As ações da JBS registraram a maior alta entre os papéis do Ibovespa nesta terça-feira, 18 de março, depois de a sua controladora, a J&F, fechar um acordo com o BNDESPar que abre caminho para a listagem da companhia em Nova York.

Os ativos da JBS encerraram o pregão com alta de 17,9%, a R$ 38,61, enquanto o Ibovespa terminou o dia com avanço de 0,49%, aos 131.474,73 pontos. Em 12 meses, as ações acumulam ganho de 66,8%, levando o valor de mercado a R$ 85,6 bilhões.

A J&F, holding dos irmãos Wesley e Joesley Batista que controla a JBS, fechou um acordo prevendo que o braço de participações do BNDES (e que detém 20,8% do capital social) se absterá a votar na assembleia que vai decidir sobre a dupla listagem da fabricantes de alimentos no Brasil e nos Estados Unidos, país que já representa mais de 50% do faturamento da empresa.

O acerto prevê ainda que o BNDESPar poderá receber uma remuneração de até R$ 500 milhões na hipótese das ações apresentarem uma valorização inferior a um determinado patamar estabelecido entre as partes (os termos desse ponto não foram divulgados).

O acordo com BNDESPar retira uma grande incerteza da frente do plano da JBS de listar suas ações em Nova York – em 2016, o banco estatal vetou a possibilidade de uma reorganização societária da companhia, que previa a listagem nos Estados Unidos.

Sem os votos do BNDES, nem da J&F que detém aproximadamente 48% da JBS e não pode votar na assembleia que decidirá sobre a questão –, cerca de 30% do capital tomará a decisão. A JBS precisa de maioria simples dos presentes para seguir com a dupla listagem.

Os analistas do BTG Pactual destacaram o acordo como positivo ao retirar um “enorme overhang” que pendia sobre as ações da JBS, diante das especulações de que o BNDES poderia vender suas ações no mercado, pressionando os papéis para baixo.

“Este recém-desenvolvimento não apenas melhora a visibilidade a respeito da listagem nos Estados Unidos como também alivia uma preocupação dos investidores, a respeito da pressão sobre as ações de uma enorme venda de participação”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris.

A dupla listagem é defendida pela JBS há tempos, sob o argumento de que ela ajudará a destravar valor da empresa, bem como abrir caminho para que investidores institucionais internacionais possam investir na companhia.

Os analistas do Citi destacam essa questão do destravamento do valor, afirmando que a JBS é negociada a um “desconto significativo” em relação à Tyson, apesar de sua diversificação em termos de oferta de proteína e posicionamento geográfico.

Listada no Brasil, a JBS apresenta um EV/Ebitda de 4,7 vezes, enquanto o múltiplo da Tyson gira em torno de 8,4 vezes. “Um re-rating hipotético para 6,5 vezes, ainda que represente um desconto significativo frente à Tyson, implicaria num upside de 40% das ações em relação ao patamar atual”, diz trecho do relatório do Citi.

Segundo apurou o NeoFeed, tão logo a Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos) conclua os questionamentos que têm feito à JBS, a companhia entrará com pedido de registro nos Estados Unidos. Depois disso, é preciso convocar a assembleia para aprovar a dupla listagem.

A expectativa de pessoas próximas à JBS é de que até o fim de 2025, a companhia consiga estar listada tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.