Quando criou seu fundo para investir em startups, a Lojas Renner destinou R$ 155 milhões para investir em startups dos segmentos de retail tech, logística, fintechs, marketplace, entre outros. O plano era investir principalmente em startups brasileiras, mas sem excluir a possibilidade de aportar negócios fundados também no exterior.
Nesta quarta-feira, 3 de maio, a varejista de moda fez seu primeiro investimento internacional através do RX Ventures, seu veículo de corporate venture capital cuja gestão é feita pela Port Capital. O aporte, que não teve valor revelado, foi realizado na Radar, retailtech americana que desenvolve soluções para controle de estoques e movimentação de produtos em pontos de venda.
O novo aporte foi liderado pela Align Ventures e é uma extensão da rodada de série A que aconteceu ainda em 2019. Na ocasião, segundo dados do Crunchbase, a Radar havia captado US$ 16 milhões junto à gestoras como Founders Fund, Beanstalk Ventures e Sound Ventures (a gestora de Ashton Kutcher), além da varejista americana American Eagle Outfitters. Outro investidor é a Y Combinator.
“Se a gente for fazer um investimento fora do Brasil, é importante que tenha alguma ligação com o Brasil e a América Latina, onde temos uma atuação forte”, diz Marie Timoner, head de inovação aberta e da RX Ventures ao NeoFeed. “Se a gente puder ser o terreno de pouso para uma operação internacional na América Latina, faz sentido.”
O que motivou o investimento é que a Radar faz uso de softwares e de sensores de identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês) para localizar e acompanhar toda a movimentação de uma peça dentro de um ponto de venda a cada 60 segundos e com 99% de precisão. “Conseguimos saber se uma camiseta está no estoque, na prateleira ou no provador”, diz Analu Partel, head de novos negócios da Lojas Renner.
Além de facilitar o trabalho do vendedor nas lojas físicas, que ganham mais agilidade na hora de entregar uma peça a um possível cliente, as varejistas que utilizam a tecnologia também podem se beneficiar de mais dados sobre o comportamento dos consumidores. Isso permite identificar e comparar o desempenho na venda de peças que foram levadas ao provador, mas que não foram adquiridas.
A tecnologia usada pela Radar também permite atribuir as peças às pessoas, identificando quais delas foram visualizadas, manuseadas e levadas aos provadores. “Se o cliente entrar no aplicativo no dia seguinte, aquele produto pode estar aparecendo para ele”, diz Marie. “É uma forma de se comunicar com o cliente de mais personalizada.”
Com essa atribuição, a Radar também está estudando a possibilidade de incorporar um recurso que permite o checkout autônomo, sem que os consumidores precisem passar pelos caixas. Isso, no entanto, ainda não tem previsão para ser feito.
A ideia é de que a Renner faça o uso dos recursos da Radar no futuro, mas ainda não há um prazo para que isso seja feito. O que facilita a companhia neste trabalho é que todas as lojas da Renner já contam com os sensores RFID. O que falta é integrar os equipamentos aos softwares da Radar para o acompanhamento mais preciso das peças.
A varejista brasileira não será a única empresa do setor de moda a fazer isso. Outra investidora do negócio, a American Eagle Outfitters, avaliada em US$ 2,5 bilhões, anunciou no fim de março que planeja incorporar a tecnologia em suas 500 lojas nos Estados Unidos ao longo do próximo ano.
Esse é o terceiro aporte realizado pela RX Ventures desde março do ano passado, quando o fundo estreou com um aporte na Logstore, startup cuja plataforma centraliza as vendas digitais para acelerar a entrega na última milha. O segundo investimento, feito em novembro, foi na Klavi, startup que trabalha com inteligência artificial para analisar milhões de transações e gerar insights para os vendedores.
Resultados financeiros
Além de anunciar o aporte na Radar, a Lojas Renner também divulgou nesta quarta-feira, 3 de maio, seus resultados financeiros do primeiro trimestre deste ano. O lucro líquido caiu 75,6% para R$ 46,8 milhões. Isso aconteceu mesmo com um aumento de 2,2% na receita líquida, que somou R$ 2,2 bilhões no trimestre.
De acordo com a empresa, avaliada em R$ 13,9 bilhões, os resultados foram impactados pelo cenário macroeconômico mais desafiador e com alto índice de endividamento das famílias. As temperaturas médias, que estão em patamares mais elevados, também foram citadas como uma das razões para o afastamento dos clientes das lojas.
A dívida bruta da companhia manteve-se praticamente estável, apresentando uma redução de 0,5%, ficando em R$ 2,4 bilhões. Já no reporte do caixa e os equivalentes de caixa, a Lojas Renner reportou uma diminuição de R$ 3,5 bilhões para R$ 2,7 bilhões ao fim do primeiro trimestre.