano de recuperação judicial.

No período, o preço médio realizado de finos de minério de ferro foi de US$ 98,5 por tonelada, contra US$ 113,3 no segundo trimestre do ano passado. Nessa mesma base, o preço médio realizado no níquel foi de US$ 26,2 por tonelada, ante US$ 23.

No trimestre, a receita líquida da empresa foi de US$ 9,6 bilhões, um desempenho 13,3% inferior ao registrado há um ano. Já o Ebitda ajustado das operações continuadas teve queda de 26%, para US$ 3,8 bilhões, enquanto a margem Ebitda ajustada ficou em 40%, contra 47% um ano antes.

A Vale encerrou o segundo trimestre com uma dívida líquida de US$ 8,9 bilhões, alta anual de 65,7%. Já a relação dívida líquida/Ebitda ajustado foi de 0,6 vez, um aumento de 0,4 ponto percentual sobre o mesmo intervalo, em 2022.

Por volta das 13h40, as ações da Vale estavam sendo negociadas com queda de 2,70% na B3. Os papéis da empresa, avaliada em R$ 297,4 bilhões, acumulam uma desvalorização próxima de 23% em 2023.