O escritor, empreendedor e professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, Scott Galloway, é um crítico contumaz dos gigantes do Vale do Silício, como Facebook, Google, Apple e Amazon.

Um dos gurus do Vale do Silício, Galloway foi também uma das vozes mais críticas ao modelo de negócios do WeWork. Ele se referia à avaliação de US$ 47 bilhões da startup de compartilhamento de escritórios como “insana”, “seriamente maluca” e “ilusória”. E acrescentava: “Os limites entre a visão, o bullshit e a fraude são bem tênues.” O fracassado IPO do WeWork e sua quase falência, em 2019, mostraram que ele tinha razão.

Galloway é, como ele próprio se define, um pessimista de carteirinha, que enxerga o mundo com uma visão cinzenta. Chega, portanto, a ser surpreendente ver Galloway escrevendo um artigo em que não economiza palavras para explicar por que o site de hospedagem Airbnb vai ser uma das maiores empresas dos Estados Unidos em 2021.

“Acredito que nesta época do próximo ano, o Airbnb será a empresa de hospitalidade mais valiosa do mundo e uma das 10 marcas mais fortes do mundo”, escreveu Galloway, em seu blog, nesta sexta-feira, 16 de outubro. “A plataforma de São Francisco, provavelmente, valerá mais do que os três maiores hotéis empresas combinadas.”

Mais do que o avanço da popularidade do serviço de aluguel de quartos, casas e apartamentos, Galloway credita o sucesso da startup a outra equação. De acordo com ele, empresas como Uber, DoorDash e outras "queridinhas" de Wall Street precisam de oferta local (motoristas) e demanda local (passageiros).

Da mesma maneira, hotéis precisam de oferta local (quartos) e demanda regional (hóspedes). "Mas uma marca global de hotel precisa de oferta e demanda global e o Airbnb tem a maior oferta global do setor, superior a sete milhões de estadias, mais que a rede Marriott, Hilton, InterContinental, Wyndham e Hyatt juntas."

Em sua análise, Galloway escreve que as únicas companhias que têm demanda e oferta global, além de um negócio de margem alta com poucos ativos, são as empresas de cartão de crédito, que negociam a múltiplos de mais de 20 vezes a receita. O Airbnb projeta receitas entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões, o que faz com que se gere uma avaliação potencial entre US$ 100 bilhões e US$ 120 bilhões.

Para se ter uma ideia, uma avaliação de US$ 120 bilhões significa que o Airbnb vale mais do que Marriott, Hilton, Delta, IHG, Choice Hotels, Wyndham, American Airlines e International Airlines Group somadas – esse grupo tem uma avaliação de US$ 108 bilhões.

A avaliação de US$ 120 bilhões é muito, mas muito superior a atual avaliação privada da startup fundada por Brian Chesky. Em mercados privados, os papéis da companhia são negociados sob um valor de mercado entre US$ 15 bilhões e US$ 30 bilhões. “Coloque os cintos de segurança, pois os banqueiros não terão desculpa para não precificar as ações na extremidade alta”, referindo-se a provável abertura de capital do Airbnb, prevista ainda para 2020.

Além desses fatores, Galloway credita sua visão otimista em relação ao Airbnb a outros motivos. A startup tem, proporcionalmente ao número de funcionários, mais engenheiros e profissionais de tecnologia do que Amazon e Uber – está atrás apenas de Google e Netflix.

A startup também se sai muito melhor em relação a seus pares do setor de turismo em outro quesito: as  buscas mensais no Google. Em Nova York, Orlando, Londres, Sidney e Tóquio, o Airbnb está bem à frente de seus rivais. Em Nova York, por exemplo, as buscas chegam a ser 45 vezes maiores do que as do Marriott.

"A história aqui não será de lucros distantes, mas crescentes”, escreveu Galloway

A startup enfrentou, assim como todo setor de turismo, uma das crises mais severas da história. A pandemia do coronavírus derrubou, da noite para o dia, a demanda por hospedagens. “Recessões, até mesmo guerras, reduzem os níveis de ocupação para 60%, ou até 50%. Nenhum proprietário de hotel ou empresa de gestão modelou a ocupação caindo para 0%”, escreveu Galloway.

O que fez o Airbnb? “Uma crise é uma coisa terrível de se desperdiçar”, escreveu Galloway. A Covid deu ao Chesky, que é o CEO da empresa, a desculpa necessária para cortar custos e se concentrar novamente no negócio principal. Em maio deste ano, o Airbnb demitiu 1,9 mil funcionários, 25% de sua equipe.

Chesky abriu mão de seu rendimento e reduziu o salários dos executivos pela metade e cortou quase US$ 1 bilhão em despesas de marketing. Para Galloway, a empresa está, agora, em forma de luta.

“A estrutura de custos reduzida e a recuperação do mercado significam que o caminho para a lucratividade se tornou maior, mais bem iluminado e mais curto. Há rumores de que a empresa irá acelerar para a lucratividade em 2021. A história aqui não será de lucros distantes, mas crescentes”, escreveu Galloway.

O tempo dirá se, assim como o WeWork, Galloway tem razão em relação as suas previsões sobre o Airbnb.

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