Quando realizou o seu IPO, em dezembro do ano passado, a Rede D’Or indicou ao mercado que tinha pela frente uma agressiva agenda de aquisições, que envolvia a adição de mil leitos por ano em um período de cinco anos.

A empresa, porém, tem surpreendido os investidores com um apetite ainda maior para incorporar outros hospitais. O primeiro ano dessa agenda ainda nem acabou e a companhia já imprime um ritmo duas vezes mais rápido.

Com a mais recente aquisição, anunciada na noite de terça-feira, 5 de outubro, do Hospital Aeroporto, em Lauro de Freitas, na Bahia, no valor de R$ 230 milhões, a rede já acumula cerca de 2 mil novos leitos desde o IPO, segundo um levantamento feito pelo BTG Pactual.

“A máquina de M&As da Rede D’Or está a todo vapor”, escrevem os analistas Samuel Alves, Yan Cesquim e Pedro Lima, em relatório distribuído a clientes. No segundo trimestre deste ano, a rede contava 9.611 leitos.

O hospital adquirido, localizado na Região Metropolitana de Salvador, tem 85 leitos e deverá chegar a 200 com um esperado plano de expansão. Com o que o equipamento já tem, o BTG calcula um “atrativo” múltiplo de R$ 2,7 milhões por leito, abaixo de uma premissa de R$ 3,5 milhões por leito que o banco assume em seus modelos para a companhia.

Com a compra, a Rede D’Or agora tem quatro hospitais na Bahia, entre eles outro também recém-adquirido, o Santa Emília, comprado por R$ 201 milhões em julho deste ano.

"Gostamos desta aquisição (do Hospital Aeroporto), uma vez que melhora sua exposição à Bahia, um estado conhecido por seu grande déficit em número de leitos privados", afirmam os analistas.

De dezembro para cá, a Rede D’Or anunciou nove aquisições, segundo levantamento do BTG. A maior delas foi a compra de 51% do Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa, na Paraíba, por R$ 550 milhões.

Antes do IPO, a rede já vinha em uma sequência de aquisições. Desde fevereiro do ano passado, já são 16 incorporações.

Uma delas envolveu a compra de 80% do Hospital Aliança, de Salvador, por R$ 800 milhões, anunciada um mês antes do início da pandemia no Brasil. Os 20% que faltavam foram comprados há dois meses, por R$ 350 milhões. O total investido, portanto, foi de R$ 1,15 bilhão.

O setor de saúde tem sido um dos protagonistas em fusões e aquisições no Brasil. Em setembro, por exemplo, a Hapvida venceu uma disputa com a SulAmérica para comprar o grupo HB Saúde. A rede cearense vai desembolsar R$ 383,5 milhões por 59% do grupo, que tem uma atuação focada em cidades paulistas e mineiras.

A Rede Mater Dei é outra que anda com fome de aquisições. Desde o IPO, em abril, a companhia desembolsou R$ 800 milhões na compra de 70% do Grupo Porto Dias, em Belém (PA), e, mais recentemente, R$ 40 milhões por 50,1% da empresa de tecnologia A3Data.

Segundo o fato relevante da Rede D’Or que anunciou a aquisição do Hospital Aeroporto, o equipamento deverá ter R$ 20 milhões em Ebitda para 2022, já considerando as sinergias esperadas.

“Isso implica um múltiplo de transação de 11,5 vezes o valor de mercado sobre o Ebitda, o que fica atrás da Rede D’Or, que está rodando a múltiplo de 21 vezes”, calculam os analistas do BTG Pactual.

Os 200 leitos do hospital, em conta que inclui o plano de expansão, representam 20% do que a Rede D’Or tinha em 2020, diz o banco. O valor da transação, porém, de R$ 230 milhões, “não é relevante” em comparação ao valor de mercado da Rede D’Or, avaliada em R$ 132,1 bilhões.

Nesta quarta, a ação da Rede D'Or fechou o pregão negociada a R$ 67,03, em alta de 0,92%. O BTG, que recomenda a compra do papel, estima um preço-alvo de R$ 90 em 12 meses.