Passada a pandemia, a jornada híbrida se consolidou como o modelo mais comum nas empresas brasileiras. De cada cem funcionários, 56 cumprem o expediente parte em casa, parte no escritório. Do total, 19 estão 100% remotos, indica levantamento do Google Workspace.
Essa nova forma de trabalho trouxe novos costumes. Inclusive, à mesa. Não, as pessoas não mantiveram o hábito de preparar a própria comida, tão exaltado em fotografias e vídeos nas redes sociais, nos primeiros meses de isolamento social - o que teve de gente fazendo pão nesse período não foi brincadeira. Mas a onda passou.
“Acabou o que a psicologia define como 'efeito lua de mel'”, diz ao NeoFeed Diego Barreto, vice-presidente de finanças e estratégia do iFood. “Com o tempo, porém, viu-se que essa não era a melhor opção, para o dia a dia.”
O jeito é chamar o delivery ou sair para comer. E, em home office, o brasileiro adotou as duas práticas. Errou de novo quem, com a retomada da economia, apostava na queda da demanda pelos serviços de entrega de comida. No mundo pós-pandêmico, os pedidos aumentaram.
No iFood, por exemplo, foram de 60 milhões mensais, do fim da crise sanitária, para 70 milhões atualmente. Além disso, o número de pedidos por cliente cresceu 30%. Mudou também, não apenas por causa dele, mas muito em função do trabalho remoto, os tipos de alimentos mais consumidos.
Açaí e café
Os açaís estão em quarto lugar na preferência dos clientes da gigante brasileira de delivery, à frente inclusive das pizzas e dos sushis e sashimis. O café e o chá ainda não estão na lista do top 10, mas vêm ganhando espaço. Desde o início de 2023, o iFood recebeu 4 milhões de pedidos, preparados por cerca de 4 mil cafeterias cadastradas no aplicativo.
A crescente procura tem a ver com o avanço das tecnologias de embalagens, capazes de entregar tudo quentinho, mas também com o trabalho a distância. Como explica Barreto, tradicionalmente, essas bebidas eram consumidas na rua, a caminho do escritório. “Houve uma transferência de hábito, de um lugar para outro”, completa o executivo.
O home office mudou a geografia da alimentação fora de casa, diz ao NeoFeed Daniel Corigliano, business manager da Fispal Food Service, plataforma de conexão dos principais players da indústria de alimentos e bebidas
Se, antes do novo coronavírus, os almoços em dias úteis se davam, sobretudo, nas regiões com grande concentração de escritórios, lojas e fábricas, hoje também acontecem em áreas tipicamente residenciais nas grandes cidades brasileiras.
Mesmo em tempos de turbulência econômica, do último ano para cá, a procura pelos chamados “restaurantes de bairro” vem em ascensão. Alguns registram aumento de 15%.
Os preferidos são os self-service. Mais rápidos, com várias opções de pratos e melhor custo-benefício, conforme mostra pesquisa da Fispal, em parceria com a Empresa Júnior Fundação Getúlio Vargas.
Marmitas e snacks
As marmitas são outra opção do cardápio do home office – tanto no restaurante e no take away (retirar e levar) como no delivery (é o 6° item mais pedido no iFood, por exemplo). Enquanto o novo coronavírus grassava sem restrições pelo país, no período mais severo do isolamento social, as marmitarias proliferaram.
Entre 2020 e 2022, os estabelecimentos com registro oficial aumentaram 68%, chegando a 440.493 mil, nos cálculos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Com a pandemia sob controle, o prato feito continua atrativo. É comida caseira, em geral, com um bom custo-benefício.
Por fim, os snacks. Como as pausas no expediente à distância são mais frequentes do que no escritório, as pessoas adotaram o costume de beliscar, ao longo do dia, absorvendo um comportamento típico dos jovens das classes A e B, escreve Cristina Souza, CEO da consultoria Gouvêa Foodservice, em artigo para o site da empresa.
Entre uma reunião e outra, vale uma passadinha rápida pela cozinha, em busca de um petisco. Em geral, um biscoito, um pedaço de chocolate, um salgado ou uma fruta – em nome da boa saúde, mais fruta, por favor.