O varejo de moda vive dias de intensa movimentação no País. Enquanto boa parte das lojas sofre com as portas fechadas, desde a semana passada, grandes empresas e marcas do setor foram ao balcão e demonstrando seu seu apetite por aquisições e indicando um cenário de consolidação nesse mercado.
Com um histórico de crescimento inorgânico e criado, inclusive, a partir de uma fusão entre as grifes cariocas Animale e Farm, o Grupo Soma é mais um nome disposto a engrossar essa corrente. Especialmente, depois de captar R$ 1,35 bilhão na oferta primária do seu IPO, em julho de 2020.
“O tempo nos ensinou que a criação de uma marca orgânica é algo meio artificial e que não funciona, ao menos dentro do nosso grupo”, disse Roberto Jatahy, CEO do Grupo Soma, em live realizada pela XP, nesta terça-feira, 20 de abril. “Então, nosso foco, nesse caso, é de M&A. É nisso que acreditamos.”
Dentro dessa estratégia, a companhia, avaliada em R$ 6,9 bilhões e dona de uma receita líquida de R$ 1,24 bilhão em 2020, já escolheu seu próximo e principal alvo. “Em termos de categoria, fitness é o grande gap que temos no portfolio”, afirmou o empresario.
Segundo Jatahy, em 2019, o grupo chegou a negociar uma joint venture com uma marca estrangeira – não revelada – de fitness. Entretanto, com a chegada da pandemia, as conversas esfriaram e ficaram em modo de espera. “Mas nós seguimos buscando um ativo nesse segmento.”
Um primeiro aceno nessa direção foi dado em meados de março deste ano, com um investimento realizado na Lauf, marca de fitness criada em 2010 pelas empresárias Anna Guinle e Marina Rovery.
O acordo, cuja participação e valores não foram revelados, marcou o anúncio da criação do Soma Ventures, fundo de corporate venture do grupo, bem como a primeira aquisição do veículo.
Antes desse investimento, o grupo realizou, em outubro, sua primeira aquisição depois do IPO, com a compra da NV, marca digital da empresária Nati Vozza, por cerca de R$ 210 milhões
Além do segmento de fitness, há outros possíveis acordos em jogo. Na sexta-feira, 16 de abril, o Grupo Soma divulgou um fato relevante comunicando que está avaliando uma possível combinação de negócios com a Shoulder, grife de moda feminina, criada pela família Majtlis.
“Temos uma conversa antiga e uma grande admiração pela operação e a capacidade do time de gestão da empresa”, afirmou Jatahy. “Não existe nada avançado e as conversas ainda estão mais no campo da estratégia e de entender o que eles pensam do futuro.”
Nesse contexto, o empresário ressaltou que a tese de aquisições do Grupo Soma é muito guiada pelo alinhamento com os sócios e fundadores do ativo avaliado, que, geralmente, permanecem na operação. “É um modelo que tem um viés associativo”, disse. “Tudo o que não queremos é trazer um sócio minoritário com uma visão completamente distorcida da nossa.”
Jatahy destacou ainda que o grupo também busca oportunidades no espaço de marcas femininas, com um preço médio no portfólio um pouco abaixo das marcas que a empresa detém no segmento, como a Farm, cujo tiquete médio de compra é de R$ 230.
Na concorrência
Uma das concorrentes do Grupo Soma que também está ativa nesse espaço é a Arezzo. Na quarta-feira, 14 de abril, a empresa confirmou que fez uma proposta de R$ 3 bilhões pela Hering que, por sua vez, disse não a essa primeira investida.
No mercado, porém, a negativa foi vista como apenas uma primeira etapa de uma negociação que deve ganhar ainda novos capítulos. Em relatório, realizado a partir de uma conversa com Alexandre Birman, CEO da Arezzo, o Credit Suisse discorreu sobre as perspectivas relacionadas a um eventual acordo.
Além de acelerar as estratégias multicanal da Hering e de capturar sinergias de backoffice, um dos principais planos de Birman, caso a operação seja concretizada, é promover a entrada da marca na categoria de calçados.
“Nos últimos meses, a Arezzo transmitiu ao mercado uma mensagem mais agressiva sobre M&A, mas esse movimento estava totalmente fora do radar dos investidores. Agora, é hora de pensar nas próximas etapas”, escreveram os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto.
Antes da proposta pela Hering, a Arezzo, avaliada em US$ 7,81 bilhões, desembolsou R$ 715 milhões pela Reserva, em outubro do ano passado. E também criou, um mês depois, o ZZ Ventures, seu fundo de corporate venture, cuja primeira aquisição foi a Troc, startup que atua com a venda de roupas usadas.
Outro grande nome do varejo de moda que deve reforçar esse cenário de consolidação é a Renner, que tem uma oferta subsequente de ações programada para as próximas semanas, na qual deve captar até R$ 6,5 bilhões. No mercado, a expectativa é de que uma parcela significativa desse montante será destinada a aquisições.
Por esse motivo, crescem as especulações sobre os possíveis alvos dessa estratégia. Entre eles, nomes como Amaro e Dafiti. Em relatório, a XP, no entanto, apontou a C&A como o ativo que faria mais sentido para a Renner, ressaltando fatores como o fato de as duas varejistas atenderem ao mesmo perfil de público.
“A principal lacuna em que a C&A tem trabalhado é a melhora da sua operação logística, o que é uma fortaleza da Lojas Renner e que poderia ser rapidamente endereçada sob a gestão da companhia”, escreveram os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Gustavo Senday.
O trio ainda destacou desafios em relação a uma eventual integração com empresas como Marisa ou Le Lis Blanc. Pelo fato de as duas companhais atenderem públicos diferentes da Renner e por estarem passando por processos de reestruturação.