O PicPay postergou o seu IPO para 2023, mas a agenda de consolidação e aquisições não foi adiada. É o que ficou comprovado, nesta manhã, com o anúncio da compra da fintech GuiaBolso, uma precursora do Open Banking no Brasil, que conta com 6 milhões de usuários. O negócio foi noticiado em primeira mão pela agência de notícias Reuters e coloca a fintech do grupo J&F em uma posição privilegiada para disputar esse mercado.
A compra já faz parte do plano do grupo da família Batista de aportar R$ 3 bilhões para a expansão do PicPay, hoje com 55 milhões de usuários, e alcançar 100 milhões de usuários até 2023, quando estaria pronta para voltar à carga e abrir seu capital na Nasdaq. E as negociações duraram apenas três dias. “Foi mais rápido do que se estivesse negociando com um fundo de venture capital”, diz Thiago Alvarez, cofundador e CEO do GuiaBolso, ao NeoFeed.
Eduardo Chedid, vice-presidente de serviços financeiros do PicPay, diz que a agilidade se deve, principalmente, à complementaridade das operações. “As duas empresas nasceram em 2012 e cada uma está ligada a duas revoluções que estão acontecendo no mercado”, afirma Chedid ao NeoFeed. “O PicPay antecipou o Pix e o GuiaBolso foi o primeiro a desbravar o Open Banking.”
O NeoFeed apurou com fontes de mercado que o PicPay pagou entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões pelo GuiaBolso. A maior parte foi em dinheiro e o restante em ações do PicPay, que ficarão nas mãos de Thiago Alvarez e Benjamin Gleason, os fundadores do GuiaBolso. Alvarez, aliás, vai se tornar diretor de open banking do PicPay e todos os funcionários da fintech migrarão para o grupo.
Com essa aquisição, o PicPay corta caminho no seu objetivo de se tornar um grande marketplace financeiro. Atualmente, o Banco Original, que também pertence ao grupo J&F, é o seu maior parceiro – o que gerou muitas críticas de investidores na tentativa de IPO. Agora, com o GuiaBolso, vai adicionar marcas como BV, Órama, Creditas, Digio, Icatu, que estão plugadas no GuiaBolso.
Um executivo que analisou a operação do GuiaBolso há pouco tempo diz que, financeiramente, não deverá trazer grandes saltos para o PicPay, mas o que vai trazer de ganho para a companhia é no conhecimento de open banking, no desenvolvimento de agregador de contas e na aceleração do marketplace financeiro. “Uma coisa é você ter os dados dos usuários, outra coisa é saber refinar e trabalhar com eles”, diz Alvarez.
“O PicPay poderia desenvolver essas tecnologias, mas demoraríamos. Com o GuiaBolso, ganhamos tempo”, diz Chedid. Os produtos deverão ser acoplados no PicPay nos próximos meses. Ter um consolidador de carteira próprio é a nova corrida dos bancos e das fintechs. Com o open banking batendo à porta, são os agregadores que terão o maior relacionamento com os clientes.
O Itaú apresentou recentemente o Íon como a sua “arma” nesse segmento. O BTG Pactual comprou a Kinvo e também a Real Valor. A XP investiu na Fliper. Outras fintechs como TradeMap estão ganhando muito mercado. E há muita movimentação das instituições financeiras para ter suas consolidadoras de contas e carteiras.
“Para nós, trará mais recorrência”, diz Chedid. Como o PicPay pretende ser um app de tudo, ter um agregador conhecido no mercado e com um excelente track record nesse segmento, faz toda a diferença. “O usuário poderá ter a jornada toda dele no nosso app”, diz Chedid.
A tacada do PicPay vai além. Na próxima fase do open banking, se o usuário permitir, ele poderá consolidar todas as suas contas num único fazer todos os pagamentos e movimentações em um único ambiente. Nesse sentido, pode ter uma conta no Santander, no Nubank ou em qualquer outra instituição financeira, e usar o PicPay como meio de pagamento.