Em 24 de fevereiro, as tropas russas avançaram sobre a Ucrânia marcando o início da guerra entre os dois países. Passado exatamente um mês desde então, não há perspectivas de uma resolução para o conflito.

Entretanto, a partir desse embate, já há quem consiga enxergar um ponto final para uma questão que vai muito além das batalhas travadas no território ucraniano. Esse é o caso de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora do mundo, com US$ 10 trilhões de ativos sob gestão.

“A invasão russa na Ucrânia pôs fim à globalização que experimentamos nas últimas três décadas”, escreveu Fink, em sua carta anual dirigida aos acionistas da BlackRock, divulgada nesta quinta-feira, 24 de março.

No texto, Fink destacou que as sanções econômicas e financeiras impostas imediatamente à Rússia por diversos países foram acompanhadas com ainda mais intensidade por mercados de capitais, empresas e instituições financeiras em todo o mundo.

Já no médio e longo prazo, ele entende que a guerra irá reforçar uma tendência que havia sido exposta em dois anos de pandemia: a reavaliação do mapa global de produção por parte de empresas e governos em todo o mundo.

“Enquanto a dependência da energia russa está no centro das atenções, empresas e governos também estarão olhando mais amplamente para suas dependências de outras nações”, afirmou.

Ele observou que esse movimento pode levar algumas companhias a redistribuírem suas cadeias de produção, investindo mais em operações onshore ou nearshore, ou seja, em seus países de origem ou em mercados mais próximos.

“México, Brasil, Estados Unidos ou operações de manufatura no sudeste asiático podem se beneficiar”, escreveu Fink, ressaltando que esse cenário criará, inevitavelmente, desafios para as empresas. Entre eles, custos mais altos e pressões de margem.

“Embora os balanços patrimoniais de empresas e consumidores sejam fortes hoje em dia, dando-lhes mais proteção para enfrentar essas dificuldades, uma reorientação em larga escala das cadeias de suprimentos será inerentemente inflacionária”, frisou.

Conhecido por ser um defensor dos investimentos e das práticas de ESG, Fink também afirmou que, à medida que as empresas reavaliam suas cadeias e que os países ocidentais reduzem a dependência das commodities russas, o setor de energia sofrerá um impacto significativo.

“Em resposta ao choque energético causado pela guerra na Ucrânia, muitos países estão procurando novas fontes de energia”, afirmou. “No longo prazo, acredito que os eventos recentes realmente irão acelerar a mudança para fontes de energia mais verdes em muitas partes do mundo.”

Outro ponto abordado na carta é o impacto potencial que a guerra trará na aceleração das moedas digitais. Para Fink, esse contexto levará os países a reavaliarem suas “dependências monetárias”, dando sequência a um movimento que já vinha acontecendo antes do conflito.

Esse mesmo olhar começa a ser compartilhado pela gestora. “À medida que vemos um interesse crescente de nossos clientes, a BlackRock está estudando moedas digitais, stablecoins e as tecnologias subjacentes para entender como elas podem nos ajudar a atendê-los.”