Enquanto o mundo acompanha os embates e espera o resultado das eleições nos Estados Unidos, no mercado de capitais do País, outro acontecimento cercado por uma série de indefinições deve ganhar, enfim, status oficial: a oferta pública inicial de ações da plataforma de hospedagem Airbnb.

De acordo com fontes a par do plano ouvidas pela agência Reuters, a companhia planeja fazer o registro público do seu IPO já na próxima semana. E prevê concretizar, em dezembro, sua abertura de capital na Nasdaq.

Não há confirmação de quem serão os assessores da oferta. Os rumores apontam, no entanto, para a possibilidade de que o Morgan Stanley e o Goldman Sachs participem do processo.

Depois da estreia da Palantir, empresa de big data de Peter Thiel, cofundador do PayPal, e da Snowflake, de dados na nuvem, a trilha do Airbnb até o mercado de capitais é um dos mais esperados do ano.

Nos planos para ser concretizada em 2020 desde o ano passado, a oferta foi interrompida em virtude da Covid-19. Rumores sobre uma possível retomada do processo surgiram em agosto, o que não foi confirmado posteriormente.

O plano da startup é captar cerca de US$ 3 bilhões e alcançar um valor de mercado de U$ 30 bilhões. Para efeito de comparação, a Snowflake levantou US$ 3,4 bilhões e foi avaliada em US$ 33 bilhões, em meados de setembro - hoje, a empresa vale US$ 73 bilhões.

Se confirmadas essas projeções, o IPO será o terceiro maior de 2020. Até outubro, as ofertas públicas iniciais levantaram mais de US$ 95 bilhões, o que representa um dos maiores volumes já contabilizados na história.

Antes de tentar encorpar esse número e fazer bonito na Bolsa, o Airbnb passou por maus bocados. Em maio, com o negócio impactado pela pandemia, a empresa demitiu 1,9 mil funcionários, o equivalente a 25% do seu quadro, e reduziu gastos com marketing. E para atenuar a dificuldade de gerar caixa, captou US$ 2 bilhões junto aos fundos Silver Lake, Sixth Street Partners, Fidelity, T. Rowe Price e BlackRock.

Com o avanço da Covid-19 em todo mundo, a startup também se viu obrigada a rever o foco. O Airbnb passou a dar mais peso às ofertas de estadias mais próximas e por períodos mais longos. Para isso, redesenhou o site e o aplicativo para sugerir um leque de opções adaptado às condições de cada usuário.

No início de julho, a estratégia já mostrava resultados. O Airbnb passou a reportar taxas de reserva similares ao período anterior à pandemia. “Eu não sabia que faria decisões que valeriam por 10 anos em 10 semanas”, comentou Brian Chesky, cofundador e CEO do Airbnb, em entrevista concedida ao The Wall Street Journal, na época.

A aparente recuperação não apaga, porém, um questionamento recorrente sobre a operação: assim como outras startups, o Airbnb tem um histórico de resultados deficitários, algo que é cada vez menos tolerado pelos investidores. Entre janeiro e setembro de 2019, por exemplo, a empresa reportou um prejuízo de US$ 322 milhões.

Além dessa reserva dos investidores, outra questão é o modelo escolhido pela companhia para o IPO, de listagem direta. O formato traz custos consideravelmente menores e não conta com a restrição de lock-up, no qual os investidores não podem negociar as ações por um determinado período.

Entretanto, o mecanismo da listagem direta não envolve a entrada de recursos para o caixa da empresa que opta por esse caminho. Ao se decidir por essa alternativa, o Airbnb perde uma ferramenta que seria importante para oferecer maior sustentabilidade à operação.

Em contrapartida, para analistas, a definição das eleições americanas pode abrir caminho para um cenário de maior previsibilidade e de mais apetite dos investidores, especialmente com a escolha pelo democrata Joe Biden.

A expectativa é de que o mercado de IPOs ganhe novo impulso entre o fim de novembro e o início de dezembro. Justamente quando o Airbnb planeja chegar à sua "nova casa".

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