Quando foi fundada, em dezembro de 2020, a Adventures uniu a área de marketing digital com uma estratégia de criar DVNBs (digitally vertical native brands), marcas digitais em sociedade com celebridades ou esportistas. Aos poucos, no entanto, o grupo fundado por Rapha Avellar, Ricardo Dias e Gerard Roure, começou a trilhar um caminho cada vez mais tecnológico.
O aporte de R$ 50 milhões liderado pela gestora Provence Ventures, em fevereiro deste ano, contou também com a participação do Mercado Livre, que se tornou um parceiro comercial em e-commerce e em logística. Logo em seguida, a companhia entrou na área de comércio eletrônico, com a compra da e-Can, concorrendo com empresas como Infracommerce.
Agora, um novo ingrediente tecnológico está sendo adicionado a esse quebra-cabeça. A companhia está criando a Adventures X, uma frente para aproximar marcas de temas como metaverso, NFTs e live commerce.
“A ambição sempre foi construir uma plataforma poderosa de marketing e o braço de tecnologia completa o plano”, diz Avellar, ao NeoFeed. “Começou com a construção de marcas, passou para o e-commerce e termina com a terceira ponta, que é caracterizada pelo desenvolvimento de tecnologias proprietárias.”
A Adventures X encaixa nesta estratégia ao permitir que as marcas possam operar também com ferramentas como metaverso, web3, trade marketing sensorial e voice apps. Na prática isso pode significar desde a criação de um token para uma celebridade até campanhas de marketing feitas dentro de um ambiente totalmente virtual. “Nos próximos 12 meses, muitas empresas que trabalham com grandes marcas vão ter que se movimentar na direção da creator economy", afirma Avellar.
O conceito de creator economy, ao qual o empreendedor se refere, é traduzido na forma de rentabilizar o conteúdo produzido e divulgado em plataformas digitais. Vai além, por exemplo, de um influenciador digital ganhar um cachê pela divulgação de uma marca em uma postagem no Instagram ou no TikTok. Com novas tecnologias, como metaverso e NFTs, este modelo ganhou novas formas de monetização.
“Há uma procura no mercado de influenciadores digitais para que monetização pela audiência seja feita também por produtos e não só por ações de marca”, diz Douglas Gomides, especialista em marketing digital e mídias sociais. “Os tokens, por estarem relacionados à indústria de criptoativos, tendem a crescer neste mercado.”
A ideia de criar uma divisão que atacasse este mercado nasceu ainda em 2021, mas acelerou neste ano. Nos últimos meses, a Adventures contratou mais de 20 pessoas para a área que é comandada por Conrado Caon, CTO do grupo. A companhia pretende triplicar o número de funcionários do braço de tecnologia em 2023.
Além disso, a Adventures X firmou também acordos com duas empresas que atuam com projetos de tokenização de ativos e blockchain: as cariocas Lumx Studios e Block4. A primeira já realizou projetos para a influenciadora digital Boca Rosa e para a grife de roupas Reserva. Já a Block4 é uma investida da 2TM, holding que controla o Mercado Bitcoin.
O primeiro trabalho da Adventures X será o lançamento de uma campanha, nos próximos 60 dias, para uma marca brasileira dentro do metaverso. O nome do cliente é mantido sob sigilo. Outro projeto está sendo feito com o uso de tokens. A ideia é lançar e vender fan tokens de empresas e celebridades.
Esses artefatos virtuais podem garantir vantagens exclusivas aos detentores, como descontos em produtos e prêmios. Além disso, o token também poderá ser comercializado no mercado secundário, o que o transforma em um ativo de investimento.
O modelo não é novo, mas é mais popular no mundo dos esportes. A Socios.com, por exemplo, já opera com a tecnologia e tem acordos com clubes de diferentes esportes, inclusive do futebol. Quem adquire um fan token de um determinado clube pode votar para escolher o melhor jogador de um jogo, o que estará escrito na braçadeira do capitão da equipe e até garantir ingressos para assistir partidas nos estádios.
A euforia em torno de tokens e NFTs, no entanto, parece ter diminuído. Na OpenSea, a principal plataforma para a revenda dos criptoativos, o volume diário de transações que já chegou a ser de US$ 400 milhões agora está por volta de US$ 8 milhões. O valor dos artefatos virtuais também despencou. Uma NFT comprada pelo jogador Neymar, por exemplo, já perdeu mais da metade de seu valor de mercado desde a aquisição.
Publicidade + tecnologia
A união de publicidade e tecnologia é uma tendência. A WPP, maior grupo de comunicação do mundo, comprou, no ano passado, a mineira DTI Digital, uma empresa cuja essência é desenvolver softwares e não criar estratégias de comunicação para grandes empresas através de tecnologia.
Outro exemplo é o caso da Accenture, consultoria que comprou, desde 2015, mais de 30 empresas ligadas com a área de publicidade em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Por aqui, a companhia adquiriu a agência digital AD.Dialeto, em 2015, e a agência de marketing New Content, em 2018.
No Brasil, a Zmes, fundada pelo ex-McKinsey Marcelo Tripoli, busca ocupar esse espaço entre a publicidade e a tecnologia. Criada em 2020, a agência de marketing quer usar ferramentas digitais com recursos de inteligência artificial para atender os clientes.
Outro movimento no Brasil que indica que as empresas de tecnologia querem uma fatia do mercado de publicidade e marketing foi dado pela Stefanini. Em julho de 2020, a empresa adquiriu a holding Haus, grupo de comunicação fundado em Porto Alegre, dono da agência de publicidade W3Haus, além das empresas Brooke, Caps, Huia, Hopo e Now3.
A Adventures está também trilhando esse caminho. No ano passado, fez M&As que trouxeram para dentro de casa o estúdio Homem de Lata, a consultoria Fellipa Consulting e a agência de marketing esportivo Go4it. A empresa fez também uma parceria com a Religion of Sports, startup de mídia cofundada pelo quarterback americano Tom Brady.
Esses movimentos foram estratégicos para criação de DNVBs, o que começou a ser feito no fim de 2021, com o lançamento de uma marca da atriz mirim Sienna Belle. A vertical ganhou mais força com a parceria firmada, neste ano, com o cantor Gusttavo Lima, que tem mais de 44 milhões de seguidores no Instagram. A previsão é lançar mais seis marcas nos próximos meses.
O e-commerce é um braço que ajuda as DNVBs, mas também concorre no mar aberto. A divisão da Adventures já opera com 77 marcas e foi reforçada com a aquisição da agência de performance E-Can. Junto com o Mercado Livre, a companhia tenta fechar a jornada que vai desde a criação de lojas virtuais e gestão de venda até a serviços de CRM, SAC e cadeia logística.
Com todos esses movimentos, a previsãoda Adventures é dobrar sua receita neste ano. Em dezembro do ano passado, o run rate (receita recorrente anual) da Adventures chegou a R$ 90 milhões e o de Ebitda, a R$ 10 milhões. Quase todo o faturamento veio dos serviços prestados para grandes marcas.