Em 2008, no ano que estourou a crise do subprime, um dos maiores crashs econômicos da história, um caso chamou a atenção do mundo financeiro: o de Bernard Madoff, que reinava em Wall Street e aplicou um golpe de pirâmide financeira gerando um rombo de US$ 65 bilhões. Na época, descobriu-se que, deste total, US$ 300 milhões pertenciam a clientes do Safra.

Enquanto muitas instituições financeiras ao redor do mundo fugiam da responsabilidade, Joseph Safra tomou as rédeas, honrou sua "palavra" e, pouco tempo depois, o banco ressarciu 100% de seus clientes. O episódio ilustra bem a personalidade que tornou o banqueiro um dos nomes mais lendários do setor.

Até pouco tempo, cerca de um ano atrás, a admiração que o Seu José, como era mais conhecido, despertava podia ser conferida toda vez que o banqueiro, já afastado do dia a dia do Safra, se dirigia ao número 2.100 da Avenida Paulista, em São Paulo, endereço da sede da companhia.

Nessas oportunidades, na hora do almoço, sua presença transformava o ambiente no restaurante restrito ao alto escalão da empresa. “Ele mudava a atmosfera do lugar”, diz um executivo que trabalhava no Safra. “Era um clima de devoção e respeito. Eu nunca vi algo parecido com qualquer outro empresário.”

Seu José era duro, assertivo, direto e de poucas palavras, mas também, muito justo. Essas facetas vinham à tona, por exemplo, na quantidade de tempo e dedicação que ele demandava dos executivos. E das joias e presentes que enviava, a cada fim de ano, às esposas desses profissionais, em nome da empresa. Uma espécie de desculpa por exigir tanto de seus maridos.

“Ele tinha o banco na mão. Absolutamente tudo passava por ele”, conta outro executivo, que também ressalta sua obsessão por custos. “Ele fazia qualquer conta de cabeça e era sempre muito preocupado com a entrega de resultados.”

A postura cautelosa não impediu que ele liderasse movimentos audaciosos, como a compra, em 2012, do banco suíço Sarasin, por US$ 1,1 bilhão. Na época, com a aquisição, o banco dobrou o volume de ativos sob sua gestão.

Esse mesmo ímpeto veio à tona em 2014, quando ele se uniu ao empresário José Luís Cutrale para arrebatar a companhia americana Chiquita Brands, com um desembolso de US$ 1,3 bilhão.

A partir desse momento, ele começou a se afastar do dia a dia da operação. Mas antes, construiu um gigante cujos negócios passam por bancos no Brasil, nos Estados Unidos e na Suíça. Além de mais de 200 imóveis pelo mundo, incluindo o Gherkin Building, um dos mais famosos de Londres, comprado em 2014, por £ 700 milhões.

Os negócios ficaram sob a responsabilidade, então, de seus filhos. Jacob, o primogênito, ficou com a área internacional. Enquanto Alberto e David dividiram o comando do grupo no País. Mas, mesmo fora do dia a dia, Joseph seguiu sendo o dono da palavra final, em qualquer decisão.

Foi assim, por exemplo, em 2019, quando um entrevero entre seus filhos gerou a saída de Alberto do negócio. O patriarca teria interferido para que Alberto, em seu novo rumo, não criasse um concorrente direto para o banco.

Nos corredores do Safra, a leitura que muitos fizeram era de que ele não queria que se repetissem as batalhas que travou com o irmão Moise, anos antes. O imbróglio foi encerrado em 2006, quando Joseph comprou assumiu o controle total dos negócios da empresa.

Negócio de família

Desde cedo, Joseph viu despertar sua vocação para o mercado financeiro. Não era por menos. Nascido em Beirute, no Líbano, em 1938, o menino vinha de uma família de banqueiros. Entre eles, o pai, Jacob, que decidiu se mudar para o Brasil em 1952, com os oito filhos, para fugir dos conflitos entre judeus e palestinos que começavam a se intensificar na região.

Em São Paulo, poucos anos depois, Jacob fundou a financeira que daria origem ao Safra e que, anos depois, seria herdado por Joseph. À frente do negócio, ele levou a empresa ao posto de 4º maior banco privado do País.

Na esteira dessa trajetória, o empresário se tornou o brasileiro mais rico do mundo, segundo a revista Forbes, com um patrimônio estimado em R$ 119,08 bilhões. Tal fortuna lhe rendeu também o topo entre todos os banqueiros do mundo. E parte dela alimentou os projetos de filantropia mantidos por Joseph.

Na manhã de quinta-feira, 10 de dezembro, o Seu José faleceu, aos 82 anos, de causas naturais. O empresário deixou 4 filhos e 14 netos. E um legado que será lembrado não apenas nas salas e corredores do Safra, mas em todo o mercado financeiro.

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