Três “santos” enxugam o calendário parlamentar nas próximas semanas apesar da importância das pautas em discussão na Câmara e no Senado. E será necessário um esforço hercúleo ou de grande interesse do Congresso, não exatamente do governo, para frear a debandada de deputados e senadores rumo às suas bases para celebrar Santo Antônio, São João e São Pedro nas festas juninas de forte tradição no Norte e Nordeste – “berço” de 80% dos integrantes do comando das duas Casas.
As celebrações religiosas já começaram, mas se estendem formalmente de 13 a 29 de junho. Santo Antônio é comemorado nesta sexta, 13; São João, no dia 24; São Pedro, em 29. Mas outros eventos truncam agendas de trabalho e podem empurrar o “expediente” de vez para o segundo semestre.
Entre um “santo” e outro, em 19 de junho, Corpus Christi banca um fim de semana prolongado e de liquidez restrita no mercado financeiro. A equipe econômica, por sua vez, sofrerá uma “baixa” com as férias de Fernando Haddad entre 16 e 20 de junho. E julho chegará carimbado pelo recesso parlamentar, a partir do dia 18.
Até lá, a agenda – ampliada pela MP de receitas complementares ao IOF – prevê a apresentação de parecer sobre a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil e medida compensatória, o relatório sobre o Comitê Gestor da Reforma Tributária e discussões sobre o licenciamento ambiental e a MP do setor elétrico que comporta a gratuidade da conta de luz a milhares de brasileiros, a partir de 5 de julho. Não menos importante e ruidosa é a possibilidade de instalação da CPMI para investigar o desvio de R$ 6,5 bilhões em aposentadorias e pensões do INSS.
Apesar da romaria dos “santos”, compromisso inadiável terá o Banco Central de Gabriel Galípolo que comandará mais uma reunião do Copom, em 17 e 18 de junho. Datas coincidentes com a decisão do Federal Reserve, o BC norte-americano, sobre sua taxa básica – inalterada desde o início do ano.
A ferramenta FedWatch, do CME Group, prevê a manutenção do juro, nos EUA, na faixa de 4,25% a 4,50% e aponta um corte em setembro e outro em dezembro, para 3,75% a 4%. A inflação ao consumidor de maio saiu na quarta-feira, 11. E, aquém do esperado, reforçou a sinalização. Mas o Fed não tem pressa se mover – a economia vai bem com o mercado de trabalho sem estresse e há incerteza quanto aos efeitos inflacionários do vaivém de tarifas comerciais disparadas por Trump.
O acordo EUA e China está fechado, afirmam os dois governos, mas as perspectivas são nebulosas para os parceiros comerciais em geral, após Trump afirmar que tomará novas decisões nas próximas duas semanas. A suspensão por 90 dias de tarifas recíprocas termina em 9 de julho entre EUA e os demais países. Entre EUA e China, o prazo expira em 12 de agosto. Tem tempo até lá.
No Brasil, a inflação desacelerou de 0,43% para 0,26% em maio e de 5,53% para 5,32% em 12 meses e freou – mas não abortou – apostas no aumento da Selic em 0,25 ponto percentual, para 15%. Entretanto, a inflação mais benigna e a queda nas vendas do varejo em abril, interrompendo uma sequência de três meses de expansão, conspiram a favor da manutenção da taxa em 14,75%.
Em “placar” de juro real, Galípolo apanha de Meirelles
A Selic atual é a mais elevada desde julho de 2006 – ano de taxa em declínio após atingir o pico de 19,75% em 2005. Num mero exercício de juro real, o BC de Galípolo seria perdedor com cerca de 9%, ante 10,3% do BC de Henrique Meirelles há quase duas décadas.
Denominador comum aos dois cenários de custo do dinheiro estratosférico, porém considerado necessário para o BC cumprir a meta de inflação, é Lula na presidência da República com discurso monocórdio – do qual se orgulha – em defesa de maior crescimento econômico, distribuição de riqueza e combate à pobreza. Trilhar o caminho para a reeleição é outra “variável” comum aos dois momentos. No final do primeiro mandato, em 2006, deu certo.
Lula ganhou um segundo mandato concluído em 2010 com PIB em alta de 7,5%. Juro em queda, crédito em expansão e o boom das commodities – sustentado pelo vigor do crescimento da China – levaram o Brasil a esse resultado exuberante que seria anulado nas estatísticas pelo descalabro fiscal e dois anos de recessão no governo Dilma encerrado com seu afastamento do cargo.
Hoje, apesar do juro real, da incerteza derivada de políticas protecionistas de Trump a contaminar o ambiente global e do aumento de tensões no Oriente Médio, a economia brasileira resiste. Porém, nem com reza brava, o ano terminará com IPCA abaixo do teto da meta, 4,5%. A Focus prevê 5,44%. Para os próximos anos, as projeções superam o centro da meta, 3%, por larga margem.
A taxa real de dois dígitos arrastou, em 2006, a inflação a 3,14%. Resultado bem inferior à meta central daquele momento, 4,50%, com tolerância de 2 pontos para mais e para menos para absorver choques de preços. E, apesar da política monetária, a economia não capotou. Apenas em 2006, o PIB cresceu 3,96%. Quase duas décadas depois, na primeira metade do Lula 3, a atividade também surpreendeu positivamente, mas deve desacelerar neste ano e no próximo, ainda segundo a Focus.
Aperitivo quanto à atividade no início do segundo trimestre poderá ser provado na segunda e na terça, 16 e 17 de junho, quando o BC e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) divulgarem, respectivamente, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) e o Monitor do PIB.
Os dois indicadores referem-se a abril – sucessão de um primeiro trimestre animador. Em março, o IBC-Br subiu 0,8% ante o mês anterior e fechou o trimestre em alta de 1,3%. O Monitor do PIB avançou 1,3% e 1,6% na mesma base de comparação. Em 12 meses, ambos avançaram 3,5%.