Nos últimos anos, a Positivo Tecnologia intensificou sua estratégia de diversificação para ir além do computador pessoal. Entrou em diversas áreas, que vão de celulares, dispositivos IoT e de segurança até em serviços de tecnologia.

Agora, a Positivo Tecnologia planeja surfar a onda da inteligência artificial com o desenvolvimento de servidores de IA — um universo ainda pouco navegado pelas empresas brasileiras.

Até 2026, a Positivo Tecnologia deve entregar um superservidor de IA a uma empresa brasileira (cujo nome não pode ser ainda revelado), e que deverá ser um dos maiores do tipo na América Latina. Para se ter uma ideia da dimensão, o equipamento deverá usar mais de 2 mil chips B200 da americana Nvidia. O contrato com a empresa deve ser assinado nas próximas semanas.

Com previsão de faturar entre R$ 4,4 bilhões e R$ 4,8 bilhões em 2025, a perspectiva da Positivo é de que esse novo segmento represente, ainda neste ano, pelo menos 10% da receita da companhia — algo em torno de R$ 500 milhões.

“A oportunidade de servidores com IA no Brasil é enorme e estamos apostando nesse mercado. Temos uma parceria com a Supermicro [fornecedora americana de infraestrutura para data centers], que está na vanguarda neste segmento de servidores, justamente para atender essa demanda”, diz Hélio Rotenberg, fundador e CEO da Positivo, em entrevista ao NeoFeed.

“O boom do mercado de servidores com inteligência artificial no País deve ser entre 2026 e 2027 e vamos estar muito bem-posicionados”, complementa.

Ao mesmo tempo, a Positivo adota também o modo de compasso de espera diante do andamento do Plano Nacional de Data Centers, que deve atrair até R$ 2 trilhões em investimentos nos próximos 10 anos. O fato é que o pacote do governo federal ficou em segundo plano após a crise do Ministério da Fazenda envolvendo mudanças na alíquota do Imposto sobre Movimentações Financeiras (IOF).

“A gente está próximo deste projeto, mas ainda não sabe quando será implementado. É importante que saia logo, porque o Brasil precisa ter protagonismo e soberania em inteligência artificial”, avalia Rotenberg.

Esse é mais um passo da estratégia de diversificação da Positivo. Em 2017, a divisão consumer, onde está a venda ao consumidor final de computadores e tablets, representava 70% do faturamento da empresa. No fim de 2024, esse índice era de 32%. Vendas para instituições públicas somavam 31%, e o mercado corporativo privado, 37%.

Essa tendência de ampliação do mercado privado vem se mantendo em 2025. Nos primeiros três meses do ano, o setor passou a representar 48% da receita. E é justamente nessa vertical da empresa que está a aposta do desenvolvimento de servidores com IA.

Nesse sentido, o fundador da Positivo deixa claro que o objetivo central da companhia, neste momento, é focar no desenvolvimento e implementação de servidores com IA para empresas brasileiras.

“Muitas empresas começam a se preocupar em processar seus modelos de IA dentro de casa, por questão de segurança. Essa é uma tendência dos mercados mais desenvolvidos. Bancos, por exemplo, passam a processar suas LLMs (Large Language Models) internamente”, diz o empresário.

De acordo com Rotenberg, esse modelo ainda não chegou ao Brasil, mas não deve demorar. Além disso, há a tendência de mudança dos data centers convencionais, com instalações de GPUs (unidades de processamento gráfico) para processar inteligência artificial.

Para o empresário, se todas essas oportunidades postas se concretizarem, a expectativa é de que, nos próximos anos, o faturamento da Positivo ligado a servidores com inteligência artificial dobre e ultrapasse R$ 1 bilhão por ano.

O raciocínio de Rotenberg em apostar no desenvolvimento de IA para o crescimento da empresa está em linha com o resultado do estudo “Antes da TI, a Estratégia”, realizado em junho pelo IT Fórum — principal ecossistema de tecnologia do País — e que apontou que 80% das empresas planejam investir ou já investiram em IA neste ano.

Segundo o levantamento, que ouviu 315 profissionais do setor, a eficiência operacional (73%) e a produtividade (53%) são vistas como as principais vantagens da implementação do novo modelo.

Diversificação

A diversificação dos negócios da Positivo, na avaliação de Rotenberg, explica, em parte, o resultado financeiro do primeiro trimestre deste ano, que aponta queda de 27,7% no faturamento (R$ 851 milhões) e um prejuízo líquido de R$ 12,6 milhões.

“Quando mudamos de área, é necessário fazer investimento. E há um momento em que a empresa diminui um pouco a receita, para aportar nessas novas avenidas”, diz Rotenberg.

A perspectiva de investimentos da Positivo para 2025 gira em torno de R$ 250 milhões — incluindo R$ 50 milhões em capex e os outros R$ 200 milhões em pesquisa e desenvolvimento. Parte desses recursos está na implementação de equipamentos e produtos com IA.

No ano passado, a companhia adquiriu a Algar Tech MSP, unidade de serviços gerenciados de TI da Algar. A fusão com a Positivo Tech Services gerou a criação da Positivo S+, que hoje representa 16% da receita da empresa.

A companhia também tem avançado no desenvolvimento de máquinas de pagamento "inteligentes" — não apenas para cobranças, mas para realizar pedidos de clientes em restaurantes, por exemplo. Desde 2017, já foram produzidas 1,6 milhão dessas máquinas.

E aguarda o anúncio da abertura de licitação, por parte da Caixa Econômica Federal, para renovação dos terminais lotéricos. Como a instituição já forneceu os parâmetros iniciais, a Positivo já desenvolveu os equipamentos.

No último pregão, na segunda-feira, 30 de junho, as ações da companhia na B3 fecharam em alta de 2,27%. No acumulado de 2025, no entanto, os papéis registram queda de 9,4%. A empresa está avaliada em R$ 639,5 milhões.