Uma casa na árvore a cerca de quatro metros do solo, com grandes panos de vidro para a mata densa de uma reserva florestal e um rio de águas limpas. Autossustentável, com uma cama de casal que dá a sensação de flutuar no espaço, lençóis Trousseau, internet e ofurô a céu aberto. Assim será a quinta casa da plataforma de hospedagem Altar, criada em janeiro de 2020, e que deve ficar pronta em junho, no Legado das Águas, interior de São Paulo.

Baseada em pequenos refúgios independentes e sustentáveis, a Altar foca no turismo de isolamento -- que já vinha crescendo mundialmente antes mesmo da pandemia escancarar a necessidade de nos reconectarmos à natureza de tempos em tempos -- para criar um modelo "disruptivo" no mercado de hospitalidade no Brasil e se tornar a maior empresa do segmento na América do Sul nos próximos anos.

“A primeira casa da rede – uma unidade flutuante instalada na represa de Piracaia (SP) – nasceu para testar o modelo que conhecíamos nos Estados Unidos e Austrália. Se desse errado, ao menos teríamos um lugar muito gostoso para usar depois. Mas assim que abrimos para reservas já tínhamos uma fila de espera de seis meses. Aí vimos o potencial do negócio”, lembra Rodrigo Martins, um dos quatro sócios da empresa, que recebeu investimento inicial de R$ 3 milhões.

Co-fundador do Instituto DNA Brasil e da Nuts, voltada a experiências corporativas, ele divide o planejamento e gerenciamento estratégico do negócio com o empresário Facundo Guerra (conhecido na noite paulistana por empreendimentos como Cine Joia, Blue Note, Bar dos Arcos e Mirante 9 de Julho), a chef Renata Bagnolesi e, mais recentemente, o arquiteto e urbanista Pedro Lira, sócio-fundador da Natureza Urbana, que tem experiência em desenvolvimento de "projetos de ecoturismo de grande escala nos âmbitos público e privado", como parques.

A Altar pretende implementar 70 casas pré-fabricadas em diferentes pontos do Brasil e América do Sul nos próximos quatro anos inspirada, principalmente, na startup nova-iorquina Getaway, hoje com cerca de 400 “tiny houses” espalhadas pelos Estados Unidos e com investimento na casa dos US$ 80 milhões vindos da Starwood Capital.

A casa flutuante, primeira da rede, na represa de Piracaia (SP)

“Já temos áreas mapeadas ou em estágio avançado de conversas perto de Curitiba (PR), Gonçalves (MG) e Capitólio (MG). Mas outros estados da região Sul, a Bahia, Tocantins e Mato Grosso também têm bastante público com apetite para o turismo de luxo e natureza”, afirma Martins. Argentina, Patagônia, Chile e até mesmo Portugal também estão no radar, “mas para um segundo momento”, completa.

O foco, agora, é conseguir captar R$ 15 milhões em uma primeira rodada de investimentos aberta na semana passada para garantir a expansão planejada. Atualmente, a empresa conta com quatro casas em operação que, segundo Martins, já dão lucro. São duas unidades flutuantes (projetadas pela SysHaus), uma terrestre (assinanda pela Cubic7) e outra sobre rodas. Esta recém-inaugurada no Legado das Águas, reserva de Mata Atlântica da Votorantim, em Tapiraí (a duas horas de São Paulo).

O “trailer” é a primeira de muitas casas que virão sob a batuta de Lira, que a partir de agora coordenará a internalização dos projetos. Desta forma, será possível implementar uma nova casa, todas pré-fabricadas e autossuficientes em energia e esgoto para que não dependam de redes externas, em apenas três a quatro meses, terceirizando apenas a fabricação. Até o fim de junho será inaugurado o primeiro modelo da casa na árvore, também dentro do Legado. “A ideia é ter ao menos quatro casas em cada local para começar a ter escala”, diz Lira.

A "Tiny House" sobre rodas: pré-fabricadas e em funcionamento em até quatro meses

Com metragens que variam de 20 m² a 60 m² de área interna, e configurações voltadas a casais com ou sem filhos, os refúgios exigem investimento médio de R$ 500 mil (R$ 700 mil a flutuante e R$ 300 mil a “tiny house” sobre rodas) e vêm sendo alugadas por R$ 900 a R$ 1700 ao dia pelo Airbnb. O tempo médio de hospedagem é de dois a três dias. Em 2021, as três primeiras casas disponíveis tiveram taxa de ocupação média de 90%, atingindo faturamento de R$ 2 milhões.

Ao contrário do que se poderia imaginar, o perfil de investidores buscado pelo grupo no momento não tem a ver com o terreno ideal para a implementação dos projetos. “É até melhor que sejam coisas distintas para que a escolha dos locais seja bem feita, com foco no resultado”, pondera Martins. Entre as premissas para a determinação do ponto estão a proximidade de grandes centros urbanos (de preferência a no máximo três horas de carro), beleza natural única, acessibilidade, infraestrutura mínima e custo viável.

“O Altar pode estar em uma fazenda, um rancho, um parque, uma vinícola, uma plantação de oliveira ou mesmo na praia. Mas essa não é nossa prioridade porque é um perfil já bem desenvolvido”, lista Lira. Com vasta experiência na modelagem de parcerias público privadas em equipamentos de uso público, de interesse turístico, Lira pretende facilitar a expansão da rede também em parques nacionais.

De acordo com o modelo de parceria, não há aluguel fixo do terreno. O proprietário da terra fica com 10% a 15% da receita gerada pelo aluguel. Valor que varia dependendo da estrutura já existente para limpeza, receptivo e oferta de serviços e experiências extras, como trilhas guiadas, spa, aulas de canoagem ou ioga, por exemplo.

Ambientação da casa flutuante na represa de Piracaia (SP)

“O importante é manter uma estrutura muito enxuta”, lembra o arquiteto. Atualmente, a equipe da Altar se resume a apenas 12 funcionários para cuidar do atendimento ao cliente, operacional e manutenção das casas, marketing e financeiro.

Com dez family offices e fundos listados para conversar nos próximos dias, o processo de captação capitaneado pela WM Capital, empresa de wealth management do CV Group, prevê aportes mínimos de R$ 1 milhão, através de um contrato de mútuo conversível, que garantirá ao investidor early stage um desconto de 20% em relação às próximas rodadas de captação.

Mas o desejo do grupo é fechar o montante com no máximo quatro novos sócios. “Queremos atrair investidores que contribuam ativamente para o nosso crescimento, olhem para a disrupção no mercado de hotelaria, já tenham o olhar ESG e estejam dispostos a ser embaixadores do projeto”, aponta Martins, que vê nesta primeira rodada a alavanca necessária para "investimentos exponenciais".