Startup de recursos humanos que atua na área de benefícios flexíveis, a francesa Swile escolheu o Brasil para iniciar sua expansão internacional, em 2021. O tíquete de entrada da empresa no País veio em fevereiro do mesmo ano, com a compra da Vee Benefícios.
A chegada oficial da companhia aconteceu, porém, em outubro do ano passado, na esteira de um aporte de US$ 200 milhões, liderado pelo Softbank. Com o cheque, a startup superou o valuation de US$ 1 bilhão, foi promovida ao status de unicórnio e elegeu o País como sua prioridade.
Agora, em mais um passo para fincar definitivamente seus pés no Brasil, a Swile antecipou ao NeoFeed a nomeação de Júlio Brito, para assumir o comando da operação local. Com uma bagagem de mais de 30 anos no setor, ele tem passagens por empresas como Alelo, Cielo, Banco do Brasil e Banco Safra.
“O mercado brasileiro de benefícios é o maior do mundo e gira em torno de R$ 150 bilhões. Hoje, isso está concentrado nas mãos de quatro empresas”, diz Brito, ao NeoFeed. “Mas as mudanças recentes feitas pelo regulador abrem muitas oportunidades para empresas como a nossa. Vamos para cima.”
Esse contexto teve como marco o decreto 10.854, publicado em 11 de novembro de 2021. Ele estabelece novas regras no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e promete tirar da zona de conforto o quarteto formado por Alelo, Ticket, Sodexo e VR Benefícios, que domina o setor.
Com entrada em vigor em 18 meses, a partir da sua publicação, o decreto traz como uma de suas principais mudanças a proibição de uma prática que até então era vista como a principal barreira para a entrada e o avanço de novos players nesse mercado: o rebate.
Muito comum entre os nomes que lideram o setor, donos de maior poder de fogo e escala, o rebate são os descontos concedidos por essas empresas às companhias que contratam os seus serviços dentro do PAT, em percentuais que giram, em média, entre 2% e 5%.
Uma empresa que gasta, por exemplo, R$ 2 milhões por mês com o vale-refeição e alimentação concedido aos seus funcionários repassa, de fato, R$ 1,9 milhão. Esse valor é embutido nas taxas dos cartões.
“Hoje, quem paga essa conta são os estabelecimentos e os usuários dos benefícios”, diz Brito. Entre as mudanças previstas, ele também destaca a possibilidade de o usuário fazer a portabilidade do valor do cartão para outro serviço de sua escolha.
Assim como a Swile, outras startups estão atentas a essa perspectiva de concorrência em pé de igualdade. Com forte aposta em um modelo digital e na oferta de benefícios flexíveis, a lista inclui o iFood, que vem investindo pesado no segmento, e nomes como Flash Benefícios e Caju.
“Essas gigantes do mercado de benefícios são grandes demais para todas as mudanças que vêm por aí”, afirma Brito, que diz ter conhecimento de causa, pelo fato de já ter atuado “do outro lado”. “O decreto vai exigir rapidez e com os sistemas parrudos que elas têm, não vai ser fácil virar a chave.”
No caso da Swile, a oferta envolve um cartão Mastercard que reúne benefícios como vale-refeição, alimentação e mobilidade, além de auxílios para home-office, cultura e saúde. O portfólio inclui ainda parcerias e descontos com segmentos como academias.
Brito destaca que os sistemas da Swile conseguem identificar e repassar aos departamentos de RH a natureza de cada gasto do cartão. A dificuldade de fiscalizar o uso irregular dos cartões ligados ao PAT é justamente uma das críticas feitas pelas empresas tradicionais aos novos players.
Com esse modelo, a Swile tem mais de 100 mil usuários ativos e atende mais de 2 mil empresas. Essa carteira local tem companhias como Bayer, Fiat, Whirlpool, Ambev e Petlove.
“Nossa meta é, no mínimo, quadruplicar esses números em 2022”, afirma. “E vamos, pelo menos, dobrar o número de funcionários no País. Hoje, estamos com cerca de 150 profissionais.”
Para alcançar essa meta ambiciosa, Brito entende que outro trunfo é, literalmente, sua rodagem no mercado. O executivo trabalhou em estados como Amazonas, Bahia, Minas Gerais e São Paulo, além de visitar periodicamente outras regiões.
“A ideia é atacar as grandes empresas, mas também o varejo. O mato é alto, mas vamos sair do eixo Rio-São Paulo”, diz. Ele ressalta que o fato de a Swile estar plugada na rede de aceitação da Mastercard, com mais de 3 milhões de estabelecimentos em todo o País, cria um atalho nessa estratégia.
O formato é um contraponto aos arranjos fechados das líderes do setor, que são, ao mesmo tempo, emissoras, bandeiras e adquirentes. “Não temos que construir a nossa rede. Já uma empresa tradicional tem que cadastrar estabelecimento por estabelecimento em cada cidade.”
A busca por parcerias é outra via para cortar caminho na captação de clientes. O foco está em operações que já tenham relacionamento com as áreas de RH, como corretoras de planos de saúde e empresas de recrutamento.
A Swile também vai firmar novos acordos para ampliar seu leque de benefícios. Hoje, a empresa tem contrato, por exemplo, com a TotalPass, que dá acesso a redes de academias. E está buscando novas parcerias com redes de farmácias e empresas de educação, para a oferta de descontos aos usuários.
Ainda nessa ponta, além do desenvolvimento local, a startup planeja trazer gradativamente ao País algumas das soluções que já são ofertadas pela empresa na França.
O pacote envolve, por exemplo, benefício de férias, que inclui reserva de passagem e hospedagem; benefício de “mobilidade verde”, com bicicleta, patinetes elétricos e carros compartilhados para o trajeto ao trabalho; cashback; e uma plataforma de pesquisas de clima e engajamento nas empresas.