Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva a um terceiro mandato no domingo, 30 de outubro, os investidores começaram a se posicionar em papéis que entendem que podem ser beneficiados com a vitória do petista. E sair daqueles que esperam que não tenham um bom desempenho.
E o que tem se visto no mercado nesta segunda-feira, dia 31 de outubro, é uma predileção por três setores: educação, varejo e empresas de construção civil com foco na baixa renda. Por outro lado, as estatais mais expostas ao governo federal registram as principais quedas.
O segmento de educação é um dos que melhor reagem à eleição de Lula. Por volta das 11h59, com o Ibovespa registrando alta de 0,83%, aos 115.485,58 pontos, as ações da Yduqs avançavam 1,18%, a R$ 15,48, e os papéis da Cogna expandiam 4,72%, a R$ 3,33.
As altas partem da interpretação dos investidores de que programas de financiamento federais sejam fortalecidos a partir do próximo ano. O governo Lula foi responsável pela criação do Fies e do ProUni, que foram fontes de receita relevantes para as empresas de educação no passado.
“Ao longo dos últimos anos, tais programas perderam força, impactando o segmento de educação privada no País”, diz trecho do relatório da Toro Investimentos. “Possivelmente novos programas, ou reformulações no Fies, que hoje é significativamente menor do que outrora, podem significar um impulso importante para as empresas do setor.”
O histórico do governo Lula também tem explicado a alta de nomes como MRV&Co, cujas ações avançam 2,35% a R$ 10,02, e Direcional, que registra expansão de 1,88%, a R$ 16,76.
Assim como em educação, a interpretação de analistas e investidores é de que os incentivos a políticas sociais se traduzam em mais subsídios para a construção de baixa renda, que atua em empreendimentos populares.
O governo Lula lançou, em 2009, o programa de habitação Minha Casa Minha Vida, que o governo de Jair Bolsonaro transformou no chamado Casa Verde Amarela. Durante a campanha, em encontro com empresários da construção civil, Lula prometeu retomar o Minha Casa Minha Vida nos moldes do passado.
Isso pode significar a volta das condições dadas à faixa 1 do antigo programa, voltado para famílias com renda bruta de até R$ 1,8 mil por mês, valor referência em 2020. Neste caso, os contratos previam subsídio de até 90% do valor do imóvel.
Já o otimismo com as empresas de varejo está muito mais relacionado às perspectivas de que a economia brasileira terá um desempenho melhor que o restante do mundo, com a expectativa de que os juros podem começar a recuar em meados de 2023. Outro ponto é o fato de Lula ter prometido manter o auxílio de pelo menos R$ 600 por mês no ano que vem.
“Nós acreditamos que as ações de consumo vão reagir de forma positiva à vitória de Lula nas Eleições Presidenciais, diante das expectativas de apoio à renda e um possível programa de reestruturação de dívida para os consumidores, entre outras políticas, que devem ser vistas como algo que apoiarão o consumo”, diz um trecho de relatório do Goldman Sachs.
Vendo que políticas sociais devem beneficiar mais as regiões Norte e Nordeste, por concentrarem os maiores contingentes de pessoas contempladas por programas sociais, os analistas do banco americano avaliam que Carrefour, Assaí e Magazine Luiza são nomes que podem se destacar, por terem uma base de lojas ampla nessas regiões.
As ações do Carrefour subiam 1,86%, a R$ 19,21, o Assaí avançava 1,70%, a R$ 19,13, e o Magazine Luiza tinha alta de 0,91%, a R$ 4,42.
Enquanto esses três setores se destacam, papéis de algumas estatais têm recuado por conta da eleição de Lula, com o mercado vendo um risco elevado de interferência governamental, além da redução da perspectiva de privatização.
Os papéis do Banco do Brasil registram queda de 3,01%, a R$ 37,65, com os investidores temendo o uso da instituição para financiar as promessas do presidente eleito de renegociar dívidas e expandir agressivamente a concessão de crédito.
No caso da Petrobras, cujas ações preferenciais caem 4,85%, a R$ 30,99, os investidores temem os efeitos de falas feitas por Lula na campanha, de que reverá a política de preço de paridade de importação para definir o valor que cobrará dos distribuidores.
Segundo a XP Investimentos, a expectativa é de que esses dois papéis continuem sofrendo nos próximos dias. “Esse deve ser o tom do mercado nos próximos dias, e as ações das estatais devem continuar voláteis, dada a persistente incerteza em relação às suas políticas futuras”, diz trecho do relatório.