Muito além dos cliques em suas plataformas, a B2W segue movimentando o mercado de capitais. A companhia anunciou que o seu Conselho de Administração aprovou um aumento de capital de R$ 2,5 bilhões, por meio da emissão de 64,1 milhões de ações ordinárias.

Com o preço de R$ 39 por ação, a emissão inclui um desconto de 9,43% sobre a média das cotações dos papéis da operação nos sete pregões anteriores à proposta.

A Lojas Americanas, que detém 61,5% do negócio, se comprometeu a exercer o seu direito de preferência na proporção de sua fatia na empresa, além de garantir o aporte relacionado a um eventual saldo não subscrito ao fim do processo.

O novo desembolso dá sequência a uma série de injeções de capital realizada pela companhia. Desde 2011, a B2W recorreu quatro vezes a esse expediente, consumindo R$ 5,4 bilhões. Com a nova capitalização, os acionistas já colocaram na empresa R$ 7,9 bilhões.

Esse apetite está diretamente relacionado ao perfil consolidado pela empresa em sua trajetória. Fundada em 2006, a partir da fusão da Americanas.com com o Submarino, a B2W foi uma das pioneiras do comércio eletrônico no Brasil.

Na ânsia de atrair os consumidores para os seus carrinhos de compra virtuais, ficou conhecida por se tornar uma gigante do setor ao custo de uma queima intensiva de caixa.

Essa estratégia se refletiu diretamente nos resultados da empresa. Lá se vão mais de oito anos desde que a B2W reportou seu último lucro líquido, em 2010, com ganhos de R$ 33,5 milhões.

Desde 2011, o prejuízo acumulado da B2W soma R$ 2,3 bilhões

De lá para cá, a companhia vem testando a paciência dos investidores ao reportar perdas atrás de perdas. O auge foi em 2016, quando o prejuízo líquido ficou em R$ 485,9 milhões. No total, o prejuízo acumulado neste período soma R$ 2,3 bilhões.

O valor de mercado da companhia, que era de R$ 3,47 bilhões em 2010, segundo a consultoria Economatica, hoje é de R$ 19,3 bilhões. No período, a receita líquida saltou de R$ 4,07 bilhões para R$ 6,48 bilhões.

Resposta do mercado

Há cerca de duas semanas, a companhia manteve a velha toada de prejuízos, ao anunciar o resultado do segundo trimestre. No período, a última linha do balanço registrou uma perda de R$ 128 milhões. Após a divulgação do balanço, no entanto, as ações fecharam cotadas com alta de 17,7%.

A reação do mercado foi impulsionada por um indicador incomum em se tratando da B2W: a empresa fechou o trimestre com um caixa de R$ 6,4 milhões, contra um consumo de caixa de R$ 33,9 milhões, um ano antes. Em nove anos, a cifra representou o melhor resultado da empresa em um segundo trimestre.

A resposta do mercado ao anúncio de um novo aumento de capital também foi positiva, ao menos para a B2W. Depois de uma ligeira queda pela manhã, os papéis da empresa registravam alta de 5,02% por volta de 16h.

A melhora na estrutura de capital da operação é um dos pontos destacados por analistas. Com a injeção, a companhia sairia de uma dívida líquida de R$ 2,1 bilhões para um caixa líquido de R$ 416 milhões.

“Embora outro aumento de capital soe negativo à primeira vista, ele aumenta a capacidade da B2W seguir investindo", diz relatório do BTG Pactual

“Embora outro aumento de capital soe negativo à primeira vista, ele aumenta a capacidade da B2W seguir investindo, sob um modelo mais saudável e rentável”, escreveram Luiz Guanais e Gabriel Savi, analistas do BTG Pactual, em relatório. “Vemos esse movimento como positivo, especialmente porque a empresa compete com players bem capitalizados, como Mercado Livre e Magazine Luiza.”

Já Mariana Vergueiro, analista de varejo da XP Investimentos, destacou que a alavancagem para capitalizar a B2W pode causar uma reação negativa do mercado em relação à Lojas Americanas, cujos papéis registravam alta de 1,3 %, às 16h.

Em contrapartida, ela destacou: “Acreditamos que a transação fortalece o plano de geração de caixa da B2W para suportar investimentos no crescimento online e em novos negócios.”

Novos modelos e serviços

Não são poucas as iniciativas que a B2W vem tocando recentemente para encorpar a sua operação. “O novo aporte é essencial para a B2W combater a ameaça do avanço de concorrentes como o Magazine Luiza e o Mercado Livre”, diz Patricia Cotti, diretora-executiva do IBEVAR. “Bem como dos investimentos crescentes da Amazon, que está definitivamente fincando os pés no País.”

Os esforços de migração da B2W para um modelo muito mais centrado no marketplace é uma dessas frentes. Além de uma tendência em consolidação no mercado, o formato vai ao encontro de uma operação mais sustentável financeiramente, já que exige menos capital de giro e permite diluir custos e rentabilizar uma estrutura já construída para os próprios negócios da empresa.

No segundo trimestre, a B2W conquistou bons avanços nessa seara. No período, o marketplace da companhia movimentou R$ 2,28 bilhões, contra R$ 1,51 bilhão, um ano antes. O montante já representa 58,7% do total transacionado pela empresa.

Entre abril e junho, a companhia adicionou 5,5 mil novos vendedores parceiros na plataforma e alcançou uma base total de 31 mil lojistas, com um sortimento de 3 milhões de itens únicos à disposição do consumidor.

Ame Digital vai se tornar uma empresa independente

Há outros estratégias em curso, boa parte delas fruto do Inovação e Futuro, braço de inovação implantado há cerca de um ano. Um dos destaques é o Ame, aplicativo que já ganhou status de carteira digital.

O aplicativo é visto como uma resposta a outras ofertas semelhantes no setor, como o Mercado Pago, que já possui um bom peso na operação do Mercado Livre.

Na teleconferência do segundo semestre, a B2W anunciou que o serviço irá se tornar uma empresa independente, ainda nesse ano.

O Ame permite pagar contas, fazer recargas de celular, empréstimos e depósitos nas lojas físicas. O serviço já está disponível em 774 pontos de venda. Até o fim do ano, a ideia é alcançar todas as mais de 1,5 mil unidades da rede. A expansão inclui ainda as lojas de outros varejistas.

Com 3,2 milhões de downloads, o aplicativo vem incorporando novas funcionalidades. O pagamento em transportes é uma dessas vertentes. A B2W fechou parcerias recentes para testes com o Bilhete Único, em São Paulo, e com o Cabify, concorrente do Uber e da 99.

A logística e a abordagem multicanal é outro elemento crucial no caminho da B2W. Nessa área, a possibilidade de comprar um produto online e retirar em loja vem ganhando força. Hoje, 1.315 pontos de venda da Lojas Americanas e outras 102 unidades de parceiro já contam com esse recurso.

Na última milha, a companhia também passou a incorporar entregadores independentes, em diferentes modais – motos, bicicletas – à sua plataforma e já oferece a possibilidade de entregas em até duas horas depois da efetivação do pedido.

A logística e a abordagem multicanal é outro elemento crucial no caminho da B2W

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), esse pacote de iniciativas parece ser correto e consistente. Ele ressalta que ofertas como o Ame, integradas a marcas fortes no e-commerce e a capilaridade de uma rede de lojas físicas de mais de 1,5 mil pontos de venda dá todas as condições para que a empresa faça frente aos rivais.

Mas faz uma ressalva: “O mercado ainda não enxerga uma boa integração entre os canais online e offline, algo que o Magazine Luiza, por exemplo, já faz melhor e com um modelo, de fato, de ecossistema”, afirma Terra. Patricia, do IBEVAR, acrescenta: “Ao mesmo tempo em que carrega um bom diferencial, essa estrutura mais pesada acaba tornando a inovação mais lenta e custosa.”

A trajetória como uma das pioneiras do e-commerce brasileiro, no entanto, é, em contrapartida, uma vantagem nessa corrida. “Eles têm um time forte, essencialmente digital, e que já testou muitas coisas”, diz Terra. “A empresa está no ápice da curva de aprendizado e tem tudo para alcançar o fim da rampa e se tornar uma operação rentável.”

Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.