Nos últimos dez anos, a curitibana Ebanx se tornou referência para qualquer companhia global que queira vender produtos e serviços no Brasil e na América Latina, ao assumir e simplificar a intermediação de pagamentos entre consumidores latino-americanos e e-commerces internacionais. 

Ao se especializar em lidar com a complexidade da região, a companhia conseguiu o direito de prestar serviços para mais de 1,2 mil sites e plataformas globais, incluindo pesos-pesados como Spotify, Airbnb e Shein, que vêem a região como a próxima fronteira do e-commerce global.

De olho na tendência de crescimento do varejo eletrônico, e querendo consolidar sua posição de "guia" pelos labirintos da burocracia latino-americana, a Ebanx dá mais um salto nessa jornada. A companhia acaba de firmar uma parceria com o Citi para fornecer suas soluções de cobrança digital para os clientes institucionais do banco americano na América Latina.

“A gente quer continuar se posicionando num mercado que permanece em expansão”, diz Paula Bellizia, presidente de Pagamentos Globais da Ebanx, ao NeoFeed. "Estamos provendo acesso aos consumidores da América Latina a marcas e produtos globais e queremos ajudar os vendedores a realizarem negócios bem-sucedidos na América Latina.”

Pelo acordo, os clientes do Citi poderão aceitar mais de 100 métodos de pagamento de consumidores em 11 países da região, como Argentina, Costa Rica, Equador, República Dominicana e Uruguai. Brasil e México não estão incluídos, pois são países em que o Citi possui uma plataforma de pagamentos própria em operação, a Spring. 

Segundo Steve Donovan, diretor para América Latina do Citi Treasury and Trade Solutions, área que cuida da parte de pagamentos e recebíveis para companhias, a parceria com a Ebanx é uma forma de complementar a oferta de soluções aos seus clientes em um serviço pouco desenvolvido pelo banco. 

“Procuramos parceiros para complementar a nossa oferta de soluções para o e-commerce e melhorar a experiência em um serviço que não temos tanta especialidade”, afirma Donovan. Ele não informou quantos clientes poderiam se beneficiar da parceria. 

Citi e Ebanx têm uma relação de anos. Desde 2015, o banco americano presta serviços para a plataforma, atuando na parte de pagamentos internacionais. O banco americano também ajudou a Ebanx a estabelecer um hub financeiro em Cingapura, para facilitar a interação com marketplaces asiáticos com atuação na América Latina. 

Paula Bellizia, presidente de pagamentos globais da Ebanx

Os países da parceria, segundo Bellizia, foram escolhidos de acordo com o número de clientes do Citi que demonstraram interesse nas soluções da Ebanx em conversas preliminares. Ela não quis divulgar projeções sobre quantos clientes do Citi espera que possam aderir às soluções da Ebanx, nem quanto estima que essa parceria agregue aos resultados da companhia. Mas conta com as perspectivas de crescimento do comércio eletrônico latino-americano para colher bons frutos.

Estudo da própria Ebanx aponta que o e-commerce da região vai expandir a uma taxa anual média de 31% até 2025. Isso significa que, em três anos, o comércio digital na América Latina vai dobrar de tamanho num continente de 650 milhões de pessoas, que a cada dia estão mais digitalizadas. 

Mesmo com Brasil, México e Argentina representando 70% do e-commerce na região, a Ebanx estima que outros países devem registrar crescimento acelerado na penetração do varejo digital. Dentro do grupo de países no escopo do acordo com o Citi, o Paraguai deve apresentar crescimento de 56% até 2025 e a Guatemala, de 50%. 

“Se a gente olhar somente para o comércio internacional, com países de fora da região, a gente está falando de um crescimento potencial de 35% aqui na América Latina”, diz Bellizia. “Ao longo dos dois anos de pandemia, 150 milhões de consumidores da região compraram online pela primeira vez, e esse hábito não vai embora.”

Crescimento regional

O acordo fortalece ainda mais a presença da Ebanx pela América Latina. Ela começou a operar na região em 2015, quando foi para o México e o Peru, e de lá para cá, estendeu suas atividades para 15 países, com mais de 100 milhões de latino-americanos já tendo feito compras utilizando suas soluções. 

Em entrevista ao NeoFeed em junho do ano passado, na ocasião do anúncio de que a Advent International realizou um aporte US$ 430 milhões na empresa, Wagner Ruiz, cofundador e chief officer da Ebanx, disse que a empresa queria crescer na América Latina, indo para países da América Central e nações menores. O plano, disse ele, não é só expandir os pagamentos cross border, mas também as operações de pagamento local.  

Para entender a importância da região à Ebanx, atualmente, metade da receita da empresa vem de fora do Brasil. Com as operações no Brasil e em outros 14 países, a Ebanx registrou, em 2021, mais de 370 milhões de transações processadas, crescimento de 150% em relação a 2020. O volume total de pagamentos (TPV) é mantido sob sigilo.

Segundo Bellizia, a parceria com o Citi serve como um catalisador para a Ebanx crescer na região e aproveitar o crescimento acelerado do varejo eletrônico na região, ao ter acesso privilegiado a uma rede de empresas atendidas pelo banco americano. 

“A ideia é começar nesses 11 países em que identificamos uma oportunidade imediata, nos quais as duas marcas estão bem estabelecidas”, afirma. “Alguns desses países, principalmente na América Central, estamos vendo um crescimento de e-commerce para além dos 50%.”

Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem, entende que o acordo com o Citi também ajuda a Ebanx a concorrer com a dLocal, companhia uruguaia que presta praticamente os mesmos serviços, e tem em sua carteira de clientes nomes como Amazon, Uber e Booking.com

Essa empresa levantou US$ 617,6 milhões com um IPO na Nasdaq, em junho no ano passado, e vale quase US$ 7 bilhões, o que torna a parceria com o Citi ainda mais estratégica na disputa pelo mercado de meios de pagamentos para e-commerce na região. 

“A parceria é um ganha-ganha para Citi e Ebanx”, diz Diniz. “Para a Ebanx, ela ganha força em meio ao cenário competitivo mais duro. Para o Citi, ele oferece para seus clientes um serviço que vai além do banking corporativo.”

IPO

Os planos de crescimento pela América Latina se juntam à ideia de agregar serviços para robustecer a companhia e deixá-la preparada para o IPO, assim que as circunstâncias melhorarem. 

O maior passo no sentido de expansão de atividades foi dado em dezembro do ano passado, com a aquisição da Remessa Online, serviço que possibilita a pessoas e pequenas empresas enviar e receber remessas de recursos do exterior, um negócio de R$ 1,2 bilhão. 

Na entrevista ao NeoFeed em junho do ano passado, Ruiz falou sobre utilizar os recursos da Advent para realizar novas aquisições no Brasil e na América Latina, com o objetivo de crescer em termos geográficos e aumentar o TPV e a receita. 

Na ocasião, Ruiz projetava que a companhia fosse estrear na Nasdaq “nos próximos 12 meses”. Quando apresentou a estimativa, o mercado de ações nos Estados Unidos e no mundo viviam tempos de vacas gordas. As expectativas de fim da pandemia levaram o índice Nasdaq, da bolsa em que a Ebanx pensa em abrir capital, a acumular alta de 14%. 

Desde o começo do ano, no entanto, o índice registrou queda acumulada de 28,3%, com os investidores demonstrando aversão a risco diante da aceleração da inflação e da perspectiva de juros altos por um longo período. 

“O momento agora é de foco no nosso crescimento, foco nos nossos clientes. A gente segue muito otimista apesar do cenário externo ser de cautela”, diz Bellizia.