Em meio aos planos de criar uma nova bolsa de valores no Rio de Janeiro e os juros altos prejudicando o mercado de renda variável, as ações da B3 estão sob forte pressão. Desde o começo do ano, os papéis da operadora da Bolsa acumulam queda de 21,3%, um dos piores desempenhos entre as empresas financeiras que não são bancos.

Para o Bradesco BBI, dificilmente a situação deve melhorar no curto prazo. Apesar da ação apresentar um desconto elevado em relação a seus pares globais, a falta de catalisadores afeta as perspectivas da companhia.

A situação fez com que os analistas Gustavo Schroden, Eric Ito e Gabriel Menezes reassumissem a cobertura das ações da B3 com recomendação neutra e preço-alvo de R$ 13, o que representa um upside de 16,4% em relação ao patamar atual em que os papéis são negociados.

“Embora reconheçamos que parte da evolução do preço das ações esteve provavelmente associada a preocupações de mercado sobre taxas de juros mais altas por mais tempo e volumes de negociação fracos, acreditamos que o aumento do desconto do P/L desconto para pares globais parece ser excessivo, uma vez que a velocidade de giro de mercado é semelhante à média dos pares”, diz trecho do relatório.

Os analistas do Bradesco BBI adotaram uma postura conservadora quanto às perspectivas para a retomada do mercado de capitais, considerando que a Selic deve permanecer em patamares elevados por mais tempo – o Relatório Focus divulgado nesta segunda-feira, 22 de julho, aponta que a mediana das projeções para a taxa básica de juros em 2024 permaneceu em 10,50% e em 9,50% para 2025 pela quinta semana consecutiva.

“Para nós, as ações [da B3] podem se valorizar em caso de potenciais surpresas com cortes mais rápidos do que o esperado do juros, mas este não é o nosso cenário base”, diz trecho do relatório. “Vemos incerteza no gatilho positivo para o curto prazo, o que poderá dificultar um potencial re-rating da empresa.”

Ainda que o cenário não seja favorável, os analistas do Bradesco BBI apontam que as ações da B3 chegaram a registrar um desconto no P/L de 44% em relação ao seus pares neste ano, sendo que, historicamente, essa diferença é de cerca de 29%. Para eles, a diferença, nessas proporções, é exagerada.

“A ampliação do desconto do P/L da B3 em relação aos seus pares globais parece
excessivo, já que a empresa está negociando a 12,5 vezes o P/L para os próximos 12 meses, o que está próximo de seu ponto mais baixo histórico desde 2018, ao mesmo tempo que proporciona ROEs significativamente maiores do que os seus pares e níveis de velocidade de giro de mercado semelhantes”, diz trecho do relatório.

Os analistas do Bradesco BBI destacaram ainda que a B3 apresenta uma perspectiva de dividend yield atrativo para 2024, na casa dos 7,9%, acima da média projetada para os bancos, de 4,6%.

Por volta das 11h49, as ações da B3 subiam 0,8%, a R$ 11,28. O valor de mercado da companhia soma R$ 61,6 bilhões.