Em maio de 2022, a Ebury, fintech inglesa controlada pelo Santander, surpreendeu o mercado ao comprar o brasileiro Bexs, banco que atua com câmbio e pagamentos digitais. Agora, quase um ano depois do anúncio desta operação, a Ebury dá um novo passo para ganhar relevância no Brasil.

A Ebury, que ganhou mercado na Europa por facilitar transferência internacionais para pequenas e médias empresas (o mesmo que plataformas como Avenue fizeram para as pessoas físicas), está começando uma ofensiva para se expandir no Brasil.

“O Brasil vai se conectar ao resto do mundo, o comércio internacional vai aumentar e queremos fazer parte desse movimento”, afirma Juan Lobato, cofundador e CEO da Ebury, com exclusividade ao NeoFeed. “Vemos que o Brasil pode em cerca de três anos ser uma parte relevante do nosso negócio.”

A meta é conquistar quase 3 mil clientes no Brasil e atingir uma receita na casa de 50 milhões de libras (R$ 312,6 milhões) em 2023. Presente em 22 países e com 25 mil clientes ativos, a companhia movimenta um total de 60 bilhões de libras (R$ 375 bilhões) e registra uma receita anual na casa dos 250 milhões de libras (R$ 1,5 bilhão).

O pitch da Ebury é oferecer produtos restritos a grandes exportadores a pequenas e médias empresas, além de utilizar a tecnologia para facilitar o recebimento e pagamentos do exterior.

O primeiro passo para avançar no Brasil foi trazer sua conta internacional, que permite movimentar mais de 45 moedas integradas. A solução da Ebury permite que empresas que estão exportando para a China recebam em yuan e depois convertam diretamente para real - sem a triangulação yuan, dólar e real.

Outro produto que está sendo anunciado é o de câmbio futuro, que possibilita travar a taxa no momento da contratação, com a liquidação sendo feita mais adiante.

A Ebury cobra uma taxa em cima das contas abertas e um spread em cima dos fluxos transacionados na plataforma, que depende da moeda utilizada na transação, do volume e da frequência das operações - em média de 0,6%, ou abaixo desse percentual.

Como surgiu a Ebury

As dificuldades e os custos envolvidos em transações internacionais foi o que motivou Lobato, juntamente com Salvador García, a criar a Ebury. Ela foi fundada em 2009, em Londres, a partir de um problema que Lobato enfrentou quando era CEO da Beam.TV, uma plataforma de distribuição de publicidade digital vendida à gestora americana Carlyle em 2007.

Segundo ele, por fazer diversas transações, em diferentes países, a Beam.TV enfrentava dificuldades em centralizar e cobrar os valores em diferentes moedas. “Era difícil para mim fazer cobranças internacionais, administrar os riscos cambiais, estando em Londres e com uma companhia que fazia negócios em várias partes do mundo”, afirma.

A solução criada por Lobato e García atraiu a atenção do Santander. Em 2020, o banco espanhol pagou 400 milhões de euros por 50,1% da Ebury. E, já nesta época, o Brasil ganhou destaque nos planos da Ebury, uma vez que o Santander indicou Sergio Rial, então CEO das operações brasileiras do banco, como chairman da fintech.

Rial deixou o conselho de administração do Santander Brasil no começo deste ano, mas permanece na Ebury. “Com ele, nós conseguimos ter um bom entendimento sobre o universo bancário brasileiro”, diz Lobato.

Os bancos, por sinal, são vistos como os principais concorrentes da Ebury no Brasil. Embora o mercado conte com algumas empresas que oferecem alguns serviços para pessoas jurídicas, como a Remessa Online, comprada pela Ebanx, Lobato diz que a empresa mapeou o mercado e não viu fintechs com a mesma proposta.

“Cerca de 90% do fluxo internacional de recursos no Brasil é feito pelos bancos”, afirma. “Não vemos um nome puramente B2B no universo de fintechs brasileiras que oferece o mesmo que nós.”

A Ebury, no entanto, ainda aguarda o Banco Central (BC) homologar a compra do Bexs. A aquisição foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em setembro de 2022, mas ainda precisa passar pelo crivo da autoridade monetária.

Enquanto isso não ocorre, os clientes são incorporados pelo Bexs, onde começam a ter acesso aos produtos da empresa britânica. “Nós entendemos que a aprovação do BC não é uma condicional para trabalharmos na integração das empresas”, diz Lobato.

Uma vez que a aquisição for completada, a Ebury pretende ampliar o leque de produtos, o que inclui um serviço para habilitar sellers brasileiros de e-commerce a internacionalizar suas operações e linhas de crédito para financiar operações de comércio internacional.

Os planos da Ebury para o Brasil preveem ainda criar um ecossistema de soluções para comércio exterior, como serviços para lidar com burocracias aduaneiras. Para isso, a companhia considera fazer novas aquisições e parcerias. Lobato afirma que está conversando com duas empresas, sem revelar nomes, nem as áreas de atuação.

Quanto o Brasil representa do comércio exterior

Embora seja a 12ª maior economia do mundo, o Brasil tem uma participação baixa quando se trata de comércio exterior. Os dados mais recentes da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que, em 2021, o País respondeu por 1,26% do total das exportações globais e 1,04% das importações.

Melhorar esses números não será uma missão fácil. Segundo José Augusto de Castro, presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Brasil tem 30 mil empresas envolvidas com exportação, num universo de 21 milhões de CNPJs, sendo que uma pequena parcela são de pequenas e médias empresas.

Um fator que pode ajudar é justamente a redução dos custos relacionados a aspectos financeiros de comércio exterior. “Os bancos cobram um percentual para operações cambiais que podem ser baixas para grandes empresas, mas são altas para pequenas e médias empresas”, afirma Castro.

Além da questão de custos, ele afirma que o Brasil precisa ter uma “cultura exportadora”, não ficando refém das circunstâncias, seja a economia interna indo mal ou a situação lá fora sendo favorável. “Se uma empresa não tiver sequência, não criar uma tradição de vender lá fora, os clientes externos deixam de comprar e vão buscar um fornecedor mais estável”, afirma.