Duas empresas que são unicórnios vão se tornar públicas na quarta-feira, 30 de setembro, num teste de fogo que pode moldar toda a indústria de IPO nos Estados Unidos.

A empresa de big data Palantir, fundada por Peter Thiel, e a companhia de software Asana vão começar a ter suas ações comercializadas na Bolsa de Nova York (Nyse) por meio da listagem direta. Até agora, só duas empresas dignas de notas tinham tentado esse processo: o Spotify e a Slack.

Essa é a primeira vez que a Nyse vai protagonizar duas listagem diretas no mesmo dia. Dada a novidade desse processo e sua natureza complicada, pessoas que estão trabalhando na oferta não estão felizes pelo fato de as duas acontecerem na mesma data.

Por esse método, as ações são negociadas diretamente na Bolsa e o preço inicial é definido por um leilão com base na oferta e demanda.

Há outras vantagens nesse modelo. Os custos para as empresas que estão se tornando públicas são sensivelmente menores e não existe também o mecanismo de lock-up, que proíbe investidores de venderem suas ações por um período de 90 dias ou mais. Ele funciona ainda sem a emissão de novas ações e sem a captação de recursos para o caixa da empresa.

Tanto Palantir como Asana escolheram o Morgan Stanley como seu principal advisor e a Citadel Securites para ajudá-las a precificar suas ações no primeiro dia de negociação. Eles compõem o mesmo time que trabalhou nas listagens diretas do Spotify, em 2018, e da Slack, em 2019.

A Palantir espera ser avaliada em quase US$ 22 bilhões, de acordo com o jornal econômico americano The Wall Street Journal. A capitalização de mercado da Asana deve ficar entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões.

“Os desempenhos de Palantir e Asana podem mudar a visão do mercado sobre listagens diretas", disseram analistas da Renaissance Capital, uma empresa de pesquisa e investimento de IPO, em um relatório divulgado a seus clientes.

Essa é uma tentativa de reinventar o mercado de IPOs, que, segundo alguns de seus críticos, faz com que as empresas deixem bastante dinheiro na mesa por conta das ineficiências do processo tradicional.

O principal crítico dos IPOs é Jay Ritter, professor da Universidade da Flórida, que ganhou o apelido de Mr. IPO. Ele fez um estudo, divulgado no ano passado, que tentou medir quanto dinheiro as empresas perdem num processo tradicional de abertura de capital.

Ritter analisou as ofertas dos últimos 40 anos fazendo uma conta simples: ele subtraiu o preço de fechamento das ações no primeiro dia de negociação do valor estabelecido pelos bancos nas ofertas. Depois, só multiplicou pelo número de ações ofertadas.

O resultado é assustador. De acordo com o cálculo do Mr. IPO, as empresas que abriram o capital deixaram na mesa US$ 170 bilhões. Isso mesmo: US$ 170 bilhões, você não leu errado.

“Acho que é uma resposta direta ao alto preço do roadshow e das burocracias do IPO tradicional. Esse processo é muito mais caro do que o necessário” disse Ritter, em entrevista ao NeoFeed no ano passado, falando sobre as vantagens da listagem direta.

Um exemplo do que diz Ritter pôde ser observado no IPO da Snowflake, um dos mais quentes deste ano. A empresa teve seus papéis precificados em US$ 120. Mas logo em sua estreia, dispararam e fecharam o primeiro dia de negociação na Nyse em quase US$ 260. Essa diferença é o que os investidores deixaram na mesa e que poderia ter ido parar em suas mãos.

Já os que criticam a listagem direta alegam que esse processo que não é para todas as empresas. Ao contrário, só startups maduras e conhecidas podem testar esse modelo.

É o caso de Palantir e da Asana. Como foi também do Spotify e da Slack. O Airbnb também deve se tornar público por meio de uma listagem direta.

Curiosamente, Palantir e Asana têm entre seu fundadores pessoas com laços com o Facebook. Thiel, por exemplo, além de ser um dos primeiros investidores da empresa de Mark Zuckerberg, faz parte de seu conselho. A Asana, por sua vez, tem como CEO Dustin Moskovitz, um dos cofundadores do Facebook e ex-chief technology officer da rede social.

As duas ofertas acontecem em meio ao frenesi de investidores por novas empresas abertas, em especial, as de tecnologia. O ano de 2020 deve ser recorde, de acordo com uma estimativa da Dealogic.

Até agora, as ofertas públicas iniciais levantaram mais de US$ 95 bilhões. Isso é mais do que qualquer outro ano, exceto 2014, que somou US$ 96 bilhões. Naquele ano, porém, mais de um quarto do valor veio do IPO do Alibaba. E, não custa lembrar, faltam três meses ainda para o fim de 2020.

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