O presidente Donald Trump mal completou uma semana no cargo e já tem uma baixa de peso em seu governo, confirmada nesta quinta-feira, 23 de janeiro, mas que era de conhecimento do círculo político republicano desde a posse.

O empresário de biotecnologia Vivek Ramaswamy, convidado por Trump para co-dirigir ao lado de outro bilionário, Elon Musk, o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) – espécie de órgão consultivo externo -, abandonou o barco em meio a um processo que mudou o status do DOGE, que passou a fazer parte do governo, e apenas confirmou a crescente ascendência de Musk junto ao presidente americano.

Ramaswamy e Musk se conheceram em 2023, quando o empresário de biotecnologia ainda desafiava Trump pela indicação presidencial republicana. Após a vitória em novembro e o anúncio da criação do órgão, os dois bilionários conviviam sem maiores rusgas em público.

Nas últimas semanas, porém, quando a estruturação do DOGE passou a ser discutida de forma mais intensa, as diferenças entre ambos começaram a florescer.

Enquanto Musk insistia em defender cortes de gastos e o uso de inteligência artificial para reduzir a força de trabalho federal, Ramaswamy pretendia priorizar no DOGE ações na desregulamentação da economia e nos argumentos constitucionais para reduzir o tamanho do governo – os dois tópicos sobre os quais ele falou durante anos em artigos, entrevistas e na campanha eleitoral.

A imprensa americana afirma que o círculo íntimo de assessores de Trump também ficou incomodado com a franqueza de Ramaswamy sobre praticamente qualquer assunto, sempre demonstrando independência, uma tendência que também irritou o dono da Tesla e da SpaceX.

Durante a transição de Trump, houve especulação interna sobre se o DOGE seria criado dentro do governo, potencialmente como um comitê consultivo federal, na forma de um think-tank externo ou um grupo de advocacia criado como uma organização sem fins lucrativos. Ramaswamy há muito argumentava que o DOGE deveria atuar fora do governo.

Musk nunca se preocupou em se manifestar qual seria o status do órgão, apenas defendia que tivesse liberdade de atuação. A presença assídua do dono da Tesla ao lado de Trump reforçou a percepção de que Musk estaria influenciando o presidente americano.

A confirmação de que havia algo estranho no ar surgiu após a posse. Musk se alojou num escritório na Ala Oeste da Casa Branca, enquanto Ramaswamy se mudou para seu estado natal, Ohio, para anunciar na semana que vem uma candidatura planejada para governador em 2026.

A provável candidatura não era segredo, mas esperava-se que Ramaswamy ficasse mais tempo no governo até para faturar politicamente com os primeiros anúncios de Trump.

Mudança de status

Uma ordem executiva, entre as dezenas assinadas pelo presidente no dia da posse, acabou expondo a reviravolta no DOGE: o órgão funcionará dentro do Poder Executivo, num arranjo que indiretamente reforçaria a vitória de Musk na queda de braço com Ramaswamy.

A nova entidade será chamada de United States DOGE Service, substituindo um órgão existente - o United States Digital Service, que foi estabelecido pela administração Obama após as falhas iniciais do site Obamacare. A agência foi encarregada de impulsionar os serviços de tecnologia da informação para agências federais.

A ordem executiva exige que agências federais individuais criem equipes DOGE com um líder de equipe, um engenheiro, um especialista em recursos humanos e um advogado.

Especialistas afirmam que levar o DOGE para dentro do governo poderia evitar dores de cabeça legais - minutos depois que Trump se tornou presidente, o DOGE foi atingido por três processos abertos por entidades ligadas a funcionários federais, denunciando que suas reuniões foram realizadas em segredo e os registros não estavam disponíveis ao público.

Um aspecto da ordem executiva de Trump — em um aceno a uma prioridade fundamental de Musk — insta as agências a implementar a agenda DOGE "modernizando a tecnologia e o software federais para maximizar a eficiência e a produtividade governamentais".

O esforço de Musk, que lhe dará uma visão adicional considerável sobre um governo com o qual ele faz negócios significativos, deve ser concluído até 4 de julho de 2026.

A incorporação do DOGE ao Poder Executivo, porém, levanta novas questões. O DOGE agora está sujeito a novas regras de transparência e ética, particularmente em torno de leis de informação pública.

Fazer parte do governo também significa que Musk não pode usar sua fortuna privada para financiar as operações do DOGE, como já havia sugerido.

Enquanto isso, o Escritório de Gestão de Pessoal de Trump está tomando medidas que lembram as metas iniciais do DOGE: pedir que agências federais elaborem listas de trabalhadores que poderiam facilmente demitir – uma ideia defendida por Musk.