Combinar operações depois de uma aquisição costuma ser um trabalho complexo e, muitas vezes, longo e doloroso para qualquer empresa. A raia drogasil, no entanto, parece ter a receita para que a integração da Drogaria Onofre aconteça sem grandes dores.

“Temos uma estratégia rápida e assertiva para reverter o prejuízo da Onofre, com o mínimo de distração possível para a nossa operação”, afirmou Eugênio de Zagottis, vice-presidente de planejamento e de relações com investidores do grupo, em teleconferência com analistas realizada hoje pela manhã. “Tanto que se a integração fosse apenas das lojas físicas, o trabalho já estaria concluído.”

Concluído em 1⁰ de julho, o acordo não envolveu qualquer desembolso por parte do grupo. Frustrada com o insucesso do ativo adquirido seis anos antes, a americana CVS Health deixou o país levando na bagagem os passivos da Onofre e um processo de arbitragem com a família Arede, fundadora da rede.

Sem essas preocupações, a raia drogasil já integrou as lojas físicas da Onofre em sua plataforma. Das 50 unidades, oito foram fechadas no último mês, por questões como sobreposição e baixo desempenho. Esse último componente ainda pode levar ao encerramento de outras operações. Entre os pontos de venda remanescentes, outros oito foram convertidos para as bandeiras Raia e Drogasil. A marca Onofre, por sua vez, ficará restrita a atuação no comércio eletrônico.

No canal online, o plano é trazer todos os sistemas de e-commerce, bem como a estrutura de logística da Onofre, para dentro de casa até o fim de outubro. O processo inclui o fechamento dos centros de distribuição instalados em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

A redução de custos com essas medidas é um dos componentes para reverter os R$ 100 milhões de Ebitda negativo da Onofre até o fim do ano. Um capital de giro de R$ 124,5 milhões e a venda de imóveis com valor estimado em R$ 30 milhões reforçam essa estratégia, que inclui ainda frentes como o maior poder de barganha junto a fornecedores.

A aquisição traz uma série de benefícios para a Raia Drogasil. Zagottis aponta questões como a experiência em marketing digital, o atendimento clínico nas unidades e os serviços de saúde, como vacinação, prestados nas lojas da Onofre, uma herança da CVS Health.

As principais sinergias da integração da Onofre estão na operação de e-commerce

As principais sinergias, porém, estão na operação de e-commerce. Em um contraponto à tímida rede física de lojas, a Onofre investiu fortemente nos últimos anos nesse canal, que responde por 45% das suas receitas. Entre outros recursos, a empresa desenvolveu um sistema eficiente de logística, capaz de realizar a entrega de produtos comprados em seu site em até 4 horas.

O avanço virtual da Onofre, especialmente em um setor no qual esse canal ainda é incipiente, era limitado, no entanto, por sua presença modesta, restrita a São Paulo, com 47 lojas, e ao Rio de Janeiro. “Vamos usar toda a nossa estrutura e capilaridade a serviço da marca”, disse Zagottis. “O digital vai ser a próxima alavanca de crescimento da Raia Drogasil.”

Nessa frente, o grupo já vem investindo em alguns recursos, como a possibilidade de comprar produtos online e retirar nos pontos de venda. As mudanças no modelo de trabalho, com a formação de times ágeis, e os investimentos em big data também seguem essa toada. Hoje, entre outras funções, o aplicativo da rede alerta o cliente sobre descontos ou mesmo sobre o momento de repor um medicamento de uso essencial. Tudo com base no histórico de consumo.

Expansão acelerada

A integração da Onofre chega em um bom momento para a Raia Drogasil. Ontem, após o fechamento do mercado, a empresa divulgou o balanço referente ao segundo trimestre. No período, o faturamento cresceu 17,1%, em comparação a um ano antes, para R$ 4,4 bilhões. O lucro líquido foi de R$ 160,5 milhões, um salto de 13,2%.

Um dos destaques foi o avanço de 4% na receita de lojas maduras, uma alta real acima da inflação, algo que o grupo projetava alcançar apenas no fim do ano. O mercado reagiu positivamente aos indicadores. A cotação das ações da companhia subia 8% próximo das 13 horas.

O desempenho foi atribuído a duas questões, em especial. A primeira delas foi a decisão de reduzir os preços de genéricos. A medida foi uma resposta a estratégia de redes menores, que, reunidas em redes associativistas, passaram a negociar valores mais acessíveis com fornecedores.

O segundo fator foi um forte ritmo de expansão da Raia Drogasil, em um contraponto a desaceleração de aberturas de lojas dos concorrentes. No primeiro semestre, o grupo inaugurou 92 unidades contra apenas 28 das rivais, chegando a um total de 1.917 pontos de venda. O plano é chegar a 240 lojas abertas em 2019.

No primeiro semestre, a Raia Drogasil abriu mais lojas que todos os seus concorrentes

Um dos principais nortes nessa direção é o reforço em regiões nas quais a rede ainda tinha pouca presença. No Nordeste, a companhia superou 230 lojas e chegou a uma participação de mercado de 7,9%, com o ganho de 2,1 pontos percentuais no período. No Norte, onde até pouco a atuação estava restrita a Tocantins, hoje já são 28 lojas no Pará. Um dos próximos mercados alvo é o estado do Amazonas.

“Temos tudo para navegar por águas mais tranquilas do que aquelas que enfrentamos nos últimos dois anos”, afirmou Zagottis. “Nunca estivemos tão fortes e prontos para liderar a consolidação do mercado.”

O apetite da Raia Drogasil não contrasta apenas com a modesta expansão de seus concorrentes brasileiros. Ontem, a rede americana de farmácias Walgreens informou em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC) que planeja fechar 200 lojas nos Estados Unidos. Atualmente, o grupo tem 9,5 mil unidades no país.

O plano veio à tona pouco depois de a empresa anunciar, em maio, que irá encerrar as operações de 200 unidades no Reino Unido. “Estamos realizando um programa de transformação da gestão de custos para acelerar a transformação dos nossos negócios, possibilitar investimentos em áreas-chave e tornar a empresa mais eficiente”, afirmou a empresa em nota enviada ao Business Insider.

Em seu terceiro trimestre fiscal, encerrado em 31 de maio, a Walgreens reportou um ligeiro avanço de 0,7% na receita, para US$ 34,6 bilhões. Já o lucro líquido da companhia caiu 23,6%, para US$ 1 bilhão.

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