O mercado de ativos digitais, que inclui as criptomoedas e tem ganhado cada vez mais adeptos, já atinge US$ 2,1 trilhões em todo o mundo, segundo o site CoinMarketCap.com, que acompanha as plataformas de negociação ao redor do globo. Trata-se de um montante que supera o PIB de países como Itália e Canadá.

Em junho, o número de usuários que já haviam negociado criptomoedas ou usado aplicativos baseados em tecnologia blockchain era de 221 milhões, 66 milhões a mais que em maio do ano passado, de acordo com o site Cryptos.com.

Estes são alguns dos números que foram levantados pelo Bank of America (BofA) e que mostram, na visão do banco americano, que o setor de ativos digitais se tornou “grande demais para ser ignorado”.

“Estamos, em nossa visão, apenas nas primeiras fases de uma grande mudança que ocorrerá nos próximos 30 anos", escrevem os analistas Alkesh Shah e Andrew Moss, autores do relatório do BofA distribuído a clientes.

A instituição não se arrisca a cravar números para os próximos anos, mas afirma que a tecnologia voltada para esse mercado tem avançado com velocidade. “Centenas de empresas estão agora dentro do ecossistema de ativos digitais, fornecendo suporte de infraestrutura, mercados e aplicativos, com finanças descentralizadas, identidade digital, cadeia de suprimentos, jogos e mídia social”, dizem.

O aquecimento do setor tem, inclusive, se refletido em mais fusões e aquisições. Os M&As relacionados a ativos digitais saltaram para US$ 4,2 bilhões no acumulado de 2021, contra US$ 940 milhões em 2020, segundo o site Pitchbook.com.

Já os investimentos feitos por fundos de venture capital em negócios ligados a ativos digitais alcançaram US$ 17 bilhões no primeiro semestre deste ano, três vezes o resultado atingido em todo o ano passado, de US$ 5,5 bilhões, também de acordo com o site Pitchbook.com.

"São números que indicam uma indústria dinâmica e em maturação", afirmam os analistas do banco. "Ainda estamos nas primeiras etapas e vamos ver o potencial de criação de valor nos próximos cinco anos".

Entre as empresas citadas pelo BofA, estão a Coinbase, Bitso, que operam como plataformas; a BitGo e a Bitpay, que atuam como carteiras digitais; a brasileira BTCJam, que viabiliza empréstimos por meio de bitcoin; a AlphaPoint, um whitelabel para plataformas de negociação; e a Bitfury, de mineração de criptomoedas.

No Brasil, o BTG anunciou em setembro que iria lançar a Mynt, a primeira plataforma de negociação de criptomoedas desenvolvida por um banco brasileiro. O negócio deve começar a operar neste trimestre e vai competir com nomes como Mercado Bitcoin e Zro Bank, além da mexicana Bitso, recém-instalada no mercado brasileiro.

No relatório, o BofA lembra que o bitcoin foi projetado para funcionar como dinheiro, mas é cada vez mais visto como "ouro digital". No entanto, embora represente US$ 900 bilhões em mercado, não é a única relevante, destacam.

A Ethereum, segunda criptomoeda mais popular, viabilizou a criação de uma plataforma alimentada por contratos inteligentes, permitindo o desenvolvimento de centenas de aplicativos que podem transformar finanças, seguros, jurídico, imobiliário e muitas outras indústrias, ressalta o banco.

“Ativos digitais que permitem a construção de aplicativos, como o Apple fez com sua App Store, estão ganhando mais valor”, afirmam os analistas, que acreditam que o mercado deve proporcionar mais oportunidades "do que os céticos esperam".

"Em um futuro próximo, você pode usar o a tecnologia blockchain para desbloquear seu telefone; comprar uma ação ou uma casa; receber um dividendo; pedir emprestado, emprestar ou economizar dinheiro; ou até mesmo pagar pelo gás ou pela pizza”, dizem.

Nem todo mundo, porém, está entusiasmado com o mercado de ativos digitais. O CEO de um outro banco americano, Jamie Dimon, que comanda o J.P. Morgan, disse na terça-feira, dia 4, que o bitcoin “é um pouco ouro de tolo”, em entrevista ao “Axios on HBO”, programa de entrevistas do portal americano Axios no canal HBO.

O executivo, que afirmou que o bitcoin não tem valor intrínseco, destacou que a criptomoeda precisa ser regulamentada pelo governo. “Você não pode regular tudo o que um banco faz em termos de movimentação de dinheiro e não regular o que você chama de dinheiro”, afirmou, em uma referência à moeda digital.

“Você pode chamá-lo de título ou ativo ou algo parecido. Mas se as pessoas estão usando para evasão fiscal, tráfico sexual e ransomware, será regulamentado, goste você ou não”.

Não significa, contudo, que o J.P Morgan não trabalhe com o ativo. Em agosto deste ano, a instituição passou aos seus clientes da área de gestão de fortunas acesso a fundos de criptomoedas, tornando-se o primeiro banco dos EUA a seguir essa direção.

O BofA, embora esteja mais otimista, também está preocupado com a regulação, uma vez que o avanço do setor tem chamado a atenção dos governos. Eles ressaltam que países como China e Índia proibiram a negociação de bitcoins, enquanto os EUA já disseram, recentemente, que a indústria de ativos digitais está "no quadro de política públicas".

"A incerteza regulatória é o maior risco de curto prazo, em nossa opinião, mas a regulação pode impulsionar o aumento da participação do investidor durante o longo prazo, uma vez que as 'regras da estrada' para ativos digitais sejam estabelecidas", afirmam os analistas.