A compra da Linx pela Stone foi classificada como um lance de mestre que colocou as duas empresas em um novo patamar no mercado de pagamentos e de software, segundo especialistas com os quais o NeoFeed conversou.
Anunciada na terça-feira, 11 de agosto, a Stone fez uma proposta que avalia a Linx em R$ 6 bilhões. O negócio ainda precisa ser aprovado pelo conselho da Linx e pelas autoridades antitruste.
“O negócio tem a ver com a questão de escala. A Stone nasceu em pagamentos e levaria muito tempo para nós fazermos (o negócio de pagamentos)”, disse Alberto Menache, CEO da Linx, em teleconferência de resultados, nesta quarta-feira, 12 de agosto. “É uma aceleração muito grande.”
A transação não mexe apenas com as duas empresas. Ela tem potencial de provocar grandes movimentações no mercado. Em especial, com os competidores do mercado de adquirência, como Cielo, Rede, Getnet e PagSeguro, e com a maior empresa de software de gestão no Brasil, a Totvs.
É consenso entre os analistas de que essas empresas agora precisam se movimentar para se adequar ao novo cenário competitivo. “Todos esses players vão ter que se reinventar”, diz uma fonte que atua no setor de meios de pagamentos.
Stone e Linx, quando estiverem operando juntas, terão capacidade de fazer uma oferta integrada que reúne serviços de pagamentos com software de gestão para o varejo, área na qual a Linx detém uma fatia de 45,6%.
“O médio varejista necessita de soluções para ajudar a gerenciar o seu negócio”, diz Davi Holanda, CEO da Acesso, um banco digital para a classe C e ex-executivo da PagSeguro.
O negócio combinado de Stone e Linx cria uma empresa com capacidade de processar R$ 450 bilhões em movimentação financeira, atinge 375 mil clientes e conta com um faturamento combinado de mais de R$ 3,6 bilhões.
“Pintou o novo líder”, diz Edson Santos, um dos principais especialistas em meios de pagamentos no Brasil. “Ele pode não ganhar o campeonato, mas está mais preparado para jogar esse jogo a partir dessa união.”
De acordo com Santos, existem cinco forças que movimentam o mercado de pagamentos: a concorrência, os novos entrantes (como Linx, Totvs e WhatsApp), o varejo (a exemplo de Magazine Luiza e Mercado Livre), tecnologia (QR Code e PIX) e o agente regulador (o Banco Central, que está atuando para eliminar barreiras).
Em sua visão, a Cielo, a Rede, a Getnet, que estão ligadas a bancos, têm se concentrado apenas na questão de pagamentos e na briga para ganhar mercado através de uma guerra de preços.
Já Stone e PagSeguro buscam atuar em frentes mais amplas que incluem oferta de serviços e soluções financeiras, bem como de soluções tecnológicas para aumentar a venda e a fidelização dos clientes.
“Em vez de se concentrar na guerra de preços, eles (Stone e PagSeguro) parecem ter identificado os problemas que existem no mercado e talvez estejam de fato fazendo uma mudança nessa guerra”, afirma Santos.
Do lado da Totvs, a questão que se faz é se ela caminhará sozinha ou buscará um parceiro para fazer uma oferta de serviços mais integrada. Procurada, a companhia não quis se manifestar.
No ano passado, a companhia comandada por Dennis Hercowitz, um ex-executivo da Linx, criou sua divisão de “tech fin” para oferecer soluções tecnológicas integradas a serviços financeiros a seus clientes.
Em relatório, o BTG Pactual disse que a Rede, que pertence ao Itaú, é uma das empresas que devem se preocupar com o negócio. A companhia capturava 40% dos R$ 89 bilhões que eram processados pela solução de TEF da Linx.
Em teleconferência com analistas, a Linx confirmou os dados e disse que o volume da Rede é mais de duas vezes maior do que o segundo colocado, a Cielo, ligada a Banco do Brasil e Bradesco. A Getnet, do Santander, é a terceira. Agora, a Linx deve ter uma oferta que incentive o varejista a usar a plataforma da Stone.