No fim de 2020, depois de pouco mais de um ano de operação e dos primeiros investimentos realizados com recursos próprios, a catarinense Terracotta Ventures, empresa de venture capital focada em construtechs e proptechs, começou a levantar o seu primeiro fundo, batizado de Terracotta Warriors I.
Com o plano de captar R$ 100 milhões até o fim de 2021 para investir em até 20 startups, no prazo de quatro anos, o fundo atraiu gigantes como Cyrela e Gerdau logo na largada. E participou, desde então, dos aportes de R$ 56 milhões na Yuca, em junho, e de R$ 30 milhões na Livance, em julho.
Agora, em uma nova rodada de captação, cujo valor não foi revelado, o fundo acaba de ganhar mais um reforço de peso do setor: a Vedacit, fabricante brasileira de impermeabilizantes, anticorrosivos e argamassas, entre outros produtos.
“Há dois anos, falar em investir em startup nesse espaço era algo estranho”, diz Bruno Loreto, cofundador da Terracotta, ao NeoFeed. “Mas surgiram unicórnios como QuintoAndar e Loft. Há um amadurecimento em torno do tema e a chegada de um nome como a Vedacit reforça essa visão.”
No caso da Vedacit, a evolução na relação da empresa com o ecossistema de startups também explica a participação na nova rodada. Com iniciativas nessa direção desde 2018, só agora a companhia entende que tal associação se encaixa em sua estratégia.
“Com o aporte, estamos consolidando a Trutec, nosso corporate venture capital”, diz Luís Fernando Guggenberger, executivo de inovação e sustentabilidade da Vedacit. “A ideia é acessar startups mais maduras e robustas. E é uma forma de enxergar quais delas queremos ter participação além do fundo.”
Além da Vedacit, por meio da Trutec, a nova rodada tem a participação de nomes como a Osher Investimentos, que já investiu em fintechs como a Consiga+, comprada em novembro de 2020 pelo Neon.
Integram ainda a nova captação da Terracota investidores e players regionais. Entre os 25 nomes que compõem essa lista estão as construtoras TGB, do Rio de Janeiro, e Fontana, de Santa Catarina; a catarinense Infrasul, de infraestrutura; e os sócios da Kingspan Isoeste, fabricante goiana de materiais de construção.
“Hoje, temos um ecossistema presente em mais de 15 cidades do País, com empresas de loteamentos, residenciais, comerciais, de shoppings, de material ou mesmo de investidores imobiliários”, ressalta Loreto. “Essa rede abre muitas oportunidades para ajudar e conectar as startups investidas.”
No radar do fundo, estão construtechs e proptechs que já tenham carteiras de clientes e tração no mercado. A Terracotta concentra os aportes nos estágios seed e série A, com cheques entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões. Há espaço, inclusive, para startups do exterior dispostas a desembarcarem no País.
Já no que diz respeito às frentes de atuação, o foco está em três segmentos. O primeiro são as novatas que digitalizam a intermediação dos imóveis, como a EmCasa, uma das investidas da Terracotta antes da criação do fundo.
O segundo pilar são as startups que investem no modelo de construção modular e, o terceiro, aquelas dentro de um conceito que a Terracotta classifica como real estate as a service, com a oferta de serviços no entorno do ativo imobiliário, como ofertas de produtos e serviços financeiros.
Google Play da Construção
A entrada da Vedacit no fundo, por sua vez, integra uma estratégia mais ampla da empresa. “Esse é um capítulo da nossa virada para deixar de ser uma empresa de produto, de commodity, para ser uma empresa de serviços”, diz Guggenberger.
A busca pela aproximação com startups para concretizar essa transição está concentrada na Trutec, hub de inovação que entrou em operação no início deste ano. E que além do corporate venture capital, abriga áreas como os programas de aceleração de startups do Vedacit Labs.
Tanto a participação no fundo da Terracotta como o Vedacit Labs encontram um denominador comum em outro modelo centralizado na Trutec: a oferta de uma plataforma com produtos e serviços de tecnologia voltados a toda cadeia de construção civil, com ofertas de startups investidas ou parceiras.
“Nosso plano é ser uma espécie de Google Play da Construção”, explica Guggenberger. “É fazer com que as startups possam plugar suas soluções nessa loja e ter um percentual de remuneração pelo que for comercializado na plataforma.”
A ferramenta se assemelha a um marketplace. Mas o executivo explica que o formato vai além desse modelo, dado que a Trutec também se propõe a prospectar clientes e gerar leads para essas empresas. Atualmente, a plataforma já reúne três ofertas.
A primeira é ConstruCode, startup cujo controle foi adquirido pela Vedacit e que é dona de uma plataforma que digitaliza as plantas dos empreendimentos e permite validar e, se preciso, atualizar ou alterar os projetos em tempo real, com a verificação in loco na obra.
Outra oferta envolve a Construct.IN, novata que desenvolveu um sistema de acompanhamento remoto das obras a partir de imagens 360⁰ e na qual a Vedacit detém uma fatia de 5%. Já entre as parcerias, a opção disponível é a ConstruFlow, que conecta as equipes durante a elaboração dos projetos.
“O plano é ter soluções para todas as fases de uma edificação, partindo das tecnologias para a aquisição de terrenos, baseadas em dados”, diz Guggenberger. “Passando pelo planejamento, concepção e design dos projetos, os materiais usados, a gestão do canteiro de obras e o empreendimento em operação.”
No caso dos aportes, o orçamento inicial da Trutec é de R$ 10 milhões, mas a ideia é discutir, caso a caso com o Conselho de Administração, a necessidade de mais capital dependendo das oportunidades na mesa.