Um dos principais gestores de fundos de hedge no mundo, Ken Griffin não alcançou essa posição, claro, por acaso. À frente da Citadel, fundada por ele em 1990, o americano de 55 anos está acostumado a destoar de boa parte dos players dessa indústria, ao registrar ganhos acima da média do setor.

Foi assim, por exemplo, em 2022, quando a gestora americana reportou um lucro após taxas de US$ 16 bilhões, um recorde no segmento. Para se ter uma outra dimensão dessa cifra, no mesmo período, os 20 maiores fundos de hedge dos Estados Unidos tiveram um retorno, somado, de US$ 22,4 bilhões.

O fôlego do investidor parece não ter se esgotado, porém, com o alcance desse marco. É o que mostra uma reportagem publicada pela Barron’s. Segundo fontes ouvidas pela revista americana, a Citadel registrou um retorno líquido de 15,3% em 2023.

Com esse desempenho, a gestora americana ficou bem à frente da média de 4,9% contabilizada por seus pares, segundo a consultoria Pivotal Path. Incluindo nessa esteira a Millennium Management, sua principal rival, que, de acordo com as mesmas fontes, fechou o ano com um ganho de 10%.

Mais do que uma questão restrita a esses números, o fato é que outros episódios mostram que a trajetória de Griffin e de sua gestora sempre tiveram um quê de “fora da curva”. A começar pela entrada do investidor, nascido em Daytona Beach, na Flórida, no mundo dos investimentos.

Sua estreia nessa arena aconteceu em 1986. Na época, ele cursava o primeiro ano de economia em Harvard e começou a fazer seus primeiros investimentos. O interesse pelo tema surgiu após a leitura de um artigo da revista americana Forbes.

Um ano depois, Griffin lançou seu primeiro fundo de hedge, que tinha como “sede” o dormitório da universidade e cuja operação se apoiava em um telefone, um PC e um fax. Para viabilizar o veículo, ele recorreu à famosa vaquinha, reunindo US$ 265 mil junto a familiares e amigos.

Nos dois anos seguintes, ainda em Harvard, o investidor autodidata se mostrou um aluno aplicado e chegou a administrar dois fundos que somavam US$ 1 milhão. E, ao se formar, em 1989, ele recebeu seu “diploma” na área.

A chancela veio com um aporte de US$ 1 milhão feito por Frank C. Meyer, cofundador da Glenwood Partners e um dos pioneiros dos fundos de hedge. Em um ano, Griffin gerou um retorno de 70% sobre esses recursos, que foram a chave para que ele fundasse a Citadel, já com US$ 4,6 milhões sob gestão.

Na época, um outro elemento reforçou a vocação do investidor em buscar a exceção, e não a regra. A Citadel foi criada e fez fama em Chicago, enquanto boa parte dos fundos de hedge se concentram em Nova York. Mais recentemente, a gestora mudou sua sede para Miami.

A escalada da operação também foi acelerada. Em apenas oito anos, a gestora superou a casa do bilhão. E, na trilha desse sucesso, Griffin ganhou notoriedade e passou a integrar, entre outros rankings, o Forbes 400, feito justamente pela revista que despertou sua atenção para esse mundo.

Boa parte dessa receita bem-sucedida se explica pela tese encampada por Griffin, que mescla a alocação dos investimentos em diferentes classes de ativos com análises quantitativas, apoiadas por modelos matemáticos e algoritmos na seleção dessas oportunidades.

A partir do resultado dessa combinação, a Citadel chegou ao patamar atual de US$ 63 bilhões de ativos sob gestão. Para se ter uma medida mais recente da evolução desse portfólio, em 2019, esse montante estava em cerca de US$ 33 bilhões.

Essa evolução se refletiu, naturalmente, na conta bancária de Griffin. O investidor tem uma fortuna estimada em US$ 36,1 bilhões, segundo o ranking Bloomberg Billionaire Index. E, apesar de seu perfil mais reservado, costuma chamar a atenção pelo destino dado a algumas parcelas desse patrimônio.

Uma dessas facetas é a de filantropo. Ao lado de sua esposa, Anne, e por meio da Citadel Foundation, Griffin costuma reservar somas consideráveis a doações, em particular, aquelas relacionadas projetos em áreas como educação, cultura e saúde.

Entre os nomes beneficiados por essas iniciativas estão instituições como o Hospital Infantil Ann & Robert e o Instituto de Arte, ambos de Chicago, assim como a universidade local. E ainda a própria Universidade de Harvard.

Parte da propriedade em Palm Beach, Flórida, onde Griffin planeja construir a casa mais cara do planeta (crédito - Stoev Design Group / Reprodução)

Griffin também separa parte dessa fortuna para as obras de arte, com maior predileção pelos impressionistas. Mas o que parece ocupar mais espaço, de fato, em sua lista de desejos – e de investimentos – são os imóveis, área em que ele também coleciona algumas marcas.

Em 2019, por exemplo, ele fez a maior transação imobiliária residencial da história do mercado americano ao desembolsar US$ 238 milhões por uma cobertura em Nova York. Ele já havia concretizado os acordos de maior valor especificamente em cidades como Chicago e Miami.

E, ao que tudo indica, Griffin prepara um novo recorde nessa área. Recentemente, ele comprou uma propriedade de 80 mil metros quadrados em Palm Beach, na Flórida. O bilionário pôs abaixo os imóveis existentes no local com o plano de erguer a casa mais cara do planeta.

O investimento projetado gira entre US$ 150 milhões e US$ 400 milhões, e o valor estimado da mansão, ao fim da obras, está em cerca de US$ 1 bilhão.