O tradicional painel com os gestores André Jakurski, sócio-fundador da JGP; Luís Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset; e Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, no Macro Day do BTG Pactual teve um tom diferente em 2025 das edições anteriores: menos preocupação com o Brasil e um otimismo do que está por vir.
Até o temor sobre o risco fiscal do início de 2024 parece ter ficado para trás. O motivo, segundo Xavier, é que independentemente do governo que assumir a disputada eleição do ano que vem, um ajuste fiscal sério terá de ser feito no primeiro ano do novo governo ou a máquina pública pode parar.
“Como o próprio ministro Haddad disse, esse arcabouço fiscal não foi o suficiente. Temos um encontro marcado com 2027, pois teremos que fazer um ajuste sério. Seja o Lula ou outro candidato que vencer, não tem jeito”, afirmou o sócio-fundador da SPX.
De acordo com Stuhlberger, essa será a eleição mais binária que o PT já concorreu. “Os preços de apostas de eleições mostram isso. Se a gente achar que a chance de ganhar (PT) é de 50% a 50%, a aposta de hedge a 7% está extremamente barata, mostra que o mercado não vê um cenário de calda pavoroso”, afirmou.
Para os gestores, há uma nova configuração desenhada pelo governo de Donald Trump. A queda da taxa de juros brasileira está contratada, assim como o movimento de valorização do real e a procura pelos ativos brasileiros. Esse é um movimento mundial em busca dos mercados emergentes, uma onda "compradora" que o Brasil pode surfar.
“Não é só no Brasil que a bolsa e a moeda estão subindo, é no México, Chile, Peru. Não tem nada a ver com a gente fazendo certo ou errado, é força para emergentes e papo encerrado. A China era “investível” há 2 anos e agora as ações já subiram 40% enquanto as ações nos EUA, 17%”, diz Jakurski.
Entre os bons ventos de fora, o que deve continuar é a desvalorização do dólar, mesmo que aconteça com menos intensidade. E esse movimento acontece mesmo com a bolsa americana renovando recordes, o que levaria, em tese, a uma entrada de dinheiro e consequente valorização da moeda americana.
“O dólar para desvalorizar não precisa ter saído dos Estados Unidos, basta não ter entrada adicional. Com déficit em conta-corrente gigante, uma pequena desaceleração na entrada de dinheiro já mexe no preço, e por isso a moeda tem se desvalorizado”, diz o sócio-fundador da JGP.
Stuhlberger pontuou que o dólar está caindo de uma base muito alta, mas além disso a agenda do governo Trump é clara: desvalorização cambial. E isso tem levado o mundo a buscar ativos reais.
“O mercado sabe que o Trump quer desvalorizar o dólar. Não é só no Brasil que tem esse boom de infraestrutura. É um movimento global de proteção da inflação”, disse o sócio-fundador da Verde.
Dos três titãs, Xavier se mostrou cauteloso quanto a essa dinâmica. Ele citou como exemplo 2007. Depois das altas recordes das bolsas americanas aconteceu a crise financeira de 2009. Desta vez, a base para todo esse hype das ações americanas é uma grande incerteza com o modelo de negócio da inteligência artificial.
Xavier também chamou a atenção para um risco real: o mercado de crédito, cujo spread está nas mínimas. “A dicotomia está entre Wall Street e Main Street. O mercado de trabalho nos Estados Unido tá perdendo dinamismo, e não é de agora; é há dois anos. É um sinal preocupante. Para onde vai a economia mundial. Ásia e Europa também estão com os dados horrorosos", disse ele. “Mas estou otimista com a possibilidade que se abre para o Brasil”.