Depois de mudar o nome, a estratégia e o preço da mensalidade de sua plataforma de vídeos, o YouTube finalmente parece estar acertando a mão para tentar fazer frente a concorrentes como Netflix e Disney+. E a fórmula é simples: conteúdo original.
Um documentário sobre a vida do cantor Justin Bieber, levado ao ar em janeiro deste ano, foi a primeira grande empreitada da plataforma de vídeos do Google. O YouTube desembolsou US$ 20 milhões por 10 episódios em que o artista canadense revela suas intimidades, inclusive sobre seu casamento.
O mais alto aporte em conteúdo próprio já feito pela empresa teve retorno na mesma proporção: 32,5 milhões de pessoas assistiram ao primeiro capítulo da série na primeira semana de exibição. Foi a maior audiência registrada pelo YouTube para um programa original.
Embalado por esse sucesso e pelo boom do streaming mundial durante a crise do novo coronavírus, o YouTube Originals, como é chamado o "estúdio" responsável por conteúdo próprio da casa, levou ao ar, em 19 de maio, outra grande promessa.
Dessa vez, a aposta foi na atriz, cantora e influencer Lele Pons. Com mais de 40 milhões de seguidores no Instagram e 16,3 milhões de inscritos em seu canal no YouTube, a artista conta em três episódios sua guerra contra transtornos mentais e outros desafios pessoais.
A primeira parte do documentário "A Vida Secreta de Lele Pons" já coleciona, em menos de uma semana no ar, mais de 3,5 milhões de visualizações.
A mais recente novidade do YouTube Originals foi desenvolvida por conta da crise do novo coronavírus. Para ajudar seus usuários a enfrentarem a reclusão compulsória, a plataforma lançou há poucos dias o "Create Together", um projeto de minisséries colaborativas apresentadas pelo ator Joseph Gordon-Levitt.
Com seis episódios, a proposta é unir amigos e familiares ao redor do mundo em trabalhos de criação colaborativos, mas remotos.
Um indicativo de que a aposta em conteúdo original tem dado resultado é o crescimento do número de assinantes do YouTube Series, que alcançou a marca de 20 milhões em fevereiro.
O número ainda é pequeno, perto dos 2 bilhões de usuários que acessam gratuitamente o YouTube. Mas mostra que a ferramenta vem ganhando tração depois de anos turbulentos.
Desde 2015, o YouTube investe em streaming. No princípio, com um serviço chamado YouTube Red, que, por US$ 9,99/mês, permitia aos assinantes consumir, sem a interrupção de anúncios, todo o conteúdo de vídeo e áudio disponível na plataforma. Outra vantagem seria o acesso a séries e filmes exclusivos.
Mas a estratégia não deu certo. Um ano depois, apenas 1,5 milhão de pagantes aderiram à ideia. Parte dos problemas foram solucionados em 2018, quando o YouTube deu um refresh completo em seu serviço, mudando seu nome de Red para Premium.
A cobrança também foi ajustada para US$ 11,99. Agora, os usuários, além de "driblarem" os anúncios, também podem ouvir suas músicas prediletas ou assistir a seus vídeos mesmo offline. O conteúdo original, dali para frente, seria disponibilizado em todos os canais da empresa, mesmo os gratuitos.
Enquanto as demais empresas de streaming, como Netflix, Disney+ e Hulu contam apenas com a receita provenientes das mensalidades, o YouTube também fatura com publicidade, que sempre foi seu ponto forte.
Em 2019, a receita da empresa foi de US$ 15 bilhões, sendo que US$ 3 bilhões vieram de assinaturas e outros serviços não-publicitários. Para fins comparativos, o líder do mercado, Netflix, que não tem publicidade, movimentou US$ 20 bilhões no mesmo período.
Mas essa diferença pode ser reduzida em plena crise do coronavírus. As mudanças de hábitos decorrentes das medidas de isolamento social fizeram com que as plataformas de streaming experimentassem um verdadeiro boom.
O recém-lançado serviço de streaming Disney+, por exemplo, atingiu a marca de 50 milhões de usuários pagantes. Algo que, pelo planejamento inicial da empresa, só aconteceria daqui dois anos.
O Google comprou o YouTube em 2006, por US$ 1,65 bilhões. Agora, a analista Laura Martin, da Needham & Company, calcula que a empresa possa valer até US$ 300 bilhões. Os próximos resultados da empresa – e do Premium – devem trazer mais clareza sobre a avaliação da analista.
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