Eram cerca de três horas da manhã, no domingo, 19 de fevereiro, quando soou o alerta da Defesa Civil. Por causa das fortes chuvas, o litoral norte paulista, especialmente a área de São Sebastião, a cerca de 200 quilômetros da capital, estava sob ameaça de deslizamentos e alagamentos. Na Vila do Sahy, um dos bairros da região, a equipe da ONG Instituto Verdescola imediatamente se reuniu na sede da entidade.

“Enquanto a enxurrada descia o morro, as pessoas vieram correndo, pedindo abrigo”, lembra Fernanda Carbonelli, presidente da instituição, em vídeo no Instagram. Durante o dia, uma das salas da entidade foi transformada em necrotério. Dos 44 óbitos contabilizados até a manhã de terça-feira, 21 eram da Vila do Sahy.

A mesma presteza com a qual o pessoal da Verdescola se organizou, uma rede de solidariedade se formou para dar apoio às vítimas da tragédia. Organizações sociais como Gerando Falcões, Central Única das Favelas (Cufa), Alimentando o Bem e Ação da Cidadania, amanheceram com pedidos em suas redes sociais por doações de dinheiro, alimentos, água mineral, remédios, roupas, materiais de higiene e de limpeza, colchões e toalhas.

Rapidamente, representantes de diversas ONGs viajaram rumo a São Sebastião. Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões, foi um dos primeiros a chegar. Marcivan Barreto, presidente estadual da Cufa São Paulo, também está lá, entre os escombros, acompanhando de perto o trabalho de resgate de sobreviventes.

“O cenário é desolador”, descreve Barreto, ao NeoFeed. “Muita gente procurando seus parentes e amigos desaparecidos.” Até o momento, aproximadamente, 150 pessoas continuavam desaparecidas e o número de desabrigados pode chegar a 2,5 mil.

Ao mesmo tempo, empresas dos mais diversos setores da economia se dispuseram a ajudar. Em contato com o CEO da farmacêutica EMS, Carlos Sanchez, o empresário João Carlos Camargo, idealizador do grupo Esfera Brasil, acertou o envio de medicamentos e itens de primeiros socorros para as áreas mais atingidas.

Cerca de 14 mil caixas com antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos, entre outros remédios, estão sendo despachados do centro de logística da EMS, em Jaguariúna, no interior de São Paulo, com destino à prefeitura de São Sebastião. Parte desse volume foi encaminhada por meio da rede de uma rede de farmácia parceira da farmacêutica, com atuação na região – o estoque, conforme nota da empresa, será reposto.

“Estamos profundamente sensibilizados com o que está ocorrendo no Litoral Norte. Por isso, não mediremos esforços para auxiliar a sociedade civil a superar esta tragédia, fornecendo medicamentos essenciais para o tratamento dos moradores locais, além de contribuir para garantir o abastecimento dos remédios na região”, afirma Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS.

Com a queda de barrancos, a destruição de pontes e o rompimento de estradas, o acesso à região foi seriamente comprometido. Tornou-se impossível chegar a algumas áreas por terra. De modo a facilitar a entrega das doações e o transporte de especialistas para as zonas mais atingidas, a Avantto, de aluguel de aeronaves, colocou sua frota de helicópteros à disposição das entidades de apoio às vítimas do desastre. Na manhã de terça-feira, aconteceram as primeiras decolagens de São Paulo com destino a São Sebastião.

Até aquele momento, a campanha #Tamojunto, deflagrada pela Gerando Falcões, bateu o primeiro R$ 1 milhão arrecadado. “E chegando a R$ 2 milhões”, como informou o fundador Edu Lyra, em post no Instagram. Uma das empresas a se engajar no movimento foi o iFood.

“Essa iniciativa faz parte de nossas campanhas emergenciais, para as quais transformamos nosso aplicativo em uma plataforma de solidariedade”, diz Flávia Rosso, gerente de sustentabilidade da gigante do delivery de comida. “Estamos utilizando a tecnologia para viabilizar o destino de recursos e contribuir com quem precisa nesse momento.”

Operando no modelo matchfunding, para cada real doado via app, a Gerando Facões dobrará o valor, usando seu próprio caixa, até o limite de R$ 1 milhão.

O Mercado Pago, banco digital da plataforma Mercado Livre, foi outra empresa que se juntou à Gerando Falcões. Por meio do botão Doar, no aplicativo do banco, os 34,6 milhões de usuários ativos podem contribuir com as vítimas da tragédia. As doações arrecadadas serão destinadas para a compra de roupas, kits de higiene, alimentação e infraestrutura

A JBS realizou também a doação de 20 toneladas de alimentos e 10 mil kits de higiene e limpeza para o Fundo Social de São Paulo, com o objetivo de amparar as vítimas da tragédia ocasionada pelas chuvas no litoral Norte de São Paulo. A doação dos itens de higiene foi realizada em parceria com a Flora Cosméticos e Limpeza, também controlada pela J&F.

Transformado em navio-hospital, a embarcação Atlântico, cedido pela Marinha, já na próxima quinta-feira, 23 de fevereiro, chegará à região para reforçar o atendimento médico e desafogar os centros de saúde, focados no atendimento dos mais graves.

O navio conta com 300 leitos de enfermaria e profissionais das áreas de ortopedia, clínica médica, traumatologia e psiquiatria. Além disso, dotada de rampa, a embarcação pode atracar em praias para o resgate de vítimas, que ainda estejam em áreas isoladas.

Sem a tecnologia disponível hoje em dia, seria muito difícil formar uma rede de apoio às vítimas da tragédia e fazer a ajudar chegar a quem precisa tão rapidamente como tem acontecido no litoral norte de São Paulo. Sem as redes sociais, seria praticamente impossível engajar um número de pessoas em torno de uma mesma causa como o que se viu nesses últimos dias.

Muitos turistas que estavam no litoral para o Carnaval se prontificaram a participar dos esforços de resgate e atendimento dos feridos. Médicos e psicólogos se juntaram às equipes. Moradores e donos de casa de veraneio abriram suas residências para os desabrigados.

“A solidariedade do povo brasileiro é contagiante”, escreveu no Instagram, o empresário Abílio Diniz, dono de uma casa na praia da Baleia, em São Sebastião. “Mesmo em meio ao caos, temos visto muita gente sem medir esforços para ajudar de alguma forma.”

O Instituto Península, braço social de sua holding de investimentos, segundo ele, já havia feito 40 voos entre o litoral e a capital, levando mantimentos e pessoas. O heliponto da propriedade de Diniz tinha fila de turistas esperando para deixar a região.

Desde segunda-feira, helicópteros da CCR, empresa de administração de rodovias, da Polícia Federal Rodoviária e de Diniz, a Cufa já conseguiu despachar água, leite em pó e outros itens de necessidades básicas para o litoral norte.

Via mídias sociais, as atualizações frequentes do avanço dos trabalhos na região, acabam servindo como combustível para as doações. Por volta das 14h15 de hoje, Edu Lyra anunciou, em sua conta no Instagram, que duas crianças haviam sido encontradas com vida, em meio aos escombros. “Eu tenho visto a morte e a vida lado a lado”, escreveu ele. “A desesperança e a esperança brotando no esforço, na garra, na luta de todos nós.”

Na quarta-feira, 22 de fevereiro, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) doou R$ 1 milhão para o atendimento das famílias atingidas pelas chuvas do fim de semana. Deste total, R$ 500 mil vão para Verdescola e a outra metade, para a Gerando Falcões. “Esperamos que a doação possa ajudar as comunidades no enfrentamento dessa enorme tragédia”, diz Sílvia Scorsato, presidente da ABBC.

PARA DOAR:

+ Instituto Verdescola e o Instituto Conservação Costeira

PIX: verdescola@verdescola.org.br

+ Gerando Falcões

PIX: 18.463.148/0001-28

+ Cufa

PIX: doacoes@cufa.com.br

+ Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência

Cadeiras de rodas e de banho, muletas e bengalas podem ser entregues de segunda a sexta-feira, entre 9 e 17 horas, no Memorial da América Latina (avenida. Mário de Andrade, 564 - Portão 10, na Barra Funda, em São Paulo)

+ Ação da Cidadania

PIX: sos@acaodacidadania.org.br

+ Alimentando o bem

PIX: 37.964.568/0001-32