Desde março, Rony Meysler, fundador da grife Reserva e CEO da AR&Co, a divisão de vestuário do grupo Arezzo&Co, vem trabalhando cuidadosamente em um segmento que pode fazer a operação de sua marca dobrar nos próximos anos. Meisler vem testando o que será a primeira coleção de roupas femininas da Reserva.
Alguns modelos, inclusive, já saíram do croqui e ganharam vida – o NeoFeed viu alguns deles, guardados a sete chaves. O próximo passo é o lançamento oficial, marcado para acontecer entre abril e maio de 2022. Provavelmente com uma loja pop-up e, em seguida, em todas as 124 lojas da marca.
“O feminino representa 70% das vendas de moda no Brasil”, diz Meisler com exclusividade ao NeoFeed. O empresário, que até hoje fez moda masculina, tem outro número na cabeça que justifica a entrada neste segmento. “Atualmente, 40% das compras realizadas na Reserva são feitas por mulheres”, afirma.
“A Reserva conseguiu fazer uma coisa muito difícil no mercado brasileiro: criar uma marca de lifestyle, premium, masculina e escalável”, diz Alberto Serrentino, sócio-diretor da consultoria Varese Retail. “É uma marca que tem elasticidade para criar moda feminina.”
A ideia é capturar essa cliente que vai comprar roupa masculina e vender a moda feminina. Quem entra no site da grife até vê a categoria feminino, mas funciona mais como um teste, pois são as mesmas peças que são vendidas para o público masculino. O que vem pela frente é totalmente diferente.
Até novas lojas da marca estão sendo preparadas para este breve futuro. A Reserva está abrindo duas megastores: uma no shopping Leblon, no Rio de Janeiro, com 160 metros quadrados, e outra na rua Oscar Freire, em São Paulo, com 200 metros quadrados.
As lojas, hoje com tamanhos de, em média, 80 metros quadrados, estão passando por esse processo por conta da expansão das unidades que orbitam ao redor da Reserva, como a Reserva Go, a Reserva Mini, a Reserva Jeans, a Simples e, em breve, a linha feminina. “O portfólio aumentou muito neste primeiro ano de união com a Arezzo&Co”, diz Meisler.
Só em calçados, por exemplo, a grife saiu de um patamar de 40 modelos lançados por ano para atualmente 80 modelos. Antes, eram quatro coleções por ano. Agora, são dez. Quando não estava no grupo, a Reserva Go era uma licenciada por uma empresa calçadista no Sul. Isso gerava 10% em royalties e um faturamento anual de R$ 5 milhões para a Reserva.
Ao ser incorporada pela Arezzo&Co, a licença caiu e o grupo de origem calçadista passou a se envolver em todas as etapas de desenvolvimento e distribuição. “Só nos nove meses deste ano, tivemos cerca de R$ 65 milhões em faturamento com a Reserva Go. Foi uma contribuição gigantesca”, diz Meisler.
O êxito da união das duas empresas, que completou um ano no fim de outubro, pode ser comprovado em outros números. Nos nove primeiros meses do ano, a Arezzo&Co teve uma receita bruta de R$ 2,29 bilhões, 88% a mais do que os R$ 1,2 bilhão de 2020 e 54% a mais do que o resultado de R$ 1,49 bilhão em 2019.
Desse total, a AR&Co, que tem a Reserva como a grande estrela, contribuiu com R$ 428 milhões. Comparado com 2019, os resultados da Reserva foram 78% maiores. No terceiro trimestre o crescimento foi ainda maior. O faturamento atingiu R$ 194,7 milhões, 115,5% a mais do que em 2020 e 85,3% superior a 2019. “Poderíamos ter crescido sem a Arezzo&Co, mas não nessa velocidade. Parecem 12 anos em 12 meses”, diz Meisler.
Um relatório preparado pelos analistas do BTG Pactual, Luiz Guanais, Gabriel Dissellis e Victor Rogatis, sobre o terceiro trimestre comenta sobre o resultado agora impactado pela consolidação da Reserva.
“A Arezzo divulgou números consolidados impressionantes”, escreveram os analistas. Eles estipulam preço-alvo da ação em R$ 116,00 para os próximos 12 meses. Na quarta-feira, 11 de novembro, a ação fechou cotada em R$ 80,70 e seu valor de mercado alcançou R$ 8,04 bilhões.
Meisler diz que a união entre as duas empresas foi o fruto de um M&A muito bem amarrado. Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, complementa. “É muito difícil encontrar um ganha-ganha em cultura e negócio como encontramos”, afirma ao NeoFeed.
“Eu sou o cara da camisa branca da gestão estruturada e o Rony é o cara da camisa preta com soft skills”, afirma Birman. E complementa com uma frase que sintetiza a união das companhias. “A gestão de varejo da Arezzo com a cultura da Reserva é nitroglicerina pura.”
A Reserva foi vendida para a Arezzo&Co em outubro do ano passado por R$ 715 milhões. E Meisler credita a harmonia entre as empresas, principalmente, porque costurou muito bem a governança antes de assinar os papéis.
A parte de calçados sob o comando do grupo Arezzo e a AR&Co ficaria com vestuário. E as duas respondem para a holding. “As companhias têm muitas pessoas. Podia dar uma confusão de governança geral”, diz Meisler. Nas negociações jurídicas, os dois saíram para preservar a relação.
Na parte de produto, a Arezzo trouxe um novo jeito de olhar para o negócio para Meisler. “A gente se organizava no ciclo de lançamento da moda. Lançávamos coleções trimestrais, quadrimestrais, ciclos mais longos”, diz Meisler.
Já a Arezzo tem um modelo de negócio chamado software do calçado, uma metodologia própria, na qual lança calçados de 15 em 15 dias. “Quando vimos isso, decidimos fatiar os lançamentos. Começamos a lançar a cada 45 dias. E montamos um novo calendário.”
Com isso, lança primeiro para multimarcas e franquias, com entre 60 dias e 70 dias de antecedência, fecha a carteira em duas semanas – antes era em três meses – e entrega. “Isso diminui risco para todo mundo e sempre tem produtos novos”, diz Meisler.
Juntas, as empresas também iniciaram um processo de consolidação. Desde então, o grupo criou um fundo de corporate venture, comprou o brechó online Troc, a grife de streetwear Baw e tentou comprar a Hering, numa disputa em que a marca acabou nas mãos do grupo Soma.
Na semana passada, o site de negócios Pipeline, do Valor Econômico, publicou que a Arezzo&Co estaria em negociações para comprar o grupo Soma. Em seguida, a Arezzo&Co divulgou um comunicado ao mercado comentando a notícia.
“A companhia tem como objetivo consolidar-se como uma “house of brands”, através do crescimento orgânico de suas marcas e também por meio de aquisições”, se posicionou na nota. E complementou dizendo que mantém conversas com potenciais parceiros e que não havia contratado assessores financeiros ou assinado qualquer documento ou proposta com o Soma.