Desde janeiro de 2023, a indústria de fundos de investimentos encolheu mais de R$ 100 bilhões, segundo dados da Anbima. Mas a SulAmérica Investimentos foi na direção oposta e cresceu 30% para alcançar R$ 70 bilhões sob gestão.

Por trás dessa expansão está uma captação de R$ 7 bilhões em fundos de renda fixa ativo e de R$ 16 bilhões na estratégia de crédito high grade. A gestora conseguiu capturar a busca pelo investidor de uma renda fixa mais rentável - algo que não parece perto de acabar.

O ciclo de corte dos juros, que levou a taxa Selic a cair de 13,75% ao ano para 10,75%, fez todos os investidores (do institucional ao varejo) procurarem por mais rentabilidade na renda fixa e apostarem nessas duas classes de ativos.

“Ao longo do ano e com a queda na taxa de juros, vimos uma migração de ativos pós fixados para renda fixa ativa e principalmente crédito privado. Vemos que os investidores querem se manter na renda fixa, mas adicionando um pouco mais de risco para ter melhor rentabilidade”, afirma Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos ao NeoFeed.

A SulAmérica estava preparada para capturar esse apetite do varejo. A gestora dobrou o número de plataformas de distribuição plugadas e chegou a 30 ao longo de 2023, incluindo nomes como o PicPay, Safra, C6 e Ágora. Esse aumento se refletiu no número de investidores, que saltou de cerca de 60 mil no início de 2023 para 130 mil.

A maioria deles estava em busca de juros com uma pitada a mais de risco para conseguir um retorno atrativo. Um exemplo é o fundo SulAmérica Ativo renda fixa, que entregou rentabilidade de 12,6% em 2023, e o fundo de crédito privado, com rentabilidade de 14,2% contra um CDI que fechou em 13% no acumulado de 12 meses.

“Nossa atuação dinâmica no mercado primário e secundário de crédito contribuiu para a boa performance relativa dos nossos produtos em relação a indústria. Além disso, também fomos muito ativos em risco de mercado, ou seja, nas estratégias de juros real, juros nominal e operações de arbitragem”, afirmou Mello.

É bem verdade que a performance dos fundos da SulAmérica ajudou a atrair esse fluxo de recursos para a casa. Mas outros fatores contribuíram também para esse movimento: o investimentos em pessoas nos últimos três anos e a construção de um departamento quantitativo para ajudar a precificar ativos.

A gestora trouxe Natalie Victal (ex-Garde Asset), como economista-chefe, Mário Amigo (ex-Nordea e HSBC), como head da área comercial e Gabriela Lacerda como relacionamento para investidores institucionais.

Uma grande demonstração desse apetite do investidor pela renda fixa mais sofisticada, na visão de Mello, foi o impacto que a tributação de fundo exclusivo e a restrição aos ativos isentos (LCI/LCA e CRI/CRA). Esses dois movimentos abriram espaço para o investimento em fundos, porém, apenas a renda fixa e o crédito capturaram essa demanda.

Segundo dados da Anbima do primeiro trimestre de 2024, a renda fixa captou um total de R$ 132 bilhões. Os fundos de renda fixa de infraestrutura capturaram R$ 22 bilhões e os de crédito privado mais de R$ 68 bilhões. Em contrapartida, os fundos de ações tiveram resgate de R$ 2,1 bilhões e os multimercado saídas de R$ 28,2 bilhões.

Na visão de Mello, isso tende a continuar ao longo de 2024, uma vez que as taxas de juros serão mais altas do que o esperado inicialmente.

"A atividade econômica tem sido resiliente e forte e o juro real tem subido. Nossa nova projeção para a Selic no fim de ano é de 9,5%, com viés de alta. Antes estávamos em 9%. Nesse cenário, acreditamos que o ano continuará a dar fluxo para a renda fixa e não para ações e multimercado”, diz o CEO da gestora.

Um ano ainda de renda fixa

Para 2024, a gestora mantém a visão de que grande parte dos investimentos continuarão nas estratégias de renda fixa. Porém, a SulAmérica projeta fazer investimentos na estratégia de multimercado ao longo do ano pensando em uma retomada do segmento em 2025.

A grande aposta do ano é a estratégia de debêntures incentivadas com a grande regulação que está sendo feita pelo governo no setor. A SulAmérica pretende adicionar analistas em seu fundo de infraestrutura. E também no seu mais novo setor, o imobiliário, em que a gestora entrou há cerca de dois anos com um fundo de CRI na expectativa de que a queda na taxa básica de juros elevará a valorização dos fundos imobiliários.

Outro segmento que a SulAmérica está apostando este ano é o de previdência privada. Nesse segmento, a seguradora do grupo tem plataforma aberta e parceria com diversas gestoras independentes e também da própria asset.

Após a expectativa de que grande parte dos fundos exclusivos (cerca de R$ 700 bilhões) migrariam para a previdência privada após a taxação ser frustrada, com o governo impedindo a constituição de fundos exclusivos de previdência, o segmento ainda deve surpreender em captação com a retomada da economia.

“O governo corretamente impediu fundos exclusivos de previdência, mas isso foi positivo no sentido que traz para a classe quem realmente está pensando no longo prazo. E como a indústria de previdência está atrelada a renda real, acreditamos que o crescimento econômico deve levar a uma captação líquida e bruta superior este ano ao ano passado”, afirma Mello.

No surfe é comum falar que não existe uma onda perfeita, mas bons surfistas sabem aproveitar as variações para fazer a manobra correta. Guardadas as devidas proporções, a SulAmérica não deixou a onda da renda fixa escalar. E a gestora continua atenta para se adaptar a qualquer tipo de formação das águas.