Fundada em 2019 como parte da JVMC Participações, a BLZ Recicla rapidamente ganhou escala na cadeia de economia circular do vidro. Três anos depois, a empresa já responde por 60% da receita do grupo, que reúne negócios como Better Drinks, Grão Malte, BLZ Distribuidora e BLZ Bank.

Depois de alcançar esse status dentro de casa, a companhia vai ampliar suas fronteiras. A BLZ Recicla está arrumando as malas rumo aos Estados Unidos e à Europa. E, ao mesmo tempo, tem um plano em curso para expandir sua operação no Brasil.

“Vamos investir mais de US$ 10 milhões apenas nos Estados Unidos”, diz Rodrigo Clemente, fundador e CEO da JVMC Participações, ao NeoFeed. “No Brasil, o plano envolve um aporte de R$ 110 milhões em maquinário e mais de R$ 15 milhões em infraestrutura.”

Ao desembarcar no mercado americano, a BLZ Recicla vai replicar o modelo que adota no Brasil. Por aqui, a empresa compra e recolhe garrafas de vidro junto a 1,3 mil fornecedores, entre cooperativas e catadores, além de uma rede de 28 mil bares e restaurantes.

A etapa seguinte envolve a avaliação e a seleção desse material. As garrafas próprias para reuso são destinadas aos setores de cerveja e de cachaça. O restante é quebrado e vendido para indústrias de vidro.

A partir desse fluxo, os galpões da companhia, que somam uma área total de 9 mil metros quadrados, recebem mais de 700 mil garrafas diariamente. Desde o início da operação, a BLZ Recicla já ajudou a retornar cerca de 40 milhões delas ao mercado.

O aporte nos Estados Unidos será aplicado em três unidades de separação nos estados de Nevada, Ohio e Flórida, com início de operação em outubro e uma estrutura inicial de 150 funcionários. Na bagagem, a empresa está levando acordos para atender empresas que compõem sua carteira no Brasil, como Ambev, Heineken e Femsa.

“Vamos negociar esse material tanto com as indústrias americanas como em mercados como o México”, conta Clemente. “As garrafas no mercado americano são de muita qualidade. É um volume gigantesco e que, hoje, é pouco reciclado.”

Na ponta da coleta do material, a BLZ Recicla está negociando uma série de acordos com prefeituras e estados, além de manter conversas com redes hoteleiras e as ligas americanas de esportes.

A empresa prevê chegar a um volume mensal de 45 mil toneladas no primeiro ano da operação e evoluir para 70 mil toneladas e 150 mil toneladas nos dois anos seguintes.

Já no mercado europeu, o modelo inicial passa pelas exportações de garrafas de vinhos. O primeiro destino será Portugal, também em outubro, com uma remessa de 150 mil recipientes. A empresa também negocia com potenciais clientes na Espanha e na França.

“A crise da falta de vidro começou muito forte em 2020 e como o ciclo do vinho é de 18 a 24 meses, essa demanda por garrafas está batendo agora na porta do setor”, diz Clemente. “Na Europa, essa procura está sendo ainda mais intensificada com o corte do gás russo.”

Rodrigo Clemente, fundador e CEO da JMVC Participações

Outros fatores estão contribuindo para que a demanda por garrafas reutilizáveis cresça, seja na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil. Clemente atribui parte desse cenário ao que classifica como sucateamento dessa indústria.

“O setor investiu pouco e acabou deixando o tempo passar”, diz o executivo, acrescentando que a oferta atual de matéria-prima não consegue acompanhar e atender os níveis de consumo. “Já havia um descasamento e, com a pandemia, a indústria entrou em colapso.”

Dados anteriores a esse contexto, referentes a 2018 e compilados pela Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), apontam que a reciclagem desse material movimentava apenas R$ 120 milhões por ano no Brasil.

Com o novo cenário, a perspectiva é de um crescimento substancial desse volume, já que as garrafas reutilizáveis surgem como um atalho para cobrir essa falta de matéria-prima. Ao mesmo tempo, a procura por esse modelo vem sendo reforçada pelas demandas de ESG e por questões regulatórias, como a Plano Nacional de Resíduos Sólidos, no caso do mercado brasileiro.

Diante desse quadro, uma das empresas que vêm se movimentando é a Ambev. No fim de 2021, o grupo anunciou um aporte de R$ 870 milhões para erguer uma fábrica de garrafas de vidro no Paraná, prevista para entrar em operação em 2025 e com produção a partir de materiais reciclados.

Em junho deste ano, a Coca-Cola divulgou o plano de investir US$ 500 milhões para ampliar o volume de garrafas de vidro retornáveis em sua operação na América Latina.

Unidade da BLZ Recicla em Araçariguama (SP)

Atenta a esse panorama e disposta a mostrar que “tem garrafa para vender”, a BLZ Recicla está ampliando sua unidade em Araçariguama (SP) e vai investir em duas novas estruturas. Uma delas está localizada na cidade de Alagoinhas (BA) e a outra, em fase final de negociação, deve ser instalada próxima a Porto Alegre (RS).

Além de aumentar sua capacidade, a empresa vai avançar algumas etapas nessa cadeia. Um dos destinos do investimento são os equipamentos para descontaminar, moer e separar o vidro por cor. “Esse produto faz 88% de uma nova embalagem de vidro”, diz Clemente. “No modelo atual, o índice chega, no máximo, a 30%.”

No cronograma da empresa, as instalações estarão operando nesse formato a partir do segundo trimestre de 2023. Com esses projetos, a previsão é dobrar o quadro atual de 450 funcionários.

Em um segundo movimento, previsto para o segundo semestre de 2023, a BLZ Recicla planeja levar essa abordagem de descontaminar e moer o vidro para os Estados Unidos. No mesmo período, a empresa pretende investir em estruturas próprias na Europa.

“Temos um projeto sendo desenhado para Portugal”, afirma o empresário. E, no caso do continente, essa base não estará restrita ao atendimento ao setor de vinhos. “Já temos demanda da indústria cervejeira na Alemanha e na Holanda.”

Financiadas com caixa próprio e por recursos como uma emissão de debêntures de R$ 67 milhões, todas essas iniciativas vêm acompanhadas da projeção de saltar de um faturamento de R$ 140 milhões, em 2021, para uma receita bruta de R$ 600 milhões em 2023. “Nas nossas estimativas, em cinco anos, a operação internacional responderá por 50% do nosso resultado”, conclui Clemente.