Em dezembro de 2020, a Conta Simples captou US$ 2,5 milhões em uma rodada liderada pelo Quartz, fundo que tem entre seus sócios José Galló, ex-CEO da Renner, e fortaleceu seu caixa para se posicionar no mais novo campo de batalha das fintechs: as contas bancárias das pequenas e médias empresas.
Agora, a fintech ganha ainda mais fôlego nessa corrida. A startup anuncia nesta terça-feira um aporte de US$ 2,5 milhões, capitaneado pela Y Combinator. Antecipado com exclusividade ao NeoFeed, o montante complementa o investimento seed de dezembro, somando, nas duas rodadas, R$ 28 milhões.
A rodada chama a atenção por ser a primeira vez que a Y Combinator investe esse volume de recursos em uma startup brasileira. Mesmo em outros países, a aceleradora é conhecida por assinar cheques de até US$ 150 mil, como fez com a própria Conta Simples, em julho do ano passado.
“Já temos uma operação saudável do ponto de vista financeiro. Essa seed extension vem sob uma ótica mais estratégica”, afirma Rodrigo Tognini, cofundador e CEO da Conta Simples, ao NeoFeed. “Agora, temos combustível no tanque para acelerar mais os projetos ambiciosos que temos pela frente.”
Sócia da Y Combinator, Anu Hariharan também comenta os motivos do aporte fora dos padrões da aceleradora. “Decidimos aumentar o investimento na Conta Simples devido ao seu impressionante crescimento no último ano”, diz ele, em nota. “Estamos muito otimistas com os próximos passos.”
Fundada em 2018, a Conta Simples nasceu com uma conta corrente digital destinada às PMEs, além de empresas da chamada nova economia e mesmo companhias de maior porte, mas com grande foco em operações digitais, em segmentos como e-commerce e marketplaces.
Com a entrada dos novos recursos, a fintech vai ampliar seu portfólio e dar vazão a uma linha que já vinha sendo testada há cerca de dez meses pela startup: a oferta de um software de gestão de despesas voltado a esse público.
Segundo Tognini, o movimento está alinhado com uma tendência seguida por referências da startup no exterior. Entre elas, as americanas Ramp, AirBase e Brex. Essa última, fundada pelos brasileiros Henrique Dugubras e Pedro Franceschi, e parte, também, do portfólio da Y Combinator.
“Essa é uma das grandes dores desse perfil de empresa e o mercado brasileiro ainda é carente de uma solução que integre o software à conta corrente”, observa o CEO da Conta Simples. “Nós já tínhamos essa plataforma embrionária. Mas decidimos evoluir o produto antes de fazer esse reposicionamento.”
Comercializada no modelo de software como serviço, a plataforma permite, por exemplo, emitir cartões de crédito corporativos, físicos e virtuais, com a bandeira Visa, para cada centro de custos ou área da empresa.
Ao mesmo tempo em que dá autonomia para cada equipe, as empresas conseguem definir limites de gastos para cada departamento. A mesma abordagem é aplicada em relação a outras operações realizadas pela plataforma, para as quais é possível estabelecer diferentes níveis de aprovação e acesso.
“Temos um ciclo de desenvolvimento com novos recursos a cada dois meses”, explica Tognini. “Aos poucos, estamos acrescentando funções e operações como pagamento de salários, categorização de despesas e conciliação bancária.”
A cifra captada junto à Y Combinator será usada para escalar essa oferta, tanto junto à base de clientes da Conta Simples, composta atualmente por cerca de 25 mil CNPJs, quanto além dessa carteira.
Assim, parte do montante está reservada para investimentos em marketing e na ampliação da equipe, dos 40 profissionais no início do ano para um quadro de 100 funcionários até o fim de 2021.
No médio prazo, o aporte também ajudará a fintech a começar a consolidar um terceiro pilar da sua estratégia: os produtos e serviços financeiros. A ideia é adicionar uma prateleira composta por ofertas como seguros, investimentos e, principalmente, crédito.
Nesse percurso, a Conta Simples já prevê a entrada junto ao Banco Central para atuar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD). A estreia nesses segmentos, no entanto, deve acontecer via parceiros, para mitigar o risco da iniciativa, e está prevista para 2022.
“No fim do dia, toda fintech precisa pensar em crédito. É onde está o grande pote de ouro. Conosco, não é diferente, o que muda é como queremos fazer isso”, afirma Tognini. “Ainda há oportunidades a serem exploradas nesse oceano das fintechs, que está ficando vermelho.”
Espaço concorrido
Ao unir essas três pontas – conta corrente, software de gestão de despesas e produtos e serviços financeiros, a ideia da Conta Simples é se diferenciar nessa que é, de fato, a mais nova arena de disputa do setor.
Não são poucos os nomes dispostos a atrair os CNPJs das PMEs e empresas da nova economia. A lista inclui fintechs mais estabelecidas, que iniciaram suas jornadas junto às pessoas físicas, como Nubank, C6, Inter e Original.
Outra relação de rivais passa por fintechs especializadas nesse público, que unem contas digitais da própria lavra com softwares de gestão de parceiros, como a Cora e a Linker. Além de novatas como a mexicana Clara, que oferece uma plataforma de gestão de despesas e acaba de desembarcar no País.
A competição não está restrita às startups. Ela passa por companhias como Stone, Totvs e, recentemente, foi encorpada pelo Itaú Unibanco, que lançou a plataforma Itaú Meu Negócio, que vai reunir suas ofertas tradicionais com produtos e serviços não bancários. A primeira parceria envolve os sistemas de gestão da Omie, conhecida por sua atuação junto às PMEs.
“Cada uma dessas empresas está seguindo caminhos distintos e ainda é cedo para apontar quem sairá vencedor”, diz Eduardo Fuentes, analista do hub de inovação Distrito. “O fato é que esse é um nicho difícil de ser atendido, prova disso é o Neon, que encerrou sua conta PJ recentemente.”
Apesar desse desafio, um levantamento do próprio Distrito traz um retrato do quanto o segmento está na ordem do dia do setor. Segundo o hub de inovação, hoje, 52,5% das fintechs do País já trabalham com alguma oferta voltada a empresas, boa parte delas, PMEs.