Durante anos, os acionistas da Amazon fizeram vista grossa para os resultados que a empresa pintava de vermelho em seus balanços financeiros. Os números negativos pareciam pouco importar para os investidores que seguiam apostando na tese da companhia fundada por Jeff Bezos, em 1994.

Quem resistiu e não abandonou o "carrinho" da companhia americana foi recompensado. Depois de anos de seguidos resultados no vermelho, a empresa virou a chave durante a última década e se consolidou como uma das gigantes do mercado de tecnologia, chegando a valer quase US$ 2 trilhões.

Mas, ao que tudo indica, a paciência dos investidores já não é mais a mesma. Foi esse o sinal dado no decorrer das negociações desta sexta-feira na Nasdaq, quando a cotação das ações da empresa chegou a cair mais de 15%, chegando ao seu menor valor desde junho de 2020.

Os papéis encerraram o pregão com uma retração de 14,05%, avaliando a empresa em US$ 1,2 trilhão. Na prática, a Amazon perdeu mais de US$ 200 bilhões em valor de mercado em um único dia. Em abril, a retração ficou próxima dos US$ 400 bilhões.

A queda veio na esteira da divulgação do balanço referente ao primeiro trimestre. Entre janeiro e março, a Amazon registrou um prejuízo de US$ 3,8 bilhões, o primeiro desde 2015. Há um ano, a última linha do balanço trouxe um lucro de US$ 8,1 bilhões.

O prejuízo foi guiado pela participação detida na Rivian, fabricante de veículos elétricos. Depois de abrir capital em novembro do ano passado e chegar a valer mais de US$ 127 bilhões, a companhia viu suas ações despencarem e está avaliada em pouco mais de US$ 26,7 bilhões.

A insatisfação dos investidores também está ligada a outros indicadores. No período, a Amazon reportou seu menor crescimento em mais de duas décadas, com uma alta de 7% na receita, para US$ 116,4 bilhões.

Já as vendas de produtos fabricados pela empresa cresceram apenas 3%, o menor percentual desde que a métrica passou a ser divulgada, em 2016. A receita de serviços de assinatura, que inclui o Prime, avançou 25%, bem abaixo dos 76% no primeiro trimestre do ano passado e dos 33% registrados no quarto trimestre de 2021.

A única a destoar dessa desaceleração foi a Amazon Web Services (AWS). A receita do braço de computação em nuvem teve alta de 37%, para US$ 18,4 bilhões. No primeiro trimestre de 2021, a companhia havia registrado um aumento de 32%.

Para o próximo trimestre, a Amazon projeta que a receita fique entre US$ 116 bilhões e US$ 121 bilhões. O valor é menor do que a média de US$ 125,5 bilhões esperada por analistas de Wall Street, de acordo com a empresa de dados do mercado financeiro Refinitiv.

Queda livre

A retração no preço das ações da Amazon simboliza um momento delicado para as big techs. Juntas, as cinco maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos perderam mais de US$ 1 trilhão em valor de mercado neste mês de abril.

As ações da Alphabet, controladora do Google, já caíram mais de 18% em abril, fazendo a empresa perder quase US$ 340 bilhões de valor de mercado. A empresa agora vale US$ 1,5 trilhão.

Já a Apple perdeu mais de US$ 255 bilhões no período com a desvalorização de quase 9% em suas ações e está avaliada em US$ 2,6 trilhões.

A Microsoft completa o quadro de trilionárias com uma queda de quase 9%, representando uma desvalorização de US$ 203 bilhões, para um valuation de US$ 2,1 trilhões.

A Meta,por sua vez, encerrou o mês avaliada em US$ 625 bilhões e viu seu valor de mercado diminuir quase US$ 75 bilhões (11%). Agora a empresa comandada por Mark Zuckerberg vale pouco mais de US$ 551 bilhões.